A presença portuguesa no principal festival europeu de teatro faz-se também com o coreógrafo Marco da Silva Ferreira, que apresenta o espetáculo "Førms Inførms", concebido para a companhia sul-africana Via Katlehong Dance, em estreia em Avignon no domingo.
"Førms Inførms" e "Ifigénia" fazem parte da programação da Temporada Cruzada Portugal-França.
"Ifigénia" fica em cena em Avignon até dia 13, e já tem lotações esgotadas em todas as récitas, segundo a bilheteira 'online'.
Estreada no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, em 2015, na altura com encenação do próprio autor, "Ifigénia", a história da filha do rei Agamémnon, que o soberano sacrifica em nome do combate na guerra de Troia, é transposta por Tiago Rodrigues para o contexto contemporâneo dos conflitos armados e dos seus objetivos, a partir da tragédia de Eurípides.
A obra faz parte de uma trilogia dedicada aos clássicos gregos e ao mito da Casa dos Atridas, em particular. Depois de "Ifigénia", Tiago Rodrigues abordou "Agamémnon", a partir de Ésquilo, em que a morte da filha do rei de novo se impõe, com Clitemnestra, a mãe, a definir a vingança, assim como a relação e o destino das personagens que se cruzam na peça seguinte, "Electra", também inspirada em Eurípides.
A montagem de "Ifigénia", em Avignon, conta com interpretações de Carolina Amaral, Fanny Avram, João Cravo Cardoso, Alex Descas, Vincent Dissez, Mireille Herbstmeyer, Julie Moreau, Philippe Morier-Genoud e Richard Sammut, com encenação de Anne Théron.
Trata-se de uma coprodução do Théâtre National de Strasbourg, com a companhia Les Productions Merlin, o Teatro Nacional São João, do Porto, que acolherá a peça na próxima temporada, e ainda com palcos franceses de Brive-Tulle, La Roche-sur-Yon, Sud-Aquitain (Bayonne) e da Région Nouvelle-Aquitaine. Conta igualmente com o apoio do Ministério da Cultura de França e a parceria da France Télévisions.
"Ifigénia" partilha o programa de abertura desta 76.ª edição do Festival de Avignon, com a adaptação de "O Monge Negro", de Anton Tchekhov, pelo encenador e realizador Kirill Serebrennikov, o único cineasta russo selecionado para o último festival de Cannes (com o filme "Tchaikovsky's wife"), onde condenou publicamente a invasão da Ucrânia.
Há um ano, quando foi anunciada a escolha de Tiago Rodrigues para a direção do Festival de Avignon, a abertura da 75.ª edição coube à versão de "O cerejal", de Tchekhov, pelo encenador português, que então dirigia o Teatro Nacional D. Maria II.
Quanto a Marco da Silva Ferreira, apresentará no festival, nos próximos dias 10 a 17, a coreografia "Førms Inførms", como parte do díptico "Via Injabulo", a par de "Emaphakathini", do coreógrafo e bailarino franco-senegalês Amala Dianor, que a companhia Via Katlehong Dance irá interpretar.
Nascido em 1986, em Santa Maria da Feira, Marco da Silva Ferreira trabalhou com coreógrafos como Hofesh Shechter, Sylvia Rijmer, Tiago Guedes, Paulo Ribeiro e Victor Hugo Pontes. Entre 2018-2019, foi artista associado no Teatro Municipal do Porto e, de 2019 a 2021, do Centre Chorégraphique National de Caen en Normandie.
No âmbito da Temporada Cruzada, além de "Førms Inførms", Marco da Silva Ferreira assina os espetáculos "Fantasia Menor" (apresentado na Normandia e em Paris), "SIRI" (Bordéus e Porto), "Novas Conexões (Novos Links)", para os alunos do Conservatório de Paris e da Escola Superior de Dança de Lisboa, e "S/Corpos de Baile", criação conjunta com Tânia Carvalho, para a Companhia Nacional de Bailado, que irá encerrar a temporada no Théâtre de la Ville, em Paris.
"Via Injabulo" conta com coprodução do Festival Dias da Dança e do Teatro Municipal do Porto, que o acolherá em setembro, a par do Chaillot Théâtre National de la Danse e do Théâtre de la Ville de Paris, e da Maison de la Danse (Lyon), assim como do Festival de Avignon, do Théâtre de Loire Atlantique, de Nantes, da Maison des Arts de Créteil e do Espace 1789 – Scène Danse de Saint-Ouen.
Tem ainda apoio do Instituto Francês da África do Sul e do Centro Cultural Camões, em Paris.
No âmbito da Temporada Cruzada, o Festival de Avignon apresentará ainda a peça “Saigão”, da encenadora, dramaturga e realizadora francesa Caroline Guiela Nguyen, em que as personagens partilham memórias do passado colonial e da guerra, no Vietname, desde meados do século XIX.
"Saigão" esteve em cena no Teatro D. Maria II, no passado mês de abril.
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