Há mais de 20 anos que os heróis da Marvel são reconhecidos em grandes filmes de ação e fantasia. O envolvimento com personagens icónicas como Hulk, Thor e Spider-Man contagiou várias gerações e foi reforçado, ao longo dos últimos anos, graças às sequelas e filmes que se entrelaçam e relacionam. A Walt Disney, casa-mãe atual da Marvel, não poupou esforços para garantir a cada três meses um potencial sucesso de bilheteira. Do outro lado do ringue, está a DC Comics e as suas inúmeras tentativas de lançar um universo de super-heróis para as salas de cinema mundiais, com grandes êxitos como as incansáveis sagas de Batman e Super-Homem, e grandes flops comerciais como Green Lantern, Watchmen e agora… Justice League, que estreou no passado dia 18 de novembro, e tem dado que falar entre os críticos de cinema a nível mundial. Com uma fórmula que parece imbatível (Batman, Super-Homem, Wonder Woman, Flash e Cyborg), as expectativas dos fãs estavam bem altas, mas o resultado final é bastante questionável.
A primeira metade do filme é a introdução às personagens. Passaram-se alguns meses desde o afastamento de Super-Homem, e Bruce Wayne, também conhecido como Batman, juntamente com Diana Prince (ou Wonder Woman) estão sozinhos na luta contra os vilões de Gotham. Como se não bastasse, o super vilão Steppenwolf, que na verdade é um deus com um exército de parademónios (ou mosquitos gigantes?), decide aproveitar a ausência de Super-Homem para invadir o planeta Terra. E é aí que Diana e Bruce decidem recrutar uma equipa de pessoas especiais para os ajudar a combatê-los. Normalmente, em filmes de super-heróis, esta é a parte mais divertida, onde os conhecemos e observamos os superpoderes de cada um em ação. No entanto, em Justice League, a introdução parece demorar demasiado tempo e a transição entre cenas não é suave. Talvez seja um problema de edição do filme, dado o curto espaço de tempo que teve para pós-produção, mas ainda assim fica a sensação de que cada cena é individual, e que os diálogos são pouco profundos e não conferem qualquer emoção.
Passada a fase de introdução, Diana explica-nos os motivos da invasão de Steppenwolf, que em tempos históricos tentou conquistar a Terra, mas foi travado pelos exércitos das Amazonas, dos seres de Atlantis e dos Homens. Talvez o vilão escolhido não tenha sido a melhor opção. Primeiro, se foram anteriormente necessários três exércitos para o enfrentar, como é que é suposto 5 indivíduos, dos quais apenas três têm algum treino em combate, darem sequer luta a um ser tão poderoso? Já a segunda objeção, é meramente técnica. Dado o avanço da tecnologia nos últimos anos, os filmes de ficção científica tornaram-se extremamente realistas. Monstros como em Pacific Rim, Alien ou Star Trek e mundos inteiramente imaginados como em Avatar passam despercebidos graças à subtileza gráfica que as imagens computadorizadas têm hoje em dia. Em Justice League isso não acontece, o que prejudica o resultado final, dado que a maior parte do filme e dos cenários são gerados em computador, inclusive o super vilão, altamente irrealista, Steppenwolf.
A dimensão dos vilões é talvez uma das razões pela qual a DC Comics não tem conseguido o mesmo alcance que os filmes da Marvel. Excluindo os fantásticos filmes de Christopher Nolan para a saga de Batman na década passada, os vilões da DC Comics tendem a ser demasiado irreais ou fora deste planeta, e por não terem a aproximação à realidade que, por exemplo, Ivan Vanko em Iron Man 2 ou Magneto na saga X-Men têm, torna-se mais difícil para a audiência conseguir relacionar-se com a história. Assim, até as cenas de luta se torna pouco credíveis quando Aquaman (alguém percebeu quais são exatamente os seus poderes?) ou Batman (cujo super-poder é a carteira) atacam um super-deus e esperam gerar algum efeito. Além da inconsistência dos heróis e dos efeitos visuais, também desta vez o grande compositor Danny Elfman não fez um bom trabalho ao ajustar a música à ação.
Há poucas surpresas em Justice League, muitos erros de produção e uma fraca direção por parte de Zack Snyder. É certo que as circunstâncias também não foram as mais adequadas, dado o trágico incidente que se sucedeu com a filha do realizador, tendo acabado por ser substituído por Joss Whedon (o realizador de Avengers) para filmar cerca de 20% do filme. O problema da realização contribui para o pano de remendos que é a estrutura de Justice League e para a má cotação que tem recebido por praticamente todos os jornais a nível global. É estranho pensar como é que uma empresa com tantos meios disponíveis, e com um orçamento de 300 milhões de dólares não consegue criar algo mais sustentável para a sua reputação.
De qualquer modo, Justice League tem sido um dos filmes mais vistos nas últimas duas semanas e parece estar no bom caminho para retomar o largo investimento que foi feito. Com mais três filmes a estrear nos próximos dois anos, a questão que se coloca agora é: o que devemos esperar da DC Comics?
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