Proveniente de uma coleção particular, a obra, uma das mais importantes do pintor português radicado em Sevilha no final do século XVI, segundo o museu, junta-se ao seu acervo, num depósito por cinco anos, e pode ser vista até 13 de dezembro.
Datada de 1603, a “Virgem del Buen Aire” é um exemplo do tardo-maneirismo sevilhano e uma das grandes obras-primas de Vasco Pereira Lusitano (1536/7-1609), escreve o MNAA, na apresentação da obra.
O quadro representa Maria entre São José e Santa Ana, rodeada de Santos e dos Reis Magos, e espelha a evolução do pintor, que combinou elementos de influência italiana, com a exuberância decorativa do Maneirismo flamengo.
Vasco Pereira nasceu em Lisboa, entre os anos de 1536 e 1537, de uma família com raízes em Évora, como mencionou numa das suas obras.
"Aprendeu pintura em Sevilha, com um dos mais importantes pintores italianizados de meados do século XVI, Luis de Vargas (1502/6- 1567), que foi também o mestre de Francisco Venegas", pintor que se viria a estabelecer em Lisboa, escreve o MNAA na apresentação da obra.
Vasco Pereira Lusitano, que em 1562 já trabalhava em regime autónomo, tem a sua obra mais antiga, hoje conhecida, num "S. Sebastião", pintado para a Igreja de Santa Maria do O, de Sanlúcar de Barrameda, em Cádis.
A "Predela da Natividade", do MNAA, a "Anunciação", da Igreja de San Juan Bautista de Marchena, na Andaluzia, o "Santo Onofre", do Museu de Dresden, na Alemanha, e a "Virgem com o Menino e Anjos Músicos", do Museu Carlos Machado, em Ponta Delgada, são outras obras identificadas do artista, "um dos melhores mestres sevilhanos da sua geração e, certamente, o mais importante pintor português radicado no estrangeiro, na segunda metade do século XVI", de acordo com o museu de Lisboa.
O MNAA recorda que Vasco Pereira "era um pintor bastante culto", iniciador de uma linhagem que chegaria a Murillo. Em 1599 foi eleito para a direção da corporação dos pintores sevilhanos, assumindo uma primazia entre os mestres locais, como Alonso Vázquez e Francisco Pacheco, "o culto sogro de Velázquez".
A pintura agora exposta no MNAA, "além de aumentar a coleção com uma importante obra do mestre nascido em Portugal, permite apresentar um exemplo raro nas coleções do tardo-maneirismo sevilhano que, em breve, abriria a pintura espanhola aos alvores do Naturalismo do Siglo de Oro".
"Trata-se certamente de uma das melhores obras de Vasco Pereira, notável quer pela composição do largo grupo de figuras, quer pela exuberância de tecidos, joias e peças de ourivesaria (...), numa riqueza formal e decorativa anunciadora do Barroco", assegura o museu.
Esta obra foi pintada para a igreja da irmandade del Buen Aire, no bairro de Triana, em Sevilha, onde se reuniam mestres, capitães e donos de navios que se dedicavam ao comércio com as Américas, no período quinhentista.
A irmandade foi fundada ainda durante a primeira metade do século XVI, ficou conhecida como “universidade dos mareantes”, a que assistia, tendo igualmente por objetivo a proteção social dos reformados pobres, de órfãos e das filhas dos navegadores, assim como o resgate dos marinheiros aprisionados por piratas ou nações inimigas, conforme indicam os seus estatutos.
Como prova da importância do quadro e do pintor, o MNAA recorda que Sevilha, à data, na viragem dos anos de 1500 para os de 1600, era a maior área urbana da Península, com uma riqueza baseada no comércio com o Novo Mundo.
A pintura permaneceu na posse da irmandade sevilhana até 1845, altura em que passou para os Viscondes de Palma, de Huelva, em cuja família permaneceu até data recente, segundo o museu. Os colecionadores Odile e Armando Pereira são os atuais proprietários.
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