
São esses os destaques do evento que, promovido pela autarquia do distrito de Aveiro e da Área Metropolitana do Porto mediante um investimento de 25.000 euros, tem curadoria de São Castro e reúne coreógrafos consagrados e emergentes, propondo-se afirmar a dança como “prática plural e inclusiva”, e “uma experiência que atravessa e transforma os lugares e as pessoas”.
É isso que pretende demonstrar a curadora do festival, com um programa que “envolve artistas de diferentes gerações e cruza linguagens distintas”, como acontecerá na estreia absoluta de “Extraordinário, Desagradável”, espetáculo de dança e circo com a participação da comunidade local.
A coreógrafa São Castro realçou ainda à Lusa o contributo das performances em espaço urbano ou fabril para a promoção de “um acesso mais amplo” à dança contemporânea, “criando mecanismos de incentivo à fruição cultural” em comunidades que nem sempre incluem esse género artístico nas suas escolhas de lazer.
O presidente da Câmara de São João da Madeira, Jorge Vultos Sequeira, defende que essa aposta em palcos menos convencionais tem ajudado ao crescimento da componente formal da dança no seu município: “É uma expressão artística que sempre esteve muito presente no movimento associativo local e ao nível formativo, mas este evento veio dar maior projeção e notoriedade a esse trabalho, levando-o ao encontro de um público mais vasto e contribuindo, dessa forma, para a dinamização da cidade”.
Perto do arranque da sexta edição, o autarca socialista garante que o lançamento do A Cidade Dança foi, por isso, uma decisão acertada, já que “o impacto da dança junto do público tem sido crescente” e o festival vem permitindo a apresentação regular de bailarinos de diferentes instituições do concelho, tanto nos palcos convencionais da cidade como “em praças públicas, jardins e até em chão de fábrica”.
Essas apresentações em contexto fabril vão decorrer já a partir de terça-feira em diferentes empresas de São João da Madeira – como a Belcinto, a Bulhosas e a Cartonagem Trindade – e estão reservadas ao pessoal dessas unidades industriais, decorrendo no horário normal de laboração.
A 01, 02 e 04 de maio sucedem-se as sessões gratuitas no espaço público, com 13 escolas e coletividades do concelho a apresentarem os respetivos coletivos de dança na Praça 25 de Abril, na Capela de Santo António e no Parque de Nossa Senhora dos Milagres.
Quanto aos espetáculos que implicam aquisição de bilhete, o primeiro é o já referido “Extraordinário, Desagradável”, da autoria de Joana Providência e Daniela Cruz, que quarta-feira apresentam no Centro de Arte Oliva uma performance comunitária com audiodescrição.
“Ao longo de um mês, os participantes inscritos trabalharam em grande proximidade numa criação que levanta questões como ‘Qual é a importância de assistir a um espetáculo, ler um livro ou ver um filme?’, ‘Que alimento é este que faz sonhar, que diverte, que faz descobrir mundos, pensar e refletir?’”, lê-se na sinopse da produção.
“Dialoque Series” é a proposta de 01 de maio para os Paços da Cultura, com autoria de Miguel Esteves e Miguel Ramalho. O espetáculo aborda “uma série de diálogos e reflexões de dois indivíduos dentro de um espaço e tempo específicos – dois seres que, parecendo ser a mesma pessoa, se encontram no exato momento em que um morre e o outro nasce”, antecipa a organização do festival.
Ainda relativamente a Miguel Ramalho, volta ao festival de São João da Madeira no dia 03 para uma ‘masterclass’ dirigida a profissionais da dança, estudantes desse género artístico e outros bailarinos com experiência. Com o público, esse profissional partilhará a experiência que adquiriu ao longo de uma carreira que, além de trabalho com coreógrafos como Sasha Waltz, William Forsythe, Victor Hugo Pontes, Marco da Silva Ferreira e Olga Roriz.
No dia 02, o palco passa a ser o da Casa da Criatividade, que recebe “Muda”, da Companhia Clara Andermatt e do INAC – Instituto Nacional de Artes do Circo. Combinando dança com acrobacia, a produção “reflete sobre a natureza multifacetada da condição humana e explora o trabalho performativo em correlação com a estética do cinema mudo”.
O programa do A Cidade Dança prossegue a 03 de maio com a exibição do filme “Super Natural”, dirigido por Jorge Jácome e coproduzido pela companhia Dançando com a Diferença e pelo Teatro Praga. Nos Paços da Cultura, essa obra “nos limites entre documentário e ficção” recorre a curiosidades, videoclipes e confissões para questionar, a partir de cenários da “luxúria autóctone da Madeira”, se o conceito de “natural” não deveria expandir-se “para abranger muito mais complexidade”.
O festival termina no dia seguinte na Casa da Criatividade, com a apresentação matinal de “Sublinhar”, um espetáculo de Marta Cerqueira para crianças e famílias. Partindo da remoção da palavra “linha” ao termo que dá título do espetáculo, a coreógrafa vai correlacionar os movimentos do traço desenhado com os gestos do corpo, “repleto de ossos, tendões, músculos”.
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