Se, num ano normal, já todos tínhamos ultrapassado a cerimónia anual dos Óscares, a verdade é que a de 2022 parece querer ficar na nossa memória durante algum tempo. Enquanto ainda refletimos sobre aquilo que aconteceu com Will Smith, queria aproveitar agora que a passadeira vermelha ainda não foi para lavar para te recomendar três filmes que tinham tudo para ter sido mais falados na entrega de prémios mas que, como não podiam ganhar todos, acabaram por sair do Dolby Theatre de mãos (quase) vazias.
Ainda não chegaram ao streaming mas, com sorte, ainda és capaz de os encontrar pelas salas de cinema mais alternativas. Foram alguns dos filmes que mais gostei de ver recentemente. E para que não caiam já no esquecimento, deixo-te aqui a recomendação.
As três longas metragens de que te vou falar estavam nomeadas para a categoria de Melhor Filme Internacional, mas esta foi a única que subiu ao palco e levou uma estatueta para casa. Para começar, e como sou vossa amiga, aviso já que este pode não ser a escolha adequada para quem faz questão de ter ritmos frenéticos e de perceber o plot logo nos primeiros 10 minutos. Só para veres os créditos iniciais, vais ter de passar por uma hora de cenas e, no total, vais precisar de cerca de 180 minutos da tua atenção para o julgar devidamente. Mas prometo que vai valer a pena.
O filme é japonês, com todas as características culturais que já conhecemos de outras andanças, e dá-nos uma dose dramática que fala sobre relações amorosas, perda e controlo emocional. A personagem principal é um ator que, depois de ter passado por muito na vida, aceita um trabalho que requer que tenha uma chauffeur. Apesar da inicial desconfiança, depois de algumas viagens, embalados pelas curvas, acabam por desenvolver uma amizade e por se tornarem num dos maiores apoios um do outro. Este é daqueles filmes fofinhos que vale a pena espreitar pelo menos uma vez na vida.
"The Worst Person in The World"
Se eu disser que se trata de um filme que te vai dar, como brinde, uma valente crise existencial, vais ficar com vontade de o ver? Para um coração mole, como o meu, qualquer romance com a mínima qualidade vai trazer lágrimas pelo caminho. Mas poucos são aqueles que não caem na previsibilidade, mesmo tendo clichés em todo o lado, e que nos fazem querer ficar do lado “mau” sem um peso na consciência no final. E este filme norueguês é um deles.
A história do filme apresenta-nos aquela que será a pior pessoa do mundo, Julie. Spoiler alert: ela não é! Mas, no fundo, é sobre todas as decisões de vida que a fazem sentir assim. Está numa relação que não a preenche emocionalmente, tem tudo para ser feliz mas não o é, desenvolve um romance em paralelo e, no fundo, tudo o que faz é para o seu próprio bem, tomando uma série de atitudes egoístas que se calhar às vezes nos faltam a nós, comuns mortais fora de um ecrã gigante da sala de cinema.
Passou diretamente para a lista dos meus romances preferidos e, apesar de ter sido muito pouco falado nos Óscares, estou a fazer figas para que, com o tempo, conquiste o seu devido protagonismo. Atualmente só está disponível em algumas salas de cinema espalhadas pelo país mas diria que, com o tempo, é menino para ir parar a uma FilmIn ou a uma Prime Video.
Achava que “A Filha Perdida” era o único filme sobre maternidade que me tinha emocionado este ano, mas na minha maratona de preparação para os Óscares ainda tive tempo de me cruzar com “Mães Paralelas”, a mais recente história onde brilhou Penélope Cruz (e que lhe valeu uma nomeação para o óscar de Melhor Atriz - não ganhou). Ao contrário da longa metragem protagonizada por Olivia Colman, esta é um pouco mais acessível para quem não foi mãe, mas nem por isso é menos intensa. Ao Almodóvar style, logo no início do filme ficamos a conhecer duas mulheres de idades e em pontos da vida diferentes mas que partilham uma experiência em comum: dar à luz em simultâneo.
A primeira (e a principal) ficou grávida por acidente, mas está a concretizar o sonho que sempre teve. A outra engravidou fruto de uma experiência traumática e confessa desejar que tal não tivesse acontecido. Depois do parto, cada uma segue o seu caminho, mas mantêm o contacto porque, na teoria, tudo é mais fácil quando temos alguém ao nosso lado a passar pelo mesmo. Até ao dia que surge uma informação que lhes vai provar que aquilo que as une enquanto mulheres e às suas filhas é superior a uma simples experiência partilhada.
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