A teoria da relatividade de Einstein contrariou as leis de Newton em que o tempo e o espaço teriam dimensões absolutas, introduzindo a ideia de que estes poderiam ser diferentes num mesmo contexto dependendo de quem o observa. Imagine agora o mundo há 90 anos. A ideologia nazi alastrava na sociedade alemã e Hitler conquistava mais poder no Reichstag. As liberdades, que supostamente tinham sido salvaguardadas após a Primeira Guerra Mundial, estavam novamente a ser postas em causa e pairava uma preocupação geral com a possibilidade de um segundo confronto global.
É este o contexto em que estava Albert Einstein, que mesmo depois de toda a reputação e reconhecimento ganhos com a introdução da teoria da relatividade, se tinha tornado um dos principais alvos do movimento antissemita nazi por ser judeu. E é neste período que arranca o primeiro episódio da série Genius, realizada por Ron Howard que volta a contar a história de um génio 15 anos depois de ter sido premiado com dois Óscares por Uma Mente Brilhante. A história começa em ziguezage entre a vida adulta de Einstein, protagonizado por Geoffrey Rush (Capitão Barbossa em Piratas das Caraíbas) e a sua juventude, interpretado pelo ator Johnny Flynn (protagonista de Lovesick da Netflix).
O Einstein adulto leva-nos ao palco da Alemanha nazi e das repercussões das ações do movimento de Hitler aos olhos daquele que foi considerado a pessoa mais importante do século XX. O jovem Einstein apresenta-nos o cientista de forma mais introspectiva, um miúdo não tão diferente dos outros, as suas dúvidas vocacionais e os problemas que enfrentava com a educação da época.
A série é especialmente feliz na conjugação destes dois Einsteins e destes dois mundos. E não deixa de ser curioso que nos empurre para uma mesma conclusão: nem o mundo mudou assim tanto nos últimos cem anos, face nomeadamente à situação política e económica atual, nem a juventude. Com o jovem Einstein, Ron Howard conta-nos uma história em que a juventude é mais igual que diferente para todos, até para os génios, assumindo a irreverência, curiosidade e conflito entre aquilo que somos bons e aquilo que queremos fazer como dilemas comuns a qualquer jovem.
Neste episódio conhecemos assim Einstein como professor a viver em Berlim com a sua segunda mulher Elsa nos anos 20 e 30, e o jovem cientista do final do século XIX, quando lida com a mudança da família de Munique para Milão, ultrapassa as dificuldades em entrar na Universidade em Zurique para estudar Física e Matemática e se apaixona por aquela que seria a sua primeira mulher Mileva Maric.
A série dramática adapta ao ecrã a biografia de Walter Isaacson, Einstein: a sua Vida e Universo, editado em Portugal pela Casa das Letras. E conduz-nos pela vida de uma personalidade singular que além de genial foi também um homem tão normal quanto um génio pode ser, com as suas excentricidades e humanidades.
As sinopses dos próximos episódios mostram que diversas personalidades históricas irão fazer parte da narrativa de Genius, nomeadamente o Diretor do FBI J. Edgar Hoover, Marie Curie, Pierre Curie e ainda Eleanor Roosevelt. Resta agora esperar que a relatividade funcione e que o tempo de espera pelo próximo capítulo seja equivalente ao à duração do primeiro.
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