Numa entrevista à agência Lusa, o ator e encenador Diogo Infante, que dirige o Teatro da Trindade desde dezembro, confessou que, além de levar à cena alguns clássicos universais, irá também “tirar partido de atores com grande carisma, que ajudem a criar aquele impulso e aquela curiosidade natural que faz as pessoas saírem de casa e irem ao teatro para um serão”.
Optou pelos clássicos, por serem textos que “já foram muito testados”, que acrescentam ”qualidade e eficácia”, e porque quer “contar com públicos de várias idades, de vários géneros e, idealmente, que se contaminem”, sublinhou. Públicos "que possam sentir que o Trindade é um espaço aberto, dinâmico e com o qual podem contar”, acrescentou.
Diogo Infante confessou ainda que gostaria que as pessoas sentissem o Trindade “como o seu teatro”. “Porque ele é, neste momento, o meu teatro. É o meu teatro preferido de Lisboa; é a melhor sala de teatro da cidade”, pela “proporção do espaço, pela relação de palco com a plateia, pela acústica, pela energia que aqui se sente e pela equipa que aqui trabalha”, disse.
O sucessor de Inês de Medeiros, à frente desta sala de espetáculos, disse à Lusa que também será levado à cena “um grande texto português”, numa produção também ela “grande e ambiciosa, que será feita em colaboração com a [companhia] Escola de Mulheres". "Não será na próxima programação, mas na seguinte", referiu.
Admitindo estranhar o regresso à direção de um teatro, anos depois de ter estado à frente do Maria Matos e do Teatro Nacional D. Maria II, Diogo Infante admitiu encarar a nova função com muito entusiasmo, por gostar de se envolver “estruturalmente” nos projetos.
E sente-se feliz por “poder dar um contributo” que espera que seja “efetivo e, sobretudo, que chegue às pessoas”.
Sem revelar nomes de peças, de atores ou de companhias com quem vai trabalhar nas próximas temporadas, já que esse trabalho não está ainda concluído, frisou que pretende “honrar” a “história muito eclética” do Trindade. E que, para isso, face aos recursos e orçamento de que dispõe, teve de reformular a lógica de programação.
“O Teatro da Trindade, nos últimos anos, tem sido, sobretudo, um espaço de acolhimento de toda a variedade de espetáculos – de dança, de música, concertos, teatro, ópera. Tudo tem passado por aqui, mas de uma forma menos comprometida”, refere, acrescentando que, ao assumir o papel de coprodutor, passa a ter “uma intervenção mais direta na definição dos conteúdos, dos elencos, das estratégias de comunicação”.
Até porque isso lhe permite pensar do ponto de vista artístico que tipo de programação quer e gostava de ter ali, de modo a que faça sentido como um todo.
Sem revelar mais pormenores – porque pretende anunciar a programação em junho, numa conferência de imprensa –, Diogo Infante revelou que, como quando assumiu funções, estavam a decorrer os concursos para os apoios da Direção-Geral das Artes (DGArtes), tal facto lhe permitiu posicionar-se junto de alguns grupos de teatro, por forma a criar parcerias e coproduções que possam dar fruto a médio prazo.
Sobre a programação em curso - que chama de “programação de transição” – refere ter herdado alguns projetos de Inês de Medeiros, mas ter outros já da sua lavra.
É o caso do musical “Quase normal”, dos irmãos Henrique e Nuno Feist, que estará em cartaz em maio, e de “Vozes dentro de mim”, uma coprodução com o Teatro Meridional, a estrear em julho, a partir da obra autobiográfica da atriz Carmen Dolores.
Esta adaptação do terceiro volume de memórias da atriz, editado em junho do ano passado, é também um pretexto para “homenagear uma das lendas vivas do teatro português”, sublinha Diogo Infante, acrescentando que, em simultâneo com a peça, os vários espaços públicos do Trindade exibirão uma exposição sobre Carmen Dolores.
Sobre a programação, Diogo Infante, que ainda não sabe se terá ocasião para encenar, avançou que não terá muitos espetáculos.
Serão três a quatro produções por ano, uma vez que pretende ter peças de maior temporada, que estejam três ou quatro meses em cartaz, caso sejam suficientemente atrativos para criar essa dinâmica de público.
Junho e julho serão reservados para as produções musicais ou para espetáculos de outras artes performativas mais consentâneas com a época do ano, e com a oferta cultural de que a capital dispõe.
Viabilizar também a sala Estúdio, que, devido à sua pequena lotação (50 lugares), permite outro tipo de abordagens teatrais, mais vocacionadas para os jovens e mais contemporâneas e experimentais, é outro dos objetivos de Diogo Infante.
O Trindade e o Inatel, num “prolongamento natural” da sua relação, vão reformular o prémio de dramaturgia que a fundação tem promovido ao longo dos anos e que, a partir de agora, contará com mais protagonismo e intervenção do teatro, para promover melhor o evento e possibilitar que a peça vencedora seja levada à cena na sala Estúdio, concluiu.
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