António Pedro Lopes, codiretor do festival Tremor, explicou à agência Lusa que a organização planeou, “para fechar, só festa”, com o duo catalão ZA!, o funaná de Bulimundo, ou a pop eletrónica de Free Love.
No dia em que atuaram, também, nomes como Haley Heynderickx, Hailu Mergia e Moon Duo, houve espaço para a festa, mas também para balanços do que se passou na maior ilha do arquipélago, durante cinco dias.
“Cada edição é uma lição, e esta foi a edição da meteorologia e do impacto que ela pode ter sobre os nossos sonhos, quando pensamos atividades ou quando tomamos a ilha como um palco”, afirmou António Pedro Lopes.
Neste que é o sexto ano de Tremor, as condições meteorológicas não facilitaram, obrigando a vários cancelamentos, adiamentos e alterações no alinhamento, mas a organização foi-se “adaptando e criando condições para que a programação continuasse”, explicou o organizador.
O mau tempo começou por brindar o grupo de cerca de 80 pessoas que entrou num autocarro sem saber qual o destino, com o desembarque a acontecer na Ribeira Quente, freguesia do concelho da Povoação, para o Tremor Todo-o-Terreno.
A chuva foi uma constante para os que se aventuraram pelo trilho pedestre da Ponta do Garajau, um caminho antigo utilizado por pescadores que faz a ligação por terra entre as localidades costeiras vizinhas.
O caminho foi feito, seguindo as instruções dadas pela organização, ao som da música criada por Natalie Sharp para o trilho, ouvida nos leitores de mp3 distribuídos a cada participante.
O som ambiental criado pela artista, que já tinha atuado no festival, em 2018, como Lone Taxidermist, acompanhava o público até ao final, onde Sharp aguardava com uma performance que criou para o cenário.
O programa previa mais surpresas para o dia, com o Tremor na Estufa, que trouxe o resultado da residência artística de Pedro Lucas e dos We Sea até ao Casino das Furnas.
O concerto acabou por ser interrompido, a meio da segunda música, devido a uma falha de eletricidade, tendo mais tarde sido retomado, mas já com a sala quase vazia.
Também os Yin Yin viram a sua atuação, inicialmente prevista para o Parque Terra Nostra, ser mudada para o Casino das Furnas, para um concerto demasiado curto para o que o público pedia.
Não havia tempo para mais, mas os holandeses Yin Yin acabaram por ter a desforra e subiram novamente a palco, na quarta-feira, no Arco 8, depois de Cave, para um concerto anunciado nessa mesma noite.
A tarde de quinta-feira, já sem chuva, ficou marcada pelo concerto surpresa no parque natural da Ribeira dos Caldeirões, concelho do Nordeste, de David Bruno, o rapper gaiense que trouxe o “Último Tango em Mafamude”, álbum lançado em janeiro de 2018.
De regresso a Ponta Delgada, a meteorologia voltava a fazer das suas, obrigando ao adiamento de uma hora do concerto de Jacco Gardner, devido ao atraso no voo em que viajava o músico.
O dia seguinte começou também com a notícia de que todos aqueles que se deslocaram às 06:00 até ao aeroporto de Ponta Delgada para um salto à ilha de Santa Maria, onde iriam atuar Natalie Sharp e os Sunflowers, afinal ficariam mesmo em São Miguel, já que o nevoeiro ditou o cancelamento do voo.
Na tarde de sexta-feira, o Tremor na Estufa do dia levou o público até à Casa do Espírito Santo da Irmandade da Beneficência, na freguesia de Rabo de Peixe, concelho da Ribeira Grande, onde foi inaugurada a exposição fotográfica de Rubén Monfort, que retrata as despensas de Rabo de Peixe, uma dança tradicional da freguesia, acompanhada por violas, acordeões e castanholas.
A exposição foi o mote para o momento que se seguiu: a atuação de três grupos de despensas de Rabo de Peixe, que desfilaram pela rua até à Casa do Espírito Santo, onde o grupo da Irmandade da Beneficência atuou com os catalães ZA!, criando um momento que “é muito o espírito do que o festival propõe, esse cruzamento, esse choque, esse encontro”, destacou António Pedro Lopes.
“Acho que é para isso que isto serve”, acrescentou.
A programação prosseguiu noite dentro na cidade da Ribeira Grande, com concertos no Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas, no Teatro Ribeiragrandense e no Museu Vivo do Franciscanismo, por onde passaram nomes como Lula Pena, Lafawndah e Teto Preto.
No sábado, como já é habitual, o palco foi Ponta Delgada, com concertos em vários pontos de interesse da cidade.
Num festival em que o “cabeça de cartaz é a ilha”, os destaques vão para os concertos surpresa do Tremor na Estufa, ou as experiências como o Tremor Todo-o-Terreno ou o Instytut B61 – Interstelar SUGAR Center, uma experiência imersiva que leva os participantes numa visita à origem das estrelas.
Para António Pedro Lopes, o melhor do festival acontece “quando, não só mostra a ilha, mas também envolve as pessoas da ilha, fala sobre as narrativas, as tradições da ilha. Quando isso tudo junto acontece, é mágico”.
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