Vida (citações 612 — 634)

Se nós soubéssemos o que é de facto a vida, a sua natureza íntima, a sua finalidade, não teríamos palavras para exprimir a nossa alegria, para exteriorizar o turbilhão de prazer que a simples lembrança de que se é vivo nos traria!
Ficção | Terra do Pecado

Viver, já to disse, é uma operação simples, que a sociedade, as convenções, a maldade dos homens complicam diariamente com emoções, sentimentos, desgostos, esperanças, desilusões e tristezas. Infelizmente é assim e não pode deixar de ser assim. Mas resta-nos a consolação de que, muitas vezes, das nossas tristezas nascem as alegrias dos outros. Somos como que um degrau onde se apoiam os pés dos que nós ajudamos a viver.
Ficção | Terra do Pecado

Nós nunca vivemos de mais! Todos, quando morremos, vamos ainda demasiado ignorantes para poder deixar dito ou escrito que vivemos de mais. Vive -se sempre de menos... A Natureza só é pródiga, excessiva, para o que não pode ser destruído. Para nós é duma avareza mesquinha, que faz pagar bem caras as poucas migalhas que nos atira com desdenhosa complacência! Apesar de tudo, nós continuamos, e ainda há de ver -se quem é que ganha a batalha...
Ficção | Terra do Pecado

Cada um de nós é por enquanto a vida. Isso nos baste.
Poemas| Provavelmente Alegria

A minha vida é uma impostura organizada discretamente: como não me deixo tentar por exagerações, fica-me sempre uma segura margem de recuo, uma zona de indeterminação onde facilmente posso parecer distraído, desatento, e, sobretudo, nada calculista. Todas as cartas do jogo estão na minha mão, mesmo quando não conheço o trunfo: é certo que pouco ganho quando ganho, mas as perdas também são mínimas. Não há grandes e dramáticos lances na minha vida.
Ficção | Manual de Pintura e Caligrafia

Livro: Pensamentos e Citações de José Saramago

Editora: Contraponto

Data de lançamento: 6 de maio

Preço: 15,50 €

Certas vidas são mais apagadas do que outras, mas é só porque temos tanta coisa em que pensar, acabamos por não reparar nelas e lá vem o dia em que nos arrependemos, Fiz mal, devia ter dado mais atenção, pois é, pensasses nisso mais cedo, enfim, são pequenos remorsos que vêm e logo esquecem, é o que nos vale.
Ficção | Levantado do Chão

Se não houvesse tristeza nem miséria, se em todo o lugar corressem águas sobre as pedras, se cantassem aves, a vida podia ser apenas estar sentado na erva, segurar um malmequer e não lhe arrancar as pétalas, por serem já sabidas as respostas, ou por serem estas de tão pouca importância, que descobri-las não valeria a vida duma flor.
Ficção | Memorial do Convento

Quanto mais se for prolongando a tua vida, melhor verás que o mundo é como uma grande sombra que vai passando para dentro do nosso coração, por isso o mundo se torna vazio e o coração não resiste.
Ficção | Memorial do Convento

A vida, qualquer vida, cria os seus próprios laços, diferentes de uma para outra, estabelece uma inércia que lhe é intrínseca, incompreensível para quem de fora criticamente observe segundo leis suas, por sua vez inacessíveis ao entendimento do observado, enfim, contentemo-nos com o pouco que formos capazes de compreender da vida dos outros, eles nos agradecem e talvez nos retribuam.
Ficção | O Ano da Morte de Ricardo Reis

A vida é breve, mas cabe nela muito mais do que somos capazes de viver.
Crónicas | Deste Mundo e do Outro

A vida, fique sabendo, é mesmo uma longa violência. Houve um tempo em que achei que era antes uma longa paciência. Eu era mais novo, e por isso mais cético. Mas hoje (com ou sem paranoia) penso que não senhor, a paciência não vem ao caso. Quando, como se costuma dizer, se vai para a idade, descobre -se que só violentamente se enchem os dias de vida. E então todo o passado aparece sob uma nova iluminação: quando nos julgávamos adormecidos e pacientes, estávamos afinal a acumular energias para o esforço dos últimos metros.
Crónicas | Deste Mundo e do Outro

As vidas não começam quando as pessoas nascem, se assim fosse, cada dia era um dia ganho, as vidas principiam mais tarde, quantas vezes tarde de mais, para não falar daquelas que mal tendo começado já se acabaram.
Ficção | A Jangada de Pedra

A vida está cheia de pequenos acontecimentos que parecem ter pouca importância, outros há que num certo momento ocuparam a atenção toda, e quando mais tarde, à luz das suas consequências, os reapreciamos, vê -se que destes esmoreceu a lembrança, ao passo que aqueles ganharam título de facto decisivo ou, pelo menos, malha de ligação duma cadeia sucessiva e significativa de eventos.
Ficção | A Jangada de Pedra

A vida fazemo-la geralmente como se não tivéssemos nenhuma experiência anterior, ou servimo-nos apenas daquela sua parte que nos permite insistir em erros, alegando explicações e lições da experiência, e agora ocorre -me uma ideia que talvez vos pareça absurda, um contrassenso, que talvez o efeito da experiência seja muito maior no conjunto da sociedade do que em cada um dos seus membros, a sociedade aproveita a experiência de todos, mas nenhuma pessoa quer, sabe ou pode aproveitar por inteiro a sua própria experiência.
Ficção | A Jangada de Pedra

Seria tudo mais fácil de entender se confessássemos, simplesmente, o nosso infinito medo, esse que nos leva a povoar o mundo de imagens à semelhança do que somos ou julgamos ser, salvo se tão obsessivo esforço é, pelo contrário, uma invenção da coragem, ou a mera teimosia de quem se recusa a não estar onde o vazio estiver, a não dar sentido ao que sentido não terá. Provavelmente, o vazio não pode ser preenchido por nós, e isso a que chamamos sentido não passará de um conjunto fugaz de imagens que num certo momento pareceram harmoniosas, ou onde a inteligência em pânico tentou introduzir razão, ordem, coerência.
Ficção | A Jangada de Pedra

Nunca saberemos até que ponto as nossas vidas mudariam se certas frases ouvidas mas não percebidas tivessem sido entendidas.
Ficção | História do Cerco de Lisboa

Não sei se a vida merece que a amem profundamente, acredito mais que é o amor por nós próprios que nos faz amá-la, principalmente se uma outra vida (alguém a quem amemos e que nos ame) nos for ajudando a encontrar para a existência um sentido diferente.
Diários | Cadernos de Lanzarote – Diário I

A vida está cheia de pessoas que buscam desesperadamente (ou, pior ainda, sem saberem que estão desesperadas) e não encontram.
Diários | Último Caderno de Lanzarote

Na vida de cada um de nós houve pelo menos um momento em que tivemos de «inventar» uma razão para mudar a vida, uma razão maior que nós, uma razão capaz de nos transportar aonde não nos levaria a rotina do quotidiano.
Diários | Último Caderno de Lanzarote

Saberíamos muito mais das complexidades da vida se nos aplicássemos a estudar com afinco as suas contradições em vez de perdermos tanto tempo com as identidades e as coerências, que essas têm obrigação de explicar -se por si mesmas.
Ficção | A Caverna

É assim a vida, vai dando com uma mão até o dia em que tira tudo com a outra.
Ficção | As Intermitências da Morte

A vida ri-se das previsões e põe palavras onde imaginámos silêncios, e súbitos regressos quando pensámos que não voltaríamos a encontrar-nos.
Ficção | A Viagem do Elefante

Dizemos aos confusos, Conhece-te a ti mesmo, como se conhecer -se a si mesmo não fosse a quinta e mais difícil operação das aritméticas humanas, dizemos aos abúlicos. Querer é poder, como se as realidades bestiais do mundo não se divertissem a inverter todos os dias a posição relativa dos verbos, dizemos aos indecisos, Começar pelo princípio, como se esse princípio fosse a ponta sempre visível de um fio mal enrolado que bastasse puxar e ir puxando até chegarmos à outra ponta, a do fim, e como se, entre a primeira e a segunda, tivéssemos tido nas mãos uma linha lisa e contínua em que não havia sido preciso desfazer nós nem desenredar emaranhados, coisa impossível de acontecer na vida dos novelos, e, se uma outra frase de efeito é permitida, nos novelos da vida.
Crónicas | O Caderno

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