"Parabéns. Digamos que foi um momento punk. É o equivalente aos Beatles fumarem erva no Palácio de Buckingham, acho eu", reagiu Ricardo Araújo Pereira.
Estes versos da rábula "Rústicos pelo Epicurismo", do grupo Gato Fedorento, surpreenderam o humorista quando este prestava declarações aos jornalistas, após ter estado a tirar fotografias com os alunos, juntamente com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que entretanto se tinha retirado para uma audiência.
Aproximando-se dos alunos, no final da atuação, Ricardo Araújo Pereira agradeceu aos jovens, dizendo-lhes: "A minha comoção pelo facto de terem feito esta surpresa só tem paralelo com o embaraço que causaram".
"Ao mesmo tempo que cantavam este lindo poema, decorre na sala ao lado um encontro ao mais alto nível", salientou, referindo-se à reunião entre o Presidente da República e o presidente do Supremo Tribunal Administrativo.
Antes, o humorista e cronista deu uma pequena aula de análise literária a cerca de 40 alunos de duas turmas do ensino secundário da Murtosa, no distrito de Aveiro, com quem partilhou dois textos, um poema de Álvaro de Campos e um conto do cubano Eduardo Heras León.
Durante mais de duas horas, Ricardo Araújo Pereira falou com os estudantes sobre a sua paixão pela linguagem, afirmando que gosta mais de palavras do que de beijos, mas que não está a pensar escrever um romance.
O comentador do programa "Governo Sombra", transmitido pela TSF e pela TVI24, respondeu também a perguntas sobre outros assuntos, como o acordo ortográfico, os limites do humor, o seu posicionamento ideológico e o facto de ter recebido da associação ILGA um Prémio Arco-Íris.
A propósito destes últimos dois temas, o humorista disse que é criticado dentro da esquerda – "não diria que sou um perigoso esquerdista, para já, porque não sou perigoso, e segundo porque às vezes a própria esquerda duvida de que eu seja um esquerdista" – e que há quem lhe chame agora homofóbico, o que contestou e lamentou.
"Eu tenho dificuldade em admitir que me chamem homofóbico. É uma coisa que me aborrece. E por isso deixei de apresentar [os prémios da ILGA]", justificou Ricardo Araújo Pereira, referindo que na origem desta polémica estão declarações suas defendendo a utilização da palavra "mariconço" na comédia.
Marcelo Rebelo de Sousa assistiu, em silêncio, na última fila, a grande parte desta aula, e considerou que os alunos podiam ter sido mais interventivos: "Fiquei chocado com a vossa timidez".
Depois, pediu uma salva de palmas para Ricardo Araújo Pereira e convidou todos a irem até à varanda comer pastéis de Belém e beber um sumo que, observou, "sem qualquer conotação, é de laranja".
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