“Este prémio representa toda uma história, toda uma dedicação destes movimentos em Portugal e dos trabalhadores em geral que têm feito uma trajetória muito importante. É o resultado de todo um processo em Portugal que tem motivado os trabalhadores em envolverem-se nestas questões ambientais, sociais e até de saúde dos seus trabalhadores”, considerou o ex-mineiro.
António Minhoto, em declarações à agência Lusa, disse que este prémio de Honra que também lhe foi atribuído e o de melhor filme na categoria Pesquisa de Arquivo para o documentário sobre as minas ‘Cem anos de Urgeiriça’ “deu uma imagem internacional importante sobre a exploração de urânio a nível mundial”.
“Portugal tem, e este festival mostrou, uma grande importância, porque temos um grande papel de introdução de exploração e das difusões a nível mundial e também no nuclear. Portugal foi o primeiro a contribuir com urânio para a criação da bomba nuclear”, contou.
Este ex-mineiro, nascido em 1952, criou a associação ambientalista Ambiente em Zonas Uraníferas (AZU) e a Associação dos Antigos Trabalhadores das Minas da Urgeiriça (ATMU), cuja missão é lutar em prol dos direitos de quem trabalhou na exploração do urânio e integra também o MIA – Movimento Ibérico Anti-Nuclear.
Um prémio, diz, que a organização atribuiu pela luta que tem travado nas últimas três décadas em prol da compensação dos trabalhadores e das suas famílias e para a recuperação ambiental das minas de urânio da Urgeiriça que se situam na freguesia de Canas de Senhorim, concelho de Nelas, distrito de Viseu.
“Não esperava ter esta honra em nome de Portugal, que contou com a presença da embaixada portuguesa e do governo alemão nesta distinção que me deixou, de facto, orgulhoso e, como representante desta causa, alargo esta honra a todos que têm contribuído”, disse António Minhoto.
Apesar de já ter visto o seu trabalho reconhecido pela Assembleia da República, António Minhoto não esconde que esta menção internacional “tem um significado mais amplo” e acaba por ser “um estímulo para uma causa que está a ganhar cada vez mais interesse”, porque, diz, “não é alternativa a questão do nuclear”.
No seu entender, “é preciso lutar, é preciso ser persistente, é preciso acreditar” e o acreditar para António Minhoto vai no sentido de “defender a criação, em Portugal, que fez exploração do urânio, de um Museu Mineiro”.
“Temos aqui um passivo importante de conhecimento na área social e na área de recuperação ambiental e isso é reconhecido neste prémio que não é atribuído a António Minhoto, é um prémio que é atribuído a todo este processo, a todo este movimento, a toda esta postura desta família mineira e de todas estas associações que estão obviamente associadas”, referiu.
O outro destaque no Festival Internacional do Rio de Filmes sobre Urânio foi para o documentário “Cem Anos de Urgeiriça” que recebeu o prémio de Melhor Filme na categoria de Pesquisa de Arquivo, do realizador escocês Ramsay Cameron.
Segundo a diretora da organização do festival, Ramsay Cameron “usou um rico material de arquivo e depoimentos, revelando a importante participação da mina de urânio no programa das primeiras bombas nucleares dos EUA e da Inglaterra” e foi feito a propósito do centenário das minas, 1915-2015.
“É um filme excelente para abrir os nossos olhos sobre a história desta mina de Urânio no centro-norte de Portugal, que é uma das mais antigas do mundo e que foi explorada primeiro pelos ingleses para fornecer radio para o laboratório de Marie Curie e depois com participação do governo dos Estados Unidos para o Programa Manhattan”, acrescentou Márcia Gomes de Oliveira.
Um filme que, no entender de António Minhoto, “é um bom contributo, apesar de ter algumas limitações, porque resume-se muito ao que foi o tempo dos ingleses e à bomba atómica e não se resume depois no que foi o sacrifício dos mineiros, no passivo ambiental na questão humana e todo este processo que faz a história, porque a história não pode ser cortada ao meio”.
“Só por si o filme não ganhava esse prémio, o prémio do filme, na nossa ótica, vem também deste trabalho todo que estive aqui a relatar e ele é um culminar de todas estas conjugações, de todos estes processos: é a nossa exposição, é a nossa luta, é o nosso trabalho junto do MIA, do qual também faço parte, que dá força também para que este filme seja reconhecido”, considerou António Minhoto.
O International Uranium Film Festival Rio foi criado em 2010, no Rio de Janeiro.
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