“Compaixão foi o ponto de vista que quisemos aplicar a uma situação muito complicada”, afirmou Branagh, que desenvolveu a história com base na sua memória do início dos confrontos violentos conhecidos como The Troubles, que opuseram protestantes unionistas e católicos nacionalistas no final da década de sessenta.
“Olhamos para a situação através do Buddy, de 9 anos, e é uma posição muito humana através da qual observamos uma família a lidar com eventos para os quais não estamos preparados para lidar”, descreveu o autor.
O filme tem como protagonistas Jamie Dornan, Caitriona Balfe, Jude Hill, Judy Dench e Ciarán Hinds, e tem sido aclamado pela crítica, com várias nomeações e vitórias na temporada de prémios do cinema.
“Quando li o argumento, pareceu-me que a essência do que ele tinha captado era uma verdade muito profunda de uma cultura e de um povo”, disse o ator Ciarán Hinds, que interpreta o avô de Buddy no filme. “Foi como se tivéssemos escorregado de forma muito gentil para uma outra era, um outro tempo”.
O ator descreveu como “uma experiência mágica” trabalhar com Kenneth Branagh, que fez um filme quase autobiográfico com uma dose simultânea de nostalgia e assombro. “Sentimo-nos rodeados dos fantasmas dos nossos antepassados, os espíritos de onde viemos”, disse Ciáran Hinds.
Jamie Dornan também elogiou o trabalho do realizador, que deu aos atores a capacidade de se submergirem num filme de época — filmado a preto e branco — de forma orgânica.
Situado em 1968, no início do conflito, “Belfast” não aborda diretamente a complexidade do que está em causa. Kenneth Branagh explicou que a sua intenção foi mostrar o desenrolar da violência de um ponto de vista familiar.
“São eventos políticos e sociais avassaladores, um período muito traumático para a Irlanda do Norte que durou trinta anos e ninguém sabia quanto tempo ia durar”, disse o realizador, lembrando que morreram 3700 pessoas durante o conflito. “Foi profundamente trágico e doloroso”, descreveu.
O filme “tenta entender” um pouco disso sem endereçar o principal problema. “Em vez disso, tenta focar nos mecanismos usados para enfrentar a situação, e as pequenas formas como uma família normal lidou com estas dificuldades e pôs um pé à frente do outro”, disse Branagh. “Podemos aprender com estas histórias”.
Uma grande parte do dilema é mostrada pela personagem de Caitriona Balfe, que interpreta a mãe de Buddy e não é apenas uma figura secundária.
“Muitas vezes as personagens femininas são relegadas para segundo plano e não é prestada tanta atenção à enormidade do seu predicamento”, disse a atriz, no mesmo evento. “O que o Kenneth fez bem foi capturar o papel da mãe e de tudo o que ela estava a passar, o problema familiar com que lidava, como é que mantinha os rapazes em segurança e a sua relação com o marido”, sublinhou.
A personagem enfrenta também uma batalha pessoal com os medos do desconhecido. “O que gostei foi da sua ferocidade como mãe, ao ver este local que sempre olhou como a sua rede de segurança, a sua casa, as suas ruas, a virar-se contra ela”, descreveu Caitriona Balfe.
“Mas isso era suplantado pelo facto de que ela não se conseguia imaginar em mais lado nenhum”, continuou. O papel teve um cunho pessoal para a atriz irlandesa, que em criança viu como a sua própria mãe sofreu quando teve de se mudar para longe da família alargada.
“Belfast”, que ganhou o Globo de Ouro para Melhor Argumento no início de janeiro, está nomeado para vários BAFTA, SAG Awards, Critics Choice Awards e é um dos fortes contendores às nomeações para os Óscares, os prémios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas que são os mais cobiçados em Hollywood.
A estreia em sala, em Portugal, está prevista para o próximo dia 22 de fevereiro.
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