ProfJam (Mário Cotrim), de 27 anos, começou há dez a rimar, embora considere que o arranque “mais a sério” tenha sido em 2014 com a ‘mixtape’ “The Big Banger Theory”.
“Aí comecei a reunir um ‘following’ e pessoal interessado na minha música, a descodificá-la, a querer perceber o que é que eu queria dizer”, recordou em declarações à Lusa, horas antes do concerto de hoje no festival Super Bock Super Rock (SBSR), no Parque das Nações, que dedica o dia ao universo do hip-hop.
Um dos três ‘rappers’ portugueses em destaque hoje, foi o primeiro a atuar, pelas 18:00 no palco montado por baixo da pala do Pavilhão de Portugal, onde alguns milhares se agitaram e cantaram as rimas que começou a fazer em 2008, enquanto frequentava o ensino secundário.
Entretanto, editou duas ‘mixtapes’, passou uma temporada em Londres a estudar e fundou uma editora, a Think Music Record.
No ano passado, integrou o Projeto 80, iniciativa de âmbito nacional que promove a cidadania, o empreendedorismo, o associativismo, a sustentabilidade, a preservação da biodiversidade e dos recursos naturais, a economia verde e o voluntariado, tendo estado em 36 escolas de todo o país, duas por distrito, a dar palestras.
Este ano, chega o álbum de estreia, ainda sem data de edição marcada. Do disco, cuja estrutura “ainda não está feita” e a produção estará a cargo de Lhast, pode adiantar que só deverá ter um convidado, Phoenix RCD, e que “tem muito que ver com pureza, de espírito, de força”.
“Não pôr travão a mim próprio, tentar conhecer quem eu sou e levar-me para onde quero levar, sem pôr travões. Se quero gritar, vou gritar, mas vou fazê-lo de uma maneira bonita, procurar embelezar o meu espírito para as pessoas também ouvirem, para não ser completamente impercetível”, revelou.
Para quem ouve o disco, espera que seja “uma injeção de descarga elétrica para a vida, para ficarem motivados”.
“Venham os terramotos, venha tudo que eu estou aqui com os pés firmes. É um depósito de fé, é uma fé musical. Isto é música religiosa, basicamente”, afirmou.
O rap entrou na vida de ProfJam aos nove/dez anos, através da irmã mais velha.
Nessa altura começou “a ouvir álbuns de Eminem, Jay-Z e dos Cypress Hill”. “Cativou-me logo o ritmo, a maneira de cantar para mim era estranha, cativou-me bué. Mais tarde consegui perceber o conteúdo e ainda me levou para outro nível e quando descobri o hip-hop tuga percebi ‘isto também se pode fazer em português’, até começar a experimentar e fazer o meu primeiro som, em 2008”, recordou.
Acompanhou o ‘boom’ que a cultura hip-hop teve em Portugal nos últimos anos “na linha da frente”. “Estive super em contacto, nas festas de hip-hop”, contou, lembrando que há dez anos, na escola gostava de rap “e toda a gente gozava”.
“Chamavam-me 50Cent, 'Bollycao' e essas cenas, mas nunca me deu nenhum tipo de sentimento, era música muito individual, quem ouvia queria mesmo ouvir. Não era tão ‘mainstream’ [de massas]”, contou.
No entanto, ProfJam gosta que agora seja ‘mainstream’, “é melhor assim”.
“Há pessoas que se queixam que o hip-hop cresceu, mas que foi o hip-hop comercial que cresceu. Eu acho que todo cresceu. Se víssemos há dez anos os números das músicas de hip-hop, mesmo uma de hip-hop consciente tinha mil/dois mil 'views'. Hoje uma hip-hop pop tem, tipo, dez milhões, mas a de consciente tem 200 mil”, disse, justificando que “simplesmente é mais difícil passar uma mensagem mais profunda a mais gente”.
Chegar a mais gente é mais fácil com “mensagens mais curtas, menos profundas, ou então mensagens tão universais que toda a gente percebe” e, “por isso, o amor é um tema recorrente, toda a gente sabe o que é sentir amor”.
O amor é, aliás, uma das maiores inspirações para o seu trabalho. “Inspiro-me muito no amor pela vida pelos seres, que podem ou não existir. Espero cativar essas pessoas por aí”, disse.
A 24.ª edição do SBSR decorre até sábado. Hoje atuam ainda, entre outros, os ‘rappers’ portugueses Virtus e Slow J, e os norte-americanos Princess Nokia, Oddisee & Good Company, Anderson.Paak & The Free Nationals e Travis Scott.
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