“A visão do império é um banquete de comportamento extremo”, afirmou o realizador do filme, que se estreia nos Estados Unidos esta sexta-feira e chegou a Portugal mais cedo, tendo conquistado o lugar número um nas bilheteiras nacionais com 100 mil espectadores em cinco dias.
“Provavelmente podemos colocar [o império] no mesmo livro das piores condições históricas possíveis”, considerou Ridley Scott. “Ao desfrutarmos de um filme de Hollywood, esquecemos que no Império Romano faziam aquilo como entretenimento, ter uma família devorada por um leão como se fosse assistir a um jogo de futebol”, continuou. “Isso não é engraçado”.
Apesar da “natureza cosmética” inerente a contar uma história que romantiza os gladiadores, Scott frisou que “Roma era verdadeiramente maléfica”.
O realizador explicou que a ideia de fazer uma sequela para “Gladiador”, que obteve a glória nos prémios da Academia de 2001 com cinco Óscares — incluindo Melhor Filme — surgiu pela persistência da importância cultural da história.
“O filme original nunca desapareceu”, afirmou. “Criou vida própria, começou a tornar-se muito global por causa das plataformas e claramente indicou que tínhamos de ter uma sequela”.
Uma vez que a história terminou de forma aberta, porque Lucilla (Connie Nielsen) sobreviveu e o filho Lucius (Spencer Treat Clark) desapareceu de forma misteriosa, havia uma sequela para explorar. E com o sucesso que “Gladiador II” já está a encontrar, antes mesmo de se estrear nos Estados Unidos, Ridley Scott arriscou que não ficará por aqui.
“Dada a performance no resto do mundo que vimos, vai certamente haver um Gladiador III”, partilhou o realizador. “Também se torna uma questão financeira, seríamos loucos se não considerássemos uma terceira versão”.
Denzel Washington, que interpreta o vilão da história Macrinus, afirmou que não sentiu pressão pela magnitude da produção e o peso histórico do filme. Scott considerou que o ator entregou uma das melhores performances da sua carreira.
A continuidade no futuro pode advir da forma como a sequela terminou, também de forma aberta. O ator Paul Mescal, que protagoniza este filme no papel de Lucius Verus, mostrou-se aberto a regressar.
“Ainda não falámos sobre isso, mas eu gostaria que entrássemos numa esfera mais política”, disse o ator, na conferência. “Lucius não tem desejo de liderar até ao momento em que isso lhe é posto em cima”, considerou. “E poderíamos desenhar um paralelo com algo como ‘O Padrinho – parte II'”, exemplificou.
Mescal, que teve de ganhar dez quilos de massa muscular para interpretar Lucius, quis distanciar a sua interpretação da de Russell Crowe no primeiro “Gladiador”, por achar que não fazia sentido tentar regurgitar o desempenho oscarizado. ”Não era esse o meu trabalho. Isso é uma imitação e não uma arte”, considerou.
O ator nomeado para um Óscar por “Aftersun” considerou que o sucesso de “Gladiador” em 2000 contribuiu para o fascínio continuado com gladiadores, porque trouxe a Antiguidade de volta para o ‘zeitgeist’ cultural. ”É notável perceber que a História essencialmente tem estado a repetir-se desde então”, afirmou.
Ridley Scott apontou para o mesmo. “Não aprendemos nada, historicamente. Continuamos a repetir os mesmos erros”, afirmou. ”Estamos a passar exatamente pela mesma coisa em várias partes do planeta”, continuou, dizendo que não precisava de indicar nomes para que as pessoas saibam do que está a falar.
“Um homem super-rico acredita que pode tomar conta do império. É-vos familiar?” questionou.
Com Connie Nielsen e Pedro Pascal (Marcus Acacius), “Gladiador II”, da Paramount Pictures, está cotado como um dos principais candidatos aos Óscares 2025.
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