O brasileiro Itamar Vieira Junior arrecadou o primeiro lugar do Prémio Oceanos 2020, com o romance "Torto Arado". Há dois anos, o escritor tinha sido galardoado com o Prémio LeYa e, já este ano, com o Prémio Jabuti de Literatura.
"Torto arado é uma história de amor à terra que me foi narrada muitas vezes, por conta de meu trabalho como servidor [público], com camponeses, trabalhadores rurais, quilombolas, indígenas, assentados, acampados, ribeirinhos e comunidades tradicionais como um todo, ao longo de 15 anos", destacou o autor vencedor, num vídeo enviado ao Oceanos, que teve a cerimónia transmitida virtualmente devido à pandemia de covid-19.
"Cada comunidade elabora esse sentimento em relação à terra de forma diferente, mas que atravessa suas vidas de uma maneira comum. (...) Este livro é um retrato - o meu retrato - do Brasil deste tempo em que vivo, um Brasil que tem uma profunda conexão, ainda, com o seu passado mal resolvido", acrescentou Itamar Vieira Junior.
Segundo a professora, crítica literária e jurada portuguesa Joana Matos Frias, presente na cerimónia virtual de apresentação dos vencedores, "Torto arado é um romance raro e arrebatador por ser ao mesmo tempo absolutamente local e absolutamente universal".
O segundo lugar do prémio foi para o romance "A visão das plantas", da portuguesa nascida em Angola Djaimilia Pereira de Almeida, editado em Portugal pela Relógio D'Água.
A escritora também venceu a edição 2019 do prémio com o romance "Luanda, Lisboa, Paraíso".
Inocência Mata, uma das juradas do Oceanos destacou que a obra de Djaimilia Pereira de Almeida é "uma história em que representações da não-humanidade [as plantas, as flores, os frutos, os animais] surgem como possibilidade redentora da condição humana".
O terceiro lugar ficou para "Carta à rainha louca", da brasileira Maria Valéria Rezende, publicado no Brasil pela editora Alfaguara.
Além dos três autores vencedores, estavam entre os finalistas os romances "A cidade inexistente", de José Rezende Jr, "A ocupação", de Julián Fuks , "As durações da casa", de Julia de Souza, "As solas dos pés de meu avô, de Tiago D. Oliveira, "Autobiografia", de José Luís Peixoto, "Obnóxio", de Abel Barros Baptista e "Sombrio ermo turvo", de Veronica Stigger.
O júri final, responsável pela leitura e avaliação dos 10 finalistas, que elege os três vencedores, era composto pelos professores portugueses Joana Matos Frias e Carlos Mendes de Sousa, pela professora santomense Inocência Mata, pela poeta brasileira Angélica Freitas e pelos professores brasileiros João Cezar de Castro Rocha e Viviana Bosi.
O Oceanos é realizado em três etapas de votação até chegar aos vencedores. Ao todo, foram 6.064 leituras realizadas pelos três júris que se sucederam na seleção de semifinalistas, finalistas e vencedores.
O valor total do Prémio Oceanos soma 250 mil reais (cerca de 40 mil euros ao câmbio atual). O autor do livro vencedor receberá 120 mil reais (19,2 mil euros), o segundo 80 mil reais (12,8 mil euros) e o terceiro 50 mil reais (08 mil euros).
O Prémio Oceanos conta com os patrocínios do Banco Itaú e da República de Portugal, o apoio do Itaú Cultural, responsável também pela governança do prémio, e do Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas de Cabo Verde, além do apoio institucional da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
O livro "Torto Arado" está editado em Portugal pela LeYa desde 2019 e conta a história de Bibiana e Belonísia, filhas de trabalhadores de uma fazenda no Sertão da Bahia.
Itamar nasceu em Salvador, Bahia, local onde vive. É geógrafo e doutor em Estudos Étnicos e Africanos, em que estudou a formação de comunidades quilombolas no interior do Nordeste brasileiro.
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