O anúncio foi feito hoje pela organização do festival, que destaca a escolha da realizadora de “Irmã”, como uma “representante na nova geração de cineastas” para presidir ao júri, composto por mais seis colegas profissionais.
A 71.ª edição do Festival de Cannes decorre de 08 a 19 de maio, e o Prémio Câmara de Ouro (Caméra d’or) será apresentado na cerimónia de encerramento do certame, sucedendo a “Montparnasse Bienvenüe”, de Léonor Serraille, apresentado na Seleção Oficial – Un Certain Regard, no ano passado.
Ursula Meier é uma realizadora que “questiona a necessidade de filmar”. “Isso explica, sem dúvida, a sua filmografia compacta e emocionante, que inclui cinco curtas-metragens, duas obras para a televisão, dois documentários e duas longas-metragens para cinema”, afirma a organização, destacando os seus “traços inventivos de brilho”, que têm lançado um novo olhar sobre o panorama cinematográfico, estabelecendo-a definitivamente no cenário europeu.
Desde 1994, Ursula Meier tem vindo a compilar uma cinematografia “arrojada” que enfatiza a complexidade do mundo.
Admiradora incondicional de “Wanda” (Barbara Loden) e “Sweetie” (Jane Campion), Meier decidiu lançar-se na realização depois de descobrir “Money” (Robert Bresson).
Tornou-se então assistente de direção de uma das figuras cimeiras do cinema suíço, Alain Tanner – o realizador de Lisboa, “A Cidade Branca” -, com “Fourbi”, em 1996.
Ursula Meier, que se afirma “fascinada pelo conceito de terra de ninguém, construiu aí a sua imaginação, e consegue alcançar áreas enterradas da natureza humana, filmando com ternura, sem pathos ou julgamento, personagens que são guiadas por um poderoso instinto de sobrevivência”.
Em 2014, participou em “As Pontes de Sarajevo”, um trabalho coletivo de 13 cineastas europeus – entre os quais a portuguesa Teresa Villaverde -, com a direção de um dos segmentos do filme, apresentado em Cannes na Seleção Oficial.
Os seus filmes para cinema — “Home” (2008) e “Irmã” (2012, vencedor do Urso de Prata na Berlinale) – são internacionalmente reconhecidos pelo seu ângulo e escrita originais.
Radical e poético, o primeiro é uma fábula filmada com luz pálida e fotografia quente. O segundo, o único estreado em sala, em Portugal, é um conto moderno na forma de uma crónica familiar sóbria e pungente.
Sobre a categoria a que preside, a recém-nomeada presidente afirma que “um primeiro filme é o lugar de todas as possibilidades, de todas as audácias, de todos os riscos, de toda a loucura”.
“É costume dizer que não se deve pôr tudo num primeiro filme, mas o oposto é verdade, deve pôr-se exatamente isso – tudo –, da mesma forma que se deve pôr tudo em todos os filmes, preservando sempre, no nosso interior, aquele desejo original, vital, brutal e selvagem da primeira vez. Que imensa excitação e alegria descobrir todos esses filmes!”, acrescenta.
A atriz australiana Cate Blanchett vai presidir ao júri da 71.ª edição do festival, tornando-se na 12.ª mulher a fazê-lo, quatro anos após a realizadora neozelandesa Jane Campion, que foi também a primeira cineasta a receber a Palma de Ouro, por “O Piano”, em 1993, e o prémio de melhor curta-metragem, por “Peel”, em 1986.
As atrizes de Havilland, em 1965, e Sofia Loren, em 1966, foram as primeiras mulheres a presidir o júri principal do festival.
O realizador francês Bertrand Bonello vai ser o presidente do júri da Cinéfondation e da competição de curtas-metragens do festival.
Comentários