Inserido em pleno vale do Douro, o atual território de S. João da Pesqueira foi, ao longo de cerca de sete mil anos, um espaço de diversas comunidades, vivências, vicissitudes, ambiências sociais e económicas, dentro de um percurso histórico do qual resultou diverso património.
A sua definição, características e composição é o resultado de um processo histórico contínuo, em que o Homem foi procurando e encontrando nos seus espaços, áreas para a prática da caça, construindo e erigindo espaços funerários, ocupando e edificando recintos amuralhados no cume das elevações ou dominando as técnicas de trabalhar e utilizar diversos materiais como o ferro, bronze ou o cobre.
Foram também constituídas pequenas “villa” romanas e personificada uma nova mentalidade religiosa, edificadas muralhas, fortificações e pequenas igrejas. Foi procurado na agricultura o seu sustento económico, criando toda uma panóplia de pequenas unidades de produção e idealizada a construção de uma paisagem do vinho. Foram ainda estabelecidos lugares de culto, lugares mágicos e de romaria, tudo isto num território cujo eixo estruturante é o rio Douro e para o qual, recentemente, foi direcionada a construção de uma paisagem cultural e da qual resultou todo um conjunto de práticas sociais, económicas e culturais.
Nesta viagem pelo território de S. João da Pesqueira, são vários os espaços, locais e ambiências que o definem como território cultural de transformações e conformações, significado patrimonial da paisagem identitária do Douro. Inserido em território visual, da imagem e da cenografia da paisagem do Douro, os vários espaços, locais e momentos expressam a ligação contemporânea do território para com as comunidades que o constroem no quotidiano.
Percorra o vale do rio Torto, afluente do rio Douro, e visualize o legado da construção vitivinícola deste território, do “Douro Antigo”, vernacular, das formas de aparelhamento do xisto, do branco dos armazéns de vinho e socalcos de vinha, das curvas cénicas da Estrada Nacional 222 que percorre estas arquiteturas vernaculares, núcleo primordial da área classificada pela UNESCO, com elevado grau de sensibilidade, gestão, manutenção e inserido na Região Demarcada do Douro.
Suba ao cume de atuais elevações sagradas que dominam o horizonte visual do vale do rio Douro, como sejam a Senhora das Neves, a Senhora de Lurdes, a Santa Bárbara e S. Salvador do Mundo, espaço simbólico bem conhecido de Miguel Torga, de onde se observa o então “agreste” Cachão da Valeira, o local da Ferradosa, associado aos ritmos do caminho de ferro, e a paisagem vitivinícola de Vargelas.
Território dinâmico, de produção e consumo cultural, aberto e habitado, também é constituído por conjuntos e sítios, monumentos, museus, itinerários, rotas e eventos culturais que expressam momentos da História Local e consequentemente da História de um território e do País.
Conheça a Praça da República em S. João da Pesqueira e o seu legado medieval de afirmação e constituição do que viria a ser o território português e todo o urbanismo patrimonial do século XVIII, o núcleo histórico de Trevões e a vasta rede de casas nobre dos séculos XVII e XVIII, as diversas estruturas museológicas que abordam as temáticas da arqueologia e da arte contemporânea (Museu Eduardo Tavares), a etnografia (Museu de Trevões) ou a arte sacra (Museu de Arte Sacra).
E sendo um território de apropriação e intemporalidade dos construtores da paisagem, o vinho e todos os seus quotidianos estão ritualizados no Museu do Vinho, assim como todo o legado da cultura e dieta mediterrânea, expressa na cultura do azeite e visível no Museu do Azeite. Neste contato com o território e as pessoas, a rede de percursos pedestres percorrem esta realidade social e cultural.
A este território, espaços, lugares e sítios simbólicos, estão consubstanciadas as imaterialidades do território agrícola, aspetos e quotidianos do País Vinhateiro, mas também usos e costumes que derivam da construção diária da paisagem, interpretando-se o quotidiano, o modus vivendi dos conservadores desta paisagem. Ao sabor dos ritmos, azáfamas, ciclos e mudanças da paisagem cultural, a época das vindimas consagra o ato supremo da celebração do ritual da proximidade destas comunidades com o território milenar, o atual território do vinho.
Território iminentemente agrícola e cultural, com características muito próprias e onde a orografia e a fisionomia definem muito bem a sua identidade, São João da Pesqueira é uma sucessão temporal de vivências, legados, gostos e percursos. Na antiguidade clássica acreditava-se que a Natureza possuía quatro elementos…terra, ar, água e fogo. Neste território também é vinho. Um território com História…
Percorra, olhe e sinta o espírito do lugar.
Conheça as essências definidoras da sua identidade.
A Minha Terra é uma rubrica do SAPO24 onde os leitores são desafiados a escrever sobre o sítio onde vivem, as suas particularidades, desafios e mais-valias. Está interessado/a em participar? Envie o seu texto para 24@sapo.pt
Comentários