“Recuperando o espírito com que foi escrita – ser leitura e divertimento –, a Cavalo de Ferro repropõe, com nova tradução fiel ao texto e ilustrações originais, um dos grandes romances de Virgínia Woolf, sacudindo o pó e o peso do seu estatuto na história da literatura”, explica a editora.
Tendo alcançado o caráter de romance “intemporal”, este livro, publicado originalmente a 11 de outubro de 1928, foi escrito de um só fôlego, em apenas cinco meses, num espírito leve, divertido, satírico e livre, acrescenta.
“Escrevi este livro com mais rapidez do que qualquer outro, e é uma grande piada; acho, apesar disso, que é uma leitura alegre e fácil: umas férias de ser escritora”, descreve a própria autora numa das entradas dos seus diários, datada de 18 de março de 1928.
“Orlando” é uma biografia ficcionada sobre a corrente da consciência (técnica literária que transcreve os processos de pensamento da personagem e de associação de ideias), que tem no centro da história um jovem inglês, dotado de imortalidade, que acorda transformado em mulher. O livro acompanha-o por 350 anos de vida.
Nesta obra, a escritora e ensaísta inglesa quis desenvolver a questão dos géneros, criando uma “obra virada para a modernidade, para o futuro” e “um dos raros momentos em que a literatura, rompendo barreiras e o pudor de uma época, alcança a intemporalidade, para nunca mais se sentir datada ou ultrapassada”, explicita a editora.
“Orlando” é dedicado à poeta, romancista e paisagista inglesa Vita Sackville-West, com quem Virgínia Woolf teve uma relação, e que serve de inspiração para a personagem principal.
No entanto, Miguel Romeira, tradutor desta obra, esclarece em nota introdutória que apesar de Vita Sackville-West ter servido de modelo ao herói/heroína do livro, “há um jogo de espelhos”, em que Orlando é também a própria Virgínia Woolf.
“‘Orlando’ só existe porque Woolf se apaixonou por Vita Sackville-West, que lhe serviu de modelo para o seu/sua protagonista. Assim, em ‘Orlando’, ela está também a sonhar com esse amor, a imaginá-lo e a explorar possibilidades de o viver, num tempo em que, no Reino Unido, os amores entre mulheres não eram condenados em tribunal, ao contrário dos amores entre homens, mas acarretavam, sem dúvida, um estigma social”, descreve o tradutor.
A este propósito, acrescenta que ser amante de Sackville-West não sentou Virgínia Woolf no banco dos réus, mas “só por pouco o livro não foi banido”.
A relação entre as duas escritoras é retratada no filme “Vita & Virgínia”, que se estreou hoje nas salas de cinema portuguesas.
Miguel Romeira esclarece que para este trabalho consultou a tradução portuguesa do Brasil de Cecília Meireles, a tradução francesa de Jacques Aubert e a tradução castelhana de Jorge Luís Borges.
Virgínia Woolf nasceu em Londres, em 1882, e está classificada como um dos nomes maiores da literatura mundial.
Membro do Grupo de Bloomsbury - onde se juntavam figuras proeminentes da sociedade britânica, como o economista John Maynard Keynes ou o escritor E.M. Forster -, foi uma figura proeminente do modernismo inglês, autora de algumas das obras mais lidas e aclamadas em todo o mundo, entre as quais se contam “Mrs. Dalloway”, “As ondas”, “Rumo ao farol” ou “Orlando”.
Foi também fundadora da Hogarth Press, editora que publicou, entre outros, T.S. Eliot ou Gertrude Stein.
Virgínia Woolf sofreu durante toda a sua vida de problemas relacionados com depressão, sentia-se conviver paredes-meias com a loucura e vivia no temor de que a mesma regressasse.
Aos 31 anos, já tivera dois esgotamentos nervosos, tinha estado várias vezes internada ou a fazer curas de repouso e tentara o suicídio.
Acabou por se matar em 1941, com 59 anos, afogando-se no rio Ouse, perto de sua casa, com os bolsos do casaco cheios de pedras.
A carta de despedida que deixou ao marido começava com a frase “querido, tenho certeza de que enlouquecerei novamente”.
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