O concerto inaugural do Palco Mundo pertenceu aos eternos Xutos & Pontapés, que tocam no festival desde que este chegou a Portugal, há 20 anos. Mas para ver esta primeira atuação, os festivaleiros ainda tinham de conseguir chegar ao recinto e ultrapassar a interminável espera que dava acesso aos autocarros.
Ainda na Gare do Oriente, o SAPO24 encontrou, por volta das 16h00, vários festivaleiros com receio de não chegarem a tempo de ver algumas das suas bandas preferidas. O principal problema? A falta de organização. Havia quem estivesse à espera há mais de uma hora, outros apenas 20 minutos, e a orientação por parte das equipas de apoio da Carris, da organização do festival ou da PSP não era a mais eficaz.
Para quem conseguiu ultrapassar o contratempo do autocarro (ou tenha optado por fazer o percurso a pé, cerca de 35 minutos de distância), foi possível ver Tim, Kalú, João Cabeleira e Gui a abrir o Palco Mundo com a Orquestra Filarmónica Portuguesa ao som do clássico ‘À Minha Maneira’. Durante o concerto, o tema a 'Noite Cai’ teve até direito a um enorme solo de saxofone de Gui e a balada ‘Para Sempre’ marcou o fim e os agradecimentos. “Obrigado Rock in Rio, obrigado Lisboa, obrigado ao pessoal todo. Mais uma vez, inesquecível”, disse Tim. “Até daqui a dois anos aqui, ou noutro sítio qualquer por esse país fora”, acrescentou.
Depois desta atuação, o número de pessoas aumentou consideravelmente, tornando as movimentações no interior do recinto cada vez mais complicadas, num espaço que, pelo menos neste primeiro dia de Rock in Rio, parecia bastante mais apertado do que o eterno Parque da Bela Vista.
Um pouco por todo o festival viam-se pessoas a tentarem encontrar um espaço para descansar, mas faltavam mesas, bancos ou mesmo relva, já ocupada por outros. No que diz respeito a relva, apesar da organização informar que existem 15 mil metros quadrados de relva plantada, uma parte do chão está apenas pintado e os tufos de ervas intervalam com terra e pedras muito desconfortáveis para quem deseja descansar no intervalo dos concertos.
Além disso, e devido ao pouco espaço, é quase impossível assistir a um espetáculo sentado, como em edições anteriores. O espaço de relvado em frente do Palco Mundo e a outros palcos não permite distância suficiente para ver o palco sem estar de pé e o chão não é confortável. Este ano, também não existem os famosos sofás característicos do festival e o frio, por causa da proximidade do rio, acompanhado por vento, tornam toda a experiência bem mais desafiante.
A acrescentar à falta de espaço, nesta edição num novo espaço, o Rock in Rio decidiu apostar numa enorme área de restauração, com 39 espaços de alimentação e bebida disponíveis para o público, mais 17 do que na edição anterior, e 234 metros lineares de atendimento de alimentação, em comparação aos 175 metros lineares disponíveis em 2022.
Rogério, um jovem festivaleiro, queixou-se do preço da comida elevado e criticou a organização por não deixar entrar mais de duas sandes por pessoa. "Tive de comer uma sandes em frente ao segurança e ainda deitei outra fora", disse, algo que enquanto frequentador de outras edições não foi obrigado a fazer. "Cheguei a trazer 10 sandes e isto não aconteceu".
Em contrapartida, Kátia elogiou as inovações positivas desta edição. Em primeiro lugar, a impecável higiene das casas de banho "com sanitas de verdade", a que se juntam bebedouros em todo o lado sempre com água. "Nesta edição é impossível desidratar", nota.
Extreme: Hino nacional, ‘More Than Words’ e outros temas
Com os concertos a começar religiosamente à hora marcada, o Palco Mundo deu as boas-vindas aos Extreme por volta das 18h00.
Com um guitarrista açoriano, Nuno Bettencourt, a banda norte-americana começou o verdadeiro ciclo de Rock no Palco Mundo, que duraria toda a noite. Com o Tejo por trás e a ponte Vasco da Gama na moldura, até o hino nacional, 'A Portuguesa', tocaram enquanto milhares de pessoas completavam a letra, num momento altamente patriótico.
“Os portugueses são os melhores cantores do mundo”, disse Bettencourt, antes de tocar o hino nacional, numa altura em que a seleção portuguesa está quase a estrear-se no Euro2024. Ainda na área do desporto, o Benfica também fez parte deste concerto, quando o açoriano decidiu colocar um boné do clube na cabeça.
O momento mais marcante de toda a atuação talvez tenha sido quando a banda matou saudades dos anos 90 e tocou o clássico mais conhecido da banda, ‘More Than Words’, o que emocionou toda a assistência que fez questão de se juntar e cantar em conjunto.
“Quando volto aos Açores, todos me dizem: nunca te vi tão feliz”, disse a certa altura Bettencourt. “Têm toda a razão. Os portugueses são os mais bonitos do planeta”, acrescentou. No fim despediu-se com “eu amo vocês”.
Os Evanescence e a sua Amy Lee
O momento seguinte no Palco Mundo seria dos Evanescence e, como se os anos não passassem por ela, a vocalista Amy Lee, sobrevivente da formação inicial da banda, cantou e encantou os milhares que apareceram para a ouvir.
A banda abriu com ‘Broken Pieces Shine’, de 2021, e seguiu depois para canções mais empoderadas como ‘Use My Voice’, deixando o repto: “Não deixem que falem por vocês, que vos façam sentir que o que pensam não interessa”. “O amor é poderoso. Usem o vosso fogo para algo bom. Usem a vossa voz”, disse Amy Lee.
Um dos momentos mais emocionantes foi quando tocaram o clássico ‘Going Under’ ou ‘My Heart is Broken’, este acompanhado do piano da vocalista.
Nesta altura já se punha o lusco-fusco sobre o Parque Tejo e o frio e vento da noite pareciam cada vez mais uma realidade. Apesar disso, o fogo de Lee durou até ao fim com o explosivo ‘Bring Me to Life’, que deixará saudades ao público de Lisboa.
Lisboa "still loves" Scorpions
A noite fecharia com os alemães Scorpions, mas não sem antes os Europe brilharem num Palco Galp a abarrotar e que deixou grande parte do público de fora.
Entre concertos houve ainda tempo para o 'Show 20 Years', o espetáculo de homenagem aos 20 anos do festival. Desta vez, a organização optou por um videomapping do estilo de parques da Disney, com um pouco dos momentos que marcaram o festival, acompanhado de fogo de artifício e outros efeitos. Foram aproximadamente sete minutos de imagem, som e efeitos especiais que lembraram o público de todos os momentos já vividos na Bela Vista.
Pontualmente, às 22h30, lá chegavam os clássicos, mas poderosos Scorpions, que aqueceram novamente a noite.
Liderados pelo guitarrista e fundador Rudolf Schenker, e na voz do vocalista Klaus Meine, o espetáculo deste sábado foi um passeio pelos 50 anos da banda.
Se em atuações anteriores o espaço era limitado, aqui o espírito do ‘rock and roll’ invadiu o festival e uma massa humana a perder de vista não quis perder grandes êxitos como ‘Still Loving You’.
A banda alemã começou com ‘Coming Home’ e seguiu para ‘Gas in the Tank’. Um dos momentos mais aplaudidos seria o solo em ‘Delicate Dance’ do guitarrista Matthias Jabs e o clássico ‘Wind of Change’ foi dedicado “a todas as pessoas que amam a paz no mundo”.
A plateia correspondeu ao repto da banda e juntou-se a Meine, de 76 anos, com um coro de vozes — e este não esqueceu a bandeira portuguesa nas costas enquanto o símbolo da paz era mostrado nos ecrãs gigantes.
Já mais para o fim do concerto foi o solo do baterista Mikkey Dee um dos momentos mais aplaudidos. O Palco Mundo acabaria por fechar com o clássico ‘Rock You Like a Hurricane’, que findou com uma debandada do Parque Tejo, lembrando bem os dias da Jornada Mundial da Juventude.
Alguns milhares de festivaleiros ainda ficariam para ouvir os Hybrid Theory num tributo a Linkin Park no Palco Galp, que durou a até depois da uma da manhã.
No final, a maior parte das pessoas optou por ir a pé até à estação do Oriente, apesar de uma fila de carros e buzinadelas encher as ruas do Parque das Nações madrugada dentro. Os autocarros eram só para quem tinha recolhido a pulseira verde no início da tarde e também iam cheios, como em qualquer hora de ponta da Carris.
No caminho para casa, ouviam-se conselhos para os próximos dias. Não esquecer o casaco é essencial, e para as senhoras, se querem ver os concertos da noite, é essencial o cabelo apanhado devido ao vento. Já os sapatos, devem ser o mais confortáveis possível, porque o terreno é um misto de terra e relva e o conforto deve ser a prioridade.
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