Com o ator brasileiro Chico Diaz, na interpretação do papel principal, do heterónimo de Fernando Pessoa (Ricardo Reis), além de Luís Lima Barreto (Fernando Pessoa), Victoria Guerra (Marcenda) e Catarina Wallenstein (Lídia), o filme passa-se em Lisboa, em 1936, ano em que o médico Ricardo Reis regressa do autoexílio de mais de uma década no Brasil.
Na obra original, o Prémio Nobel da Literatura concebe um encontro do já falecido poeta, Fernando Pessoa, com o seu heterónimo, numa altura em que na Europa se afirmam o fascismo de Mussolini, o nazismo de Hitler, o Estado Novo de Salazar, e tem início a guerra civil espanhola.
Poeta e heterónimo são lúcidos observadores de um tempo “tão similar ao que vivemos”, de acordo com a sinopse do filme, “onde ascendem os populismos e os totalitarismos”, mas na sua relação intrometem-se as duas personagens femininas, “paixões platónicas, carnais e impossíveis” de Ricardo Reis.
As antestreias do filme, rodado a preto e branco, por decisão do realizador, para criar “um ambiente verosímil, onde os personagens se vão movendo, aflitos ou entusiasmados”, terão lugar em 20 de setembro, no Teatro Nacional São João, no Porto, e, no dia seguinte, no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa.
No Caminho José Saramago, no CCB, estará também uma exposição ao ar livre, que será inaugurada em 15 de setembro na Fundação José Saramago, composta por materiais gráficos do filme e da famosa agenda do escritor português, elaborada pelo próprio a partir da sua própria investigação na Biblioteca Nacional sobre a imprensa de 1936, que serviram de base para a trama da obra literária.
“Será uma oportunidade de confrontarmos as anotações de José Saramago com os jornais da época”, refere o comunicado enviado hoje à agência Lusa.
Em entrevista à Lusa, em abril de 2019, no início da rodagem, em Coimbra, João Botelho afirmou que a obra de José Saramago, na qual é baseada o filme que chega às salas em outubro, ganha uma nova urgência com o regresso dos populismos.
“Eu acho que, nos tempos que correm, estamos a viver umas épocas muito parecidas, muito estranhas, com o regresso dos populismos, nacionalismos, guerras religiosas em que parece que estamos na Idade Média e este texto é atual”, disse João Botelho.
O realizador reconheceu, igualmente, que é um “risco” trabalhar uma obra que é também ela um “ato de coragem” de José Saramago, ao evocar Fernando Pessoa e Ricardo Reis, aproveitando o facto de o poeta não ter deixado uma data de morte do seu heterónimo.
A adaptação da obra ao cinema é “mais ou menos rigorosa” e o texto assume-se como “a coisa mais importante do filme”, referiu o cineasta.
“É dos romances mais engraçados do ponto de vista da Língua. [Saramago] pegou no Pessoa e a Língua Portuguesa é levada ao extremo da formulação, em vários estratos sociais, a do Pessoa, a do Ricardo Reis, a da Lídia [empregada no hotel]”, observou o realizador.
“O Ano da Morte de Ricardo Reis” é distribuído pela NOS Audiovisuais.
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