O "Pebble Beach Concours d"Elegance" reúne 200 dos coleccionadores de automóveis mais premiados, do mundo que todos os anos vão orgulhosamente mostrar ao publico e ao exigente júri as suas "jóias" do restauro automóvel. Os proprietários gastam anos de trabalho e autênticas fortunas para conseguirem ter um carro premiado.
E será depois do desfile no 18º buraco do campo de golfe (apelidado pelos concorrentes como "the best finishing hole in golf") que hoje será conhecido o vencedor deste ano.
Competindo com as vedetas habituais - Ferraris, Lamborghinis, e uma reunião de modelos do Ford GT - a BMW leva este ano ao desfile um carro muito especial.Trata -se de um singelo roadster dos anos 50, o BMW 507. Dois lugares, "apenas" 150 cavalos de potência debitados por um motor V8 de 3.2 litros e 205 kms hora de velocidade máxima. Mas estes não são os números que interessam. Neste carro em concreto o número mágico é o 70079, e está escrito no chassi. E o que é que tem de especial?
Pois bem, o BMW modelo 507 com o número 70079, pertenceu a Elvis Presley. Comprado na Alemanha no tempo em que o rei ali cumpriu o serviço militar obrigatório e também conheceu a sua futura mulher, Priscilla, que acompanhava a mãe e o padrasto, um oficial da força aérea americana. O carro do rei do rock esteve desaparecido quase 50 anos até que foi descoberto na garagem de um coleccionador na Califórnia. Depois de quase dois anos de restauro no departamento de clássicos da BMW, volta a rodar para se estrear no "Pebble Beach Concours d"Elegance".
O "BM" do Jack que o rei usou na tropa
A BMW só produziu 254 automóveis do modelo 507, entre os anos de 1955 e 1959. O que fazia do carro já por si uma raridade. O 507 de Elvis Presley foi comprado em Frankfurt por impulso depois de fazer um test drive. O carro tinha sido usado em competições por um corredor conhecido na altura como "hillclimb champion" de seu nome Hans Stuck, que tinha feito algumas modificações ao modelo original, nomeadamente uma caixa de velocidades nova.
O jovem soldado Elvis, então com 23 anos, já era uma estrela reconhecida a as fãs deixavam beijos e mensagens escritas com baton na pintura branca do carro. É por isso que Elvis decide pintá-lo de vermelho para "disfarçar".
Em 1960, depois do serviço militar cumprido, o carro foi despachado para os Estados Unidos, mas poucos meses depois foi vendido em Nova Iorque por 4500 dólares ao animador de rádio Tommy Charles que leva o 507 para a sua terra natal, Birmingham, no estado da Alabama - e o pequeno carro agora vermelho volta às pistas. É-lhe mudado o motor, caixa de velocidades, eixo traseiro, painel de instrumentos e tem um gloriosa segunda vida nas corridas. Em 1963 é de novo vendido com tantas modificações que já quase só o número 70079 lembrava que era o carro do rei do rock.
Mais duas mudanças de dono e em 1968, o 507 vai para a Califórnia e passa a ser o carro de todos os dias de um engenheiro espacial, Jack Castor, colecionador de bicicletas e de carros antigos. Os anos passam e o 507 junta-se à restante coleção na garagem.
Jack foi colecionando informações e peças originais do 507 como o intuito de o restaurar, até que um dia, ao ler um artigo na revista "Bimmer" sobre o carro de Hans Stuck e depois de Elvis, resolveu escrever à jornalista Jackie Jouretcarrium que assinava o artigo a dizer que tinha um BMW 507 e com número de série 70079.
O departamento de clássicos da casa mãe da BMW há muito que procurava o carro do Elvis e quando a jornalista os informou que o carro estava na Califórnia, a BMW quis imediatamente adquiri-lo. Mas o engenheiro espacial tinha planos para o 507 e não o vendeu logo; foram necessários vários anos de namoro até que Jack aceitasse a proposta dos alemães, com a condição que o restauro fosse executado com todo o rigor como ele planeara fazer, embora a idade avançada já não lhe permitisse.
Finalmente, o carro volta para a Alemanha, em 2014, num contentor juntamente com as peças originais que Jack tinha vindo a colecionar, e depois de uma breve passagem pelo museu da BMW, numa exposição intitulada, "Elvis" BMW 507 – Perdido e Achado", começa o enorme trabalho de restauro, que leva quase dois anos. Para chegar à versão original de 1958.
O carro foi totalmente desmanchado e foram recuperadas todas a peças originais que estavam em bom estado. As partes que não se conseguiram recuperar foram feitas do zero, com o método dos anos 50 e tecnologia de ponta a ajudar. Os puxadores da portas foram impressos em 3D com base na digitalização tridimensional dos originais e a pele e a costura dos bancos coincide com as fotografias de 1955. O motor e a suspensão foram reconstruídos e a pintura voltou a ser o branco original.
Todo o restauro foi executado conforme as indicações do Jack. Embora ele não tenha chegado a ver resultado final, porque faleceu no final de 2014 com setenta e sete anos. Se este carro foi do rei o grande legado que ficará do 507 será o de Jack Castor que cuidou e preservou a jóia da coroa durante tantos e anos, sem saber a quem tinha pertencido antes.
E agora graças aos investimentos no restauro que a BMW Classics fez, hoje será possível a outros donos deste modelo, encomendar peças que entretanto foram produzidas para o 507.
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