Se as edições anteriores do Portugal Fashion ficaram marcadas por decorrerem no histórico e requintado edifício da Alfândega do Porto, ou nas ruas e espaços públicos emblemáticos da cidade invicta, como o Mercado do Bolhão, hoje o cenário do Portugal Fashion aconteceu num edifício devoluto, com ambiente de garagem 'underground' (subterrânea) e de cor cinzenta.
“O local em si acaba por ser uma das novidades. Continuamos no registo de contacto com a comunidade e com a cidade, embora mais restritos num espaço e, depois, com todo o programa complementar aos desfiles disperso pela cidade”, explicou a diretora do Portugal Fashion, Mónica Neto.
Trata-se de um “espaço inesperado” e um “desafio” para a organização do Portugal Fashion, acrescenta a responsável.
“Apropriarmo-nos dele [da garagem] e levarmos para lá as coleções e fazermos com que depois tudo o que é novidade - que é o que é apresentado pelos ‘designers’ -, brilhe por si. Esse é o grande desafio sempre. (…) Conseguimos dar palco aos ‘designers’ e, acima de tudo, a versatilidade de um espaço que, de repente, era uma antiga garagem e se transforma em dois ou três cenários de apresentação de desfiles”.
O clima instável do Porto no mês de março foi outro dos fatores ponderados para a escolha do local para apresentar a maioria dos desfiles de moda portuguesa e africana
“Temos sempre a questão da estação [do ano]. O Porto em março tem um clima mais complicado e os riscos são maiores. Penso que essa foi também uma das razões para não espalharmos tanto o Portugal Fashion pela cidade. Houve muitos eventos que foram ao ar livre na última edição e desta vez não foram e, portanto, essa é uma das razões”, explicou, por seu turno, Alexandre Meireles, diretor da Associação Nacional de Jovens Empresários, a entidade que gere o Portugal Fashion.
Os manequins desfilaram sobre um chão empoeirado e esburacado, onde a luz penetrava pelas janelas baças pela sujidade e teias de aranha.
Enquanto era maquilhado para participar no desfile da House of Wildflowers, Sahil, 17 anos, revela ser esta a segunda vez que participa no Portugal Fashion e que hoje desfilaria para três ‘designers’.
“Na edição anterior as condições de trabalho eram melhores, era mais espaçoso, melhor organização, melhor comida. Agora está menos organizado, menos comida, menos confortável”, considerou o jovem manequim.
Os primeiros desfiles arrancaram pouco passava das 14:00, numa garagem que ocupa os números 37/93 da Rua Latino Coelho, com a apresentação de várias coleções de ‘designers’ e marcas africanas, como por exemplo Savá, Yeside Laguda, House of Wildflowers, Bloque ou Ntando XV.
O espírito mais ‘underground’ da localização deste Portugal Fashion não espanta Beppe D’Elia, diretor criativo e fundador da marca Beautic – uma agência italiana de cabeleireiro e maquilhagem que trabalha com marcas consagradas como a Dolce&Gabbana, Giorgio Armani ,Fendi, Moncler, Prada, Philipp Plein ou Valentino.
Beppe D’Elia, que está a liderar uma equipa de 25 cabeleireiros para esta edição do Portugal Fashion - 20 profissionais são italianos -, afirmou que o conceito de espaços mais atípicos é usual noutras semanas da moda, como por exemplo em Nova Iorque, e que as suas equipas estão habituadas a trabalhar em desfiles em condições idênticas às deste Portugal Fashion.
"É a primeira vez que estamos a trabalhar no Portugal Fashion. Falámos com os ‘designers’ para saber o estilo, a imagem e os espírito de cada coleção e adaptar os penteados”, conta, revelando que os criadores pediram estilos “frescos”, mais "minimalistas".
Jacobo Finocchi, outro cabeleireiro e criativo da Beautic, conta que esteve a trabalhar o cabelo de 20 modelos com a sua equipa para o desfile da Savá pwd by Canex e foi-lhe pedido um estilo com “algum espírito selvagem africano, mas chique”.
Entre o vai e vem de provas de roupa, e o veste e despe rápidos das dezenas de manequins de vários géneros e tons de pele, há também vários voluntários a trabalhar no Portugal Fashion para dar assistência aos criadores de moda e manequins.
Enquanto passa a ferro umas calças pretas na tábua de engomar que vão ser apresentadas na passarela, Vanessa Ferrante, 20 anos, estudante de moda na Escola Superior de Arte e Design (Matosinhos, Porto), conta que é voluntária dos bastidores do Portugal Fashion pela primeira vez.
Uma das suas tarefas é ajudar os modelos nos ‘fittings’ (nas provas dos coordenados), tirando fotografias aos ‘looks’ pensados pelos criadores e dando as roupas certas a cada manequim.
“Está a ser uma experiência fixe”, resume.
Na zona da maquilhagem a azáfama é imparável.
A profissional de maquilhagem Liz Iapp conta que este é o terceiro ano que trabalha no Portugal Fashion e que para já o novo espaço não está a assustá-la.
“Estamos a conseguir. A logística está tranquilo. O mais difícil são os últimos dias . Em média, por desfile, faço [a maquilhagem] a dois ou três modelos”, conta, referindo que se surgir algum problema, está habituada a improvisar.
A maioria dos desfiles nesta edição vão acontecer na Rua Latino Coelho,
O desfile de moda da dupla de criadores Marques’ Almeida abre o segundo dia de desfiles do Portugal Fashion, quinta-feira, dia 16.
E nesse dia vão passar também pela passarela as novas coleções dos ‘designers’ Katush, Nuno Miguel Ramos, Susana Bettencourt, Nopin e Eric Raisina.
A criadora Katty Xiomara apresenta a sua nova coleção no dia 17 de março, no Grande Hotel do Porto, na Rua de Santa Catarina.
Os ‘designers’ Miguel Vieira, Diogo Miranda, Pedro Pedro, Estelita Mendonça, Carolina Sobral, Awa Meite ou a marca Pé de Chumbo vão apresentar as novas criações no dia 17 de março, também no edifício da Rua Latino Coelho.
Luís Onofre, David Catalán, Hugo Costa, Alexandra Moura, Maria Gambina, Sophia Kah apresentam as suas coleções sábado, o último dia do evento.
O Portugal Fashion tinha em média um orçamento de cerca de 900 mil euros, mas neste e na anterior edição teve um montante disponível de 450 mil euros, um corte justificado com o fim dos fundos europeus do Portugal 2020 e pelo facto de ainda não terem aberto as candidaturas para o Portugal 2030.
A 9 de outubro de 2022, o presidente da ANJE, entidade que organiza o Portugal Fashion, assumia que a iniciativa de moda poderia não se realizar em 2023 por falta de financiamento europeu.
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