A mostra dedicada ao artista plástico, falecido em novembro de 2020, pouco antes de completar cem anos, com obras que homenageiam escritores portugueses, como Mário de Sá-Carneiro, Fernando Pessoa e Mariana Alcoforado, estava prevista para esse ano, mas, devido às restrições da pandemia, acabou por ser adiada.
Organizada pela Fundação Cupertino Miranda, em parceria com a Delegação de Portugal na UNESCO em Paris, apoiadas pela Direção-Geral das Artes (DGArtes), a exposição é inaugurada na quinta-feira, Dia Mundial da Língua Portuguesa, às 16:00, na sala Miró, na sede da UNESCO, em Paris, onde permanecerá até 14 de maio.
Artur Manuel do Cruzeiro Seixas, nascido a 03 de dezembro de 1920, foi um dos principais representantes do Surrealismo português, um movimento artístico nascido nos inícios dos anos 1920, em Paris, que em Portugal se manifesta na década de 1940, e ao qual Cruzeiro Seixas, Mário Cesariny, Pedro Oom, António Maria Lisboa, Mário-Henrique Leiria, entre outros, aderiram.
O grupo apresentou, em Lisboa, em 1947, a primeira exposição d’Os Surrealistas, que desenham a sua obra a partir do sonho e da imaginação, sem qualquer imposição estética ou moral.
As comemorações do centenário do nascimento de Cruzeiro Seixas (1920-2020) culminaram em Lisboa, com a maior exposição do artista, reunindo 160 obras na Sociedade Nacional de Belas Artes (SNBA), entre dezembro de 2021 e fevereiro deste ano.
A mostra, intitulada “O Sentido do Encontro”, foi apresentada pela Fundação Cupertino de Miranda, juntamente com o Ministério da Cultura, em parceria com a SNBA, reunindo sete entidades que pretendem manter viva a obra e memória do artista.
A iniciativa envolveu ainda a Biblioteca Nacional de Portugal, o Centro Português de Serigrafia, o Centro de Arte Moderna — Museu Calouste Gulbenkian, e o Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado, de onde provêm as peças de Cruzeiro Seixas.
Artur Manuel do Cruzeiro Seixas morreu em 2020, apenas a 25 dias de completar o centenário do seu nascimento.
Esta exposição reuniu algumas das mais importantes obras de Cruzeiro Seixas, acedendo às diferentes técnicas desenvolvidas pelos surrealistas, especialmente o ‘cadavre-exquis’, inventado pelos surrealistas franceses em 1925, à qual os surrealistas portugueses deram continuidade, quer na expressão plástica, quer na literária.
O ‘cadrave-exquis’ foi uma técnica artística coletiva, que habitualmente usava o papel dobrado em tantas partes quantos os participantes que, sem verem o que o anterior artista desenhava, apenas pegando nalgumas linhas e formas que chegavam ao limite da dobra, tinham de lhe dar continuidade, sem qualquer limitação da imaginação.
Esta técnica afirmava-se como um “ato de liberdade” para os surrealistas, e baseava-se também no automatismo e no subconsciente, cujo resultado seria fruto do acaso para a construção de uma imagem ou de um poema visual sem o controlo da razão.
Incluiu também os seus “Diários Não Diários”, um registo de memórias, projetos e ideias, recorrendo essencialmente à colagem com fragmentos de vivências, criando um espaço de pensamento com simples alusões diárias do que se passava no seu universo pessoal e profissional.
Foi exibido o filme de Cláudia Rita Oliveira — “As Cartas do Rei Artur” – dedicado ao artista, a quem muitos chamavam mestre, e que tem sido alvo de homenagens por várias entidades, nomeadamente na sede da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), em Paris, em maio deste ano, com a mostra “Cruzeiro Seixas — Teima em ser poesia”, organizada pela Fundação Cupertino de Miranda.
O artista doou, em 1999, o seu acervo artístico à Fundação Cupertino de Miranda, em Vila Nova de Famalicão, que tem vindo a salvaguardar, exibir e publicar a obra deste nome fundamental do Surrealismo em Portugal, autor de um vasto trabalho no campo do desenho e pintura, assim como na escultura e em objetos/escultura, além da literatura, com uma extensa obra poética.
Cruzeiro Seixas teve um longo percurso artístico, começando por uma fase expressionista, outra neorrealista e outra, com início no final dos anos 1940, mais prolongada, no movimento surrealista português, ao lado de Mário Cesariny, Carlos Calvet, António Maria Lisboa, Pedro Oom e Mário-Henrique Leiria.
Foi esse movimento artístico surgido no início do século XX, que viria a revolucionar a arte, que provocou nele uma acesa paixão criadora que manteria até ao fim da vida. Em 2011, numa entrevista à agência Lusa, declarou, convicto, sobre o Movimento Surrealista: “Até hoje, nada apareceu de melhor”.
Deixou um vasto trabalho nas artes plásticas e visuais, e foi também um poeta prolífico.
Em 2020 foi lançado o segundo volume da sua “Obra Poética”, com chancela da Porto Editora, organizada por Isabel Meyrelles, outro nome essencial do surrealismo português, bem como a obra “Eu Falo em Chamas”, pela Fundação Cupertino de Miranda.
Em outubro desse ano, ainda em vida, Cruzeiro Seixas – nascido a 03 de dezembro de 1920, na Amadora – foi distinguido com a Medalha de Mérito Cultural, pelo contributo para a cultura portuguesa.
O adiamento da exposição “Cruzeiro Seixas – Teima em ser Poesia”, em Paris, faz com que coincida no tempo com a Temporada Cruzada França-Portugal, que se encontra em curso, na sequência da presidência de Portugal da União Europeia, em 2021, e da francesa, que a detém até junho.
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