Contactado sobre o ponto da situação das intervenções previstas para este museu nacional, em Lisboa, no quadro do PRR, o diretor, Joaquim Caetano, revelou que ao longo de junho decorrerá uma reorganização interna no museu para preparar o início das obras.
“Este mês temos de fazer as deslocações internas de gabinetes para começarem as obras, depois há uma primeira obra a começar já em julho, que diz respeito ao ar condicionado, e, a seguir, o processo mais avançado é o da envolvente externa, de fachadas e telhado”, descreveu o responsável.
De acordo com informação do portal Mais Transparência, no âmbito do PRR foi atribuído um financiamento de 4,97 milhões de euros para intervenções no MNAA, dos quais já foram pagos 1,06 milhões, tendo como data de início 18 de janeiro de 2022 e prazo de conclusão 31 de março de 2026.
As obras inscritas no projeto – indica o mesmo portal – abrangem a conservação/beneficiação da fachada norte, reabilitação/remodelação das coberturas (ala do antigo Palácio Alvor) e a conclusão do restauro da Capela das Albertas.
Joaquim Caetano referiu que os concursos para as obras serão lançados pela Associação de Turismo de Lisboa: “Por isso temos um conhecimento indireto dos processos” previstos para o museu localizado na Rua das Janelas Verdes.
“Estamos à espera que entrem os novos dirigentes para o Património Cultural – Instituto Público e a empresa Museus e Monumentos de Portugal para fazer um ponto da situação”, acrescentou o diretor do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), que acolhe um acervo de mais de 40 mil peças de pintura portuguesa, escultura, artes decorativas e mobiliário dos séculos XII a XIX.
De acordo com o diretor do MNAA, “outro projeto que estava consignado, era o da renovação do piso intermédio, onde estão sobretudo as artes decorativas, mas está um pouco mais demorado porque a orçamentação era bastante superior ao disponível, e trata-se agora de o adequar”.
A direção do museu aguarda atualmente reuniões com a tutela, e depois com os projetistas, para a definição de um calendário, “e só então se poderá saber se o museu fechará na totalidade ou em parte”.
Entre 12 de julho e 29 de setembro, o MNAA irá apresentar, na Sala do Teto Pintado, a exposição "Épico e Trágico - Camões e os Românticos", com os desenhos preparatórios da pintura "A Morte de Camões", de Domingos Sequeira (1768-1837).
A mostra irá evocar o contexto em que o poeta do século XVI foi transformado em figura mítica para o Romantismo português, e realiza-se no quadro das comemorações dos 500 anos do nascimento de Luís de Camões (1524-1580), autor d'"Os Lusíadas".
Em janeiro deste ano, João Carlos Santos, presidente do instituto Património Cultural, e antigo diretor-geral do Património Cultural, anunciou os valores de verbas destinadas a alguns monumentos, no âmbito do aumento do orçamento do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) para o Património Cultural, de 150 milhões de euros, para 216,2 milhões de euros.
De acordo com o então responsável pelo património cultural, 165,8 milhões seriam destinados à requalificação de museus, monumentos e castelos, e 48,4 milhões para a requalificação dos teatros nacionais.
O PRR é um programa europeu de aplicação nacional, com um período de execução até 2026, que visa implementar um conjunto de reformas e investimentos destinados a repor o crescimento económico sustentado, após a pandemia.
Museu Nacional de Arte Antiga aguarda expansão para edifícios já adquiridos na 24 de Julho
O Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa, recebeu mais cinco mil peças para o seu acervo nos últimos 60 anos, o mesmo período que aguarda por obras de expansão, anunciadas este ano para edifícios que já foram adquiridos na Avenida 24 de julho.
As últimas grandes obras de expansão do MNAA datam de 1937, “portanto quase há um século”, avaliou o diretor da instituição, Joaquim Caetano, contactado pela agência Lusa sobre o ponto da situação do projeto.
Em janeiro deste ano, o então primeiro-ministro, António Costa, e o ministro da Cultura da altura, Pedro Adão e Silva, anunciaram a aprovação, em Conselho de Ministros, de 10 milhões de euros para a aquisição de três edifícios para o projeto de ampliação do museu.
O projeto previa quatro edifícios, um deles adquirido anteriormente pela Câmara Municipal de Lisboa, em 2016.
Joaquim Caetano disse à Lusa que os três edifícios anunciados em janeiro já foram adquiridos pela empresa de capitais públicos Estamo – Participações Imobiliárias.
“É uma necessidade sentida e expressa há mais de 60 anos pelos sucessivos diretores do museu”, recordou o diretor do MNAA, que acolhe um acervo de mais de 40 mil peças de pintura, escultura e artes decorativas portuguesas, europeias dos séculos XII a XIX.
Para o prosseguimento do projeto “tem de haver um plano prévio do museu, um plano de arquitetura e um concurso para as obras, que terão de ser internacionais porque será uma obra grande”, observou o diretor do MNAA.
“Nós já temos um estudo de volumetria e de ocupação global dos espaços, mas só com o os projetistas é que se trabalhará no acerto concreto da museografia”, acrescentou Joaquim Caetano.
A necessidade deste projeto está definida há mais de 60 anos, quando já o historiador de arte e especialista em pintura portuguesa João Couto, diretor do MNAA de 1937 a 1962, dizia que o museu precisava de se expandir para expor as coleções.
“Quando [João Couto] se reformou, em 1962, deu uma entrevista dizendo que era absolutamente necessário para cumprir a sua função que o museu crescesse bastante, e a única hipótese era para a Avenida 24 de julho”, recordou o atual diretor à Lusa.
Para Joaquim Caetano, este alargamento “é absolutamente fundamental, porque nestes últimos 60 anos, o museu recebeu mais de 5.000 novas peças, em aquisições, doações, algumas de grande volume, em escultura e ourivesaria”.
“Por outro lado, todos os museus desta dimensão, nacionais, se renovaram nos últimos 20 ou 30 anos devido às novas necessidades nas áreas técnicas, de conservação e restauro, de reservas, de análise e circulação de peças, que se compadecem muito pouco com edifícios antigos”, descreveu, sustentando que atualmente realizam-se muito mais exposições do que há cem anos, e, por isso, “as peças circulam de forma intensa”.
Outra razão da necessidade do crescimento do museu tem a ver com a acessibilidade: “Levar o museu à Avenida 24 de julho é para nós essencial porque temos um problema enorme para receber camionetas de visitantes de escolas e turismo. O transporte público também é mais regular e com maior oferta daquele lado do que do lado da Rua das Janelas Verdes”.
“Por todas estas razões é imprescindível [avançar com o projeto de expansão]. Agora resta saber se há vontade política para o fazer”, disse o responsável pela direção do MNAA.
A concretização do projeto deverá permitir a expansão da área expositiva e das reservas do museu criado em 1884, que alberga tesouros como os Painéis de São Vicente, de Nuno Gonçalves, obra-prima da pintura europeia do século XV, e a Custódia de Belém, de Gil Vicente, mandada lavrar por Manuel I e datada de 1506.
Os Biombos Namban, do final do século XVI, registando a presença de portugueses no Japão, e o tríptico "As Tentações de Santo Antão", de Hieronymus Bosch, são outras peças relevantes do acervo do MNAA.
*Ana Goulão / Lusa
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