Sendo natural de Viseu, não posso esquecer que é na zona de Aveiro que resido há mais de uma década. Digo Aveiro e não me quero focar na cidade, mas sim na região, e como tal, tomo como referência os conhecimentos adquiridos nas experiências dentro e fora da capital do distrito.
Numa das minhas viagens a Madrid, quando aterro no aeroporto de Barajas, alguém me pergunta:
- De onde és?
E eu respondo
- De Portugal!
E essa mesma pessoa volta a perguntar:
- Sim, mas de que zona?
E eu respondo:
- Sou de Aveiro.
E do outro lado ouço:
- Ahhhhhhh! A Veneza de Portugal?
Bem! Confesso que senti algum ardor de estômago nesse instante, pois sempre considerei que tudo deve ter uma identidade e que não deve ter relação de comparação. Mas tudo passou quando o meu interlocutor disse:
-É lá que eu passo férias e que faço praia!
Nesse instante, senti o meu estômago a regular a acidez, e respondi:
- As praias são magnificas, não são?
E ele:
- Sim … mas não é só por isso. É que a praia da Barra (e considera-se que não é Aveiro, mas sim Ílhavo) é a mais próxima que temos de Madrid.
Nesse momento percebi o que significa o factor poder e impacto.
Resumidamente: eu residia do litoral mais próximo do centro da Península Ibérica. Bastaria isto para dizer que Aveiro talvez seja o centro do desejo turístico para "nuestros hermanos".
E no meio da conversa naquele aeroporto percebi que afinal estaria mesmo domiciliado num pequeno paraíso carregado de pontos fortes e cheio de oportunidades (não querendo ser bairrista) à "beira mar” plantado .
Vejamos a minha reflexão:
Aveiro, e refiro-me à zona, não me interpretem mal, até porque na realidade não estamos limitados no que toca aos usos e costumes a realizar a nossa vida apenas nos limites do nosso código postal. Mas continuemos, e vejamos onde afinal é fantástico Aveiro.
Começando por coisas práticas. Devido à competitividade comercial, temos os combustíveis mais baratos de Portugal. Temos tanto comércio que chegamos a ter dois hipermercados concorrentes no mesmo terreno.
Tenho alguma dificuldade em adjectivar esta vantagem, mas é evidente que demoro menos tempo a chegar de Aveiro ao Porto (Campanhã) de comboio, do que do Porto (Campanhã) ao Aeroporto Francisco Sá Carneiro de metro.
Por Aveiro, passam quatro auto-estradas. Uns dizem que são muitas, outros sugerem a construção de outras mais. A verdade é que estamos ligados de norte a sul e até à Europa, para além de uma rota marítima para o mundo a partir do Porto Marítimo de Aveiro.
A nossa rede de cuidados de saúde é tão dinâmica, que, desde o momento que começou a ler este artigo já devem ter aberto mais cinco clínicas e devem ter sido solicitadas autorizações para abertura de mais outros tantos hospitais privados.
Aveiro é a cidade da indústria, da celulose à tecnologia, das comunicações à indústria automóvel passando pelas energias renováveis, estão aqui localizadas as empresas que servem de estudos a qualquer MBA de qualquer universidade do mundo. E já que falamos em universidade, Aveiro possui no seu âmago uma das melhores universidades do mundo, das Ciências às Tecnologias, das Artes ao Design, passando pelo reconhecimento na Física, Química, Educação até às Ciências da Saúde, a Universidade de Aveiro já assume um papel de elevado respeito no tecido académico mundial.
Mas não é só com a universidade que Aveiro afirma uma posição forte na educação e na formação. Sedia também em Aveiro a maior escola profissional do país, que assina diariamente uma posição de inovação e diferenciação na formação e no potencial humano de uma região e de um país.
Além da proximidade ao mar, temos fortes medidas estratégicas que resultam em zonas de biodiversidade protegidas de livre acesso que nos proporcionam momentos de lazer e instrução. E já que falamos da natureza, não podemos esquecer a Ria, a fauna e flora únicas e fonte de rendimento para uma grande parte de Aveiro, para além de encantar com o seu ecossistema e fazer embarcar cada um de nós em experiências únicas na sua exploração e visita.
Ao falar na Ria, não podia deixar de falar na produção do sal, esta, leva-nos às salinas, que além do seu produto, oferecem-nos um dos melhores cenários para ver um por do sol inesquecível. Também não nos podemos esquecer do resultado da interpretação cultural e etnográfica que se traduzem em museus que nos aproximam da vida na região desde a terra até ao mar. Sim, mar! Temos a cinco minutos do centro de Aveiro (em Ílhavo) o museu marítimo, que além de um exemplar trabalho de interpretação da fauna da região, nos permite observar várias espécies de bacalhaus vivos. A outros cinco minutos do centro, temos o museu Barco Sto. André, um bacalhoeiro carregado de histórias visíveis de suor, esforço e dificuldade relativas à pesca do bacalhau nas águas nórdicas.
E eis que chegámos ao bacalhau e vamos ter falar da gastronomia. Além deste fiel amigo, temos nos cardápios da região as famosas enguias, passando pela lampreia até ao famoso Leitão, bandeira da Bairrada, este mesmo que acompanha com os sabores vinícolas da região, os famosos vinhos espumantes. Óbvio será dizer que acabamos a refeição com os famosos ovos moles que hoje dão sabor a muitas outras iguarias, que vão das famosas tripas aos tentadores gelados de Portugal.
Mas Aveiro também é cerâmica, e não me refiro à Bienal, mas sim à sua indústria e artesanato. Na região temos das mais representativas indústrias cerâmicas de Portugal e outras líderes em todo o mundo. Aveiro é inovação, design e tecnologias dos pavimentos e revestimentos aos sanitários, Aveiro é porcelana.
Aveiro é cultura, com extraordinárias salas de espectáculos com cartazes e agendas de excelência. Aveiro é televisão e cinema, sim, tem sido nos últimos anos cenário de várias produções audiovisuais e ganhou inclusive prémios de melhor filme de turismo em festivais internacionais.
Viver em Aveiro é viver um presente com esperança num futuro carregado de uma passado cheio de historia. É viver numa cidade que percebe que os jovens são prioridade, numa cultura e sociedade preocupada com a qualidade de vida para um envelhecimento verdadeiramente activo.
Aveiro é referência no empreendedorismo, jovens com vontade de inovar, diferenciar e competir que escolhem Aveiro para o fazerem. Talvez estejam os acessos aos capitais de risco ou até mesmo a universidade nos bastidores desta tendência, mas a verdade é que Aveiro está a deixar marcas no panorama das startups nacionais e mundiais.
Aveiro é tecnologias, aqui nasceu o SAPO, sem o qual não estaríamos a ler este artigo.
Será este um dos motivos pelos quais Aveiro tem uma das menores taxas de desemprego do país?
Mas, e tem de haver sempre um mas… Não é fácil chegar a Aveiro, a menos que não esteja nos nossos planos poupar, pois, é semelhante a uma Baja. A tentativa de chegarmos ao centro sem passarmos pelos pórticos de portagens é árdua. Chego mesmo a questionar se é por causa de tantas qualidades que se justifica o pagamento de entrada numa das mais atraentes e sedutoras cidades de Portugal?
E para todos os amantes do desporto-rei, falta-nos, talvez, a subida do Beira-Mar à 1ª divisão. “Talvez” resultasse numa vida útil a do estádio de que se degrada de dia para dia visível a todos aqueles que entram na nossa cidade pela Zona Norte.
Esta é uma opinião de alguém que não é natural de Aveiro, mas que acima de tudo reconhece o esforço e dedicação de todos aqueles que aqui vivem e trabalham e que, acima de tudo, nos fazem suspirar quando alguém fora do nosso país fala de Aveiro com um brilho nos olhos.
Hugo Miguel Carvalho é docente, investigador, empresário.
A Minha Terra é uma rubrica especial do SAPO 24 em que várias pessoas são convidadas a falar da sua terra, "à boleia" das eleições autárquicas do próximo dia 1 de outubro de 2017.
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