As árvores não têm pernas para andar. Mais do que o título do espetáculo que Joana Gama apresenta no Pátio do Ulmeiro, em pleno parque de Serralves, no Porto, esta ideia é a constatação de uma evidência — e de uma urgência: o ambiente não pode fugir. Quando a pandemia veio, as árvores ficaram sozinhas nos jardins, enquanto as crianças se guardavam em casa.
Agora, entre os receios e as seguranças, é tempo de voltar a olhar para a lama — mesmo se apenas à distância de um ecrã.
Um ano após ter sido interrompido por causa da covid-19, o Bioblitz regressa à fundação portuense, com um novo formato, adaptado às contingências de uma doença que continua a trazer incertezas e riscos. Mais do que apresentar a natureza do parque, o objetivo este ano é ajudar as escolas a falar da biodiversidade urbana.
Assim, desde esta segunda-feira e até ao final da semana, as escolas de todo o país podem ter acesso a conteúdos exclusivos, numa página especialmente criada, onde encontram pequenos vídeos, fichas e outros conteúdos produzidos pelo serviço educativo da Fundação de Serralves.
No próximo fim de semana, 5 e 6 de junho, os portões do parque abrem-se entre as 10 e as 19 horas, com entrada gratuita, para todo o público conhecer as atividades do parque.
O Bioblitz, em 2019, recebeu mais de 50 mil pessoas, conta Ana Pinho, a presidente do Conselho de Administração e da Comissão Executiva da Fundação de Serralves, na apresentação da sétima edição de um evento que, diz, “é já uma referência enquanto evento pedagógico e científico”.
Isto serve para Serralves cumprir “o seu compromisso com a sustentabilidade e a literária ambiental dos jovens”, afirma Helena Freitas, coordenadora-geral do parque, na sessão de apresentação da iniciativa. Depois de um ano de isolamentos, “a apetência é ainda maior pela natureza”.
Esse propósito aqui é cumprido com uma programação que recria uma telescola, com vídeos gravados pelo serviço educativo da Fundação no parque, onde os funcionários mostram árvores, líquenes e animais, explicando as suas relações.
Mariana Roldão, responsável pelo serviço educativo, conta que este trabalho permite “tirar um bocadinho” do parque para o levar aos ecrãs dos alunos. “Cada área temática tem um vídeo, acompanhado de uma ficha de apoio ao professor”, para que o docente, esteja onde estiver, possa acrescentar explicações e dinamizar as atividades com os alunos — seja na sala de aula, seja no recreio das respetivas escolas.
Esta programação, que tem em conta os recursos (limitados) dos estabelecimentos de ensino, foi desenvolvido em diálogo com as escolas para “não ser só um acrescento”.
Mas no fim de semana, as iniciativas deixam de ser à distância e em exclusivo para as escolas: o parque abre-se gratuitamente às famílias, com visitas de campo, oficinas pedagógicas, visitas orientadas ao parque e dois espetáculos ao ar livre, com acessos limitados aos bilhetes disponíveis no próprio dia.
Para além disso, o Treetop Walk, a grande estrutura de madeira construída à altura da copa das árvores do Parque de Serralves terá visitas livres nos dois dias, permitindo conhecer uma nova perspetiva das paisagens e da biodiversidade do local.
O Bioblitz tem como mecenas a LIPOR, a entidade responsável pela gestão, valorização e tratamento dos resíduos urbanos produzidos por Espinho, Gondomar, Maia, Matosinhos, Porto, Póvoa de Varzim, Valongo e Vila do Conde. Estes municípios terão também, ao longo da semana, um papel importante, com conversas ‘online’ sobre o ambiente, abertas à comunidade.
Tudo isto torna possível, garante Ana Pinho, “voltar a vivenciar o Parque de Serralves”, entre os animais que povoam o prado e as árvores que resistem imponentes, rodeadas de líquenes e briófitas, quais esculturas vivas e colagens naturais.
A programação completa, para as atividades exclusivas das escolas e as atividades abertas a todos, bem como as medidas de prevenção e controlo no contexto da pandemia de covid-19 estão disponíveis no site do Bioblitz de Serralves.
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