Na movimentada Praça da República, com as esplanadas cheias de turistas, Miguel Gonçalves Mendes gravou a cena que encerra o documentário, um projeto que o levou a percorrer vários países com uma demanda quase filosófica sobre a ligação das pessoas ao mundo e que só deverá chegar aos cinemas em janeiro de 2019.
Horas antes de o realizador gritar “Ação!”, a praça vianense foi-se enchendo de portugueses e estrangeiros curiosos em saber o que se estava a filmar – "É uma novela?", "Para que canal?", perguntaram vários.
Havia algum aparato técnico, embora relativamente discreto, mas o que chamou mais a atenção de quem passava eram os oito gigantones - típicos da cultura vianense - feitos de propósito para o filme.
“O sentido da vida” conta a história real de Giovane Brisotto, um jovem brasileiro portador de paramiloidose familiar, uma doença degenerativa, de origem portuguesa, conhecida como “doença dos pezinhos”.
Giovane Brisotto, que fez um transplante de fígado em 2015, decide fazer uma viagem pelo mundo, cruzando-se com várias personalidades que o ajudarão a entender o significado da vida. E é essa viagem de Miguel Gonçalves Mendes filma.
Juntos, fizeram mais de 50 mil quilómetros pelo mundo, passaram por países onde existem ainda casos da “doença dos pezinhos”, como o Japão e o Brasil, gravaram imagens no espaço e concluem agora o périplo em Portugal.
“Pessoalmente, é mais importante a sua procura [o sentido da vida] e o questionamento do que a resposta. Eu, como descrente e muito pouco otimista em relação a este mundo, acho que nós somos fruto do acaso. O sentido da vida é vivermos e sermos felizes com a máxima dignidade que nos é permitida”, disse o realizador à agência Lusa momentos antes da rodagem final.
Entre as personalidades que Giovane Brisotto e o realizador encontraram no caminho estão a ex-presidente do Brasil, Dilma Rousseff, o astronauta Andreas Mogensen, o escritor Valter Hugo Mãe, o juiz espanhol Baltasar Garzón e o músico islandês Hilmar Örn Hilmarsson, todos eles retratados agora em gigantones para a cena final do documentário e que tanta curiosidade causaram em Viana do Castelo.
“Ao acompanharmos a vida de sete figuras públicas de diferentes culturas, países profissões – justiça, política, ciência, musica, literatura – qualquer pessoa se pode espelhar nas dinâmicas distintas do mundo na forma como lidamos com os problemas”, opinou.
Esta última cena em Viana do Castelo é, no entender de Miguel Gonçalves Mendes, “uma espécie de mensagem para que as pessoas tomem a rédea da sua vida e que sejam felizes".
“Era o meu maior desejo: que as pessoas saíssem do filme com necessidade de mudar as suas vidas e mudar o mundo. E terem consciência real de que infelizmente o tempo está a contar. Ou somos felizes agora e lutamos por aquilo em que acreditamos ou não”, disse.
Por razões de saúde, Giovane Brisotto esteve ausente da filmagem de sábado em Viana do Castelo, que contou com a participação da banda filarmónica da cidade, do Coro de Viana e da atriz brasileira Cris Nicolotti.
A população local foi convidada a entrar na cena como figurante, na recriação da imagem de um típico coração de Viana.
Os gigantones, que pesam cerca de 40 quilos, foram feitos a partir das mesmas estruturas usadas nas festas típicas da cidade, mas representando cada uma daquelas personalidades do filme.
Vanessa Areeira, uma das autoras dos novos gigantones, explicou à agência Lusa que demorou um mês a completar os bonecos gigantes, cujas cabeças são esculpidas em cartão e espuma, a partir de várias pesquisas de imagens dos protagonistas.
A equipa de rodagem ainda fará filmagens no Teatro Sá de Miranda, com David Fonseca a interpretar uma versão do fado “Havemos de ir a Viana”, e num encontro na cidade minhota sobre doenças raras, no qual Giovane Brisotto falará sobre o seu caso de saúde.
“O sentido da vida” conta com coprodução do Brasil e de Espanha, e apoio das produtoras dos realizadores Fernando Meirelles e Pedro Almodóvar, e seguirá nos próximos meses para montagem e pós-produção.
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