Para o maestro João Paulo Santos, não é estranho a estreia ocorrer em Portugal, 141 anos depois de ter subido à cena pela primeira vez, em Paris, “pois também em França e, apesar do seu sucesso, foi difícil impô-la no repertório”.
“Desde a sua estreia em França, um grupo muito grande de admiradores tentou impô-la no repertório e todas as vezes que foi levada à cena é sempre um sucesso, mas não segue carreira. Só a partir da década de 1990, quando foi levada à cena na Ópera de Lyon, é que entrou para o repertório e atualmente faz parte dele”, referiu à Lusa.
Emmanuel Chabrier refundou a música francesa, segundo os seus pares, disse João Paulo Santos, que chamou a atenção para a “excecional orquestração”, já que o compositor demonstra “um ouvido especial para a conjugação de timbres, nas maneiras menos expectáveis possíveis”.
O maestro destacou o facto de o elenco da opereta ser exclusivamente português, o que vem sido hábito nas produções que dirige, porque lhe interessa “fomentar um certo tipo de trabalho”.
Dora Rodrigues, Eduarda Melo, Maria Luísa de Freitas, Mário João Alves, Luís Rodrigues e Carlos Guilherme constituem o elenco, que é acompanhado do Coro do Teatro Nacional de S. Carlos e da Orquestra Sinfónica Portuguesa.
A encenação é de James Bonas, que na temporada anterior foi o responsável pela apresentação, no TNSC, da ópera “L’enfant et les sortiléges”, de Maurice Ravel.
“Nós conhecemo-nos há um ano nesta casa e eu achei que era uma oportunidade para escolhermos este tipo de repertório, pelo qual tínhamos admiração e amor”, disse João Paulo Santos, que descreveu como serviço público a apresentação de um repertório diversificado, "já que o TNSC é a única casa de ópera do país".
Quanto a “L’Étoile”, o maestro disse que "a opereta francesa é sempre irreverente, ao contrário da vienense, que é mais sentimental e romântica".
A opereta francesa inclui "textos atrevidos, em que as piadas políticas, sociais e sexuais são a base de tudo, e é sempre baseada num mundo insólito, levado muito a sério, mas absolutamente absurdo”, explicou.
Em “L´Étoile” (“A Estrela”), o rei Ouf I - anagrama da palavra francesa “fou”, que significa louco - procura uma vítima para empalar na praça pública no seu aniversário, como dita a tradição do reino.
Esta peça “pede uma extrema energia”, “uma grande atividade em palco”, com “alguns perigos vocais” e com alguns diálogos.
O maestro afirmou que neste tipo de peça se pode perder algumas referências culturais da época, além de trocadilhos e piadas políticas ou sociais, mas é “uma música extremamente direta, um espetáculo com bastante ritmo e divertido”.
O francês Emmanuel Chabrier (1841-1894) tem uma "obra relativamente curta, mas ocupa um lugar muito especial na música francesa, sempre visto como diletante pelo lado oficial”.
“Ele afirmava-se autodidata, porque nunca tinha frequentado uma escola, todavia, todos, mas todos os seus colegas da parte da música o admiravam imensamente, quer da sua geração e das gerações que se seguiram”, descreveu João Paulo Santos.
O compositor, nascido em Ambert, “é considerado o grande pontapé de saída para uma escola francesa moderna: sem ele não haveria um Debussy; Maurice Ravel dizia que Chabrier tinha mudado completamente a maneira de pensar dos compositores franceses”.
"L'Étoile" vai estar em cena no TNSC na segunda-feira às 20:00 e ainda na quarta e na quinta-feira, também às 20:00, e no sábado, às 16:00.
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