“Só a pensar” foi criada e gravada ainda em 2019, “a pensar no que poderia ser um próximo disco”, que, na altura, Alex D’Alva Teixeira e Ben Monteiro não sabiam se iriam “fazer ou não”.
Entretanto, as coisas mudaram e “Só a pensar” passou a ser o tema de avanço de “Somos”, o terceiro álbum da banda, que deverá ser editado em 13 de novembro, contaram os dois em entrevista à Lusa, por videochamada.
“A parte estranha desta canção é que é sobre o que acontece quando não está mais ninguém à nossa volta, quando o ruído acaba e aquelas coisas em que não queremos pensar nos invadem”, contou Ben Monteiro.
O vídeo de “Só a pensar” foi filmado no Porto e no caminho até Lisboa, “à noite, quando já não estava ninguém nas ruas, e em lugares como uma praia deserta, um bosque sem ninguém, e acabou por ser quase meio profético”.
Para Alex D’Alva Teixeira é “curioso” como acabaram por “fazer uma peça sobre isolamento, numa altura em que se poderia estar em contacto presencial”.
A ideia era começarem a trabalhar o resto do álbum numa residência artística. Mas tendo em conta que Ben Monteiro pertence a um dos grupos de risco – tem asma e uma série de doenças respiratórias – “Somos” terá de ser feito “da forma mais cuidadosa possível”.
Embora habituados a trabalharem “um bocadinho à distância”, Ben lembra que costumam “estar juntos para fechar as coisas”, nomeadamente numa sala de ensaios que tinham arrendada.
“Cancelámos logo a sala de ensaios, fomos esvaziar aquilo e mandámos vir, ‘online’, o material que faltava para cada um nós poder ser independente para trabalhar em casa”, contou Ben.
Na primeira semana do primeiro estado de emergência, decidiram que o terceiro álbum teria que “ser feito à distância”.
Além de “Só a pensar”, ainda não há mais nenhum tema pronto. “Temos ideias em que estamos a trabalhar, uma série de ideias”, partilhou o músico.
Além de estar decidido que o novo álbum será feito à distância, os dois também já definiram que querem que seja “um álbum mais colaborativo, em comparação com os anteriores”.
“A nossa ideia é chamar a este álbum ‘Somos’, não só porque sentimos que descobrimos qual a identidade da nossa banda, mas também porque vai ser interessante saber quem somos nesta altura de crise”, referiu Alex, antevendo que, “provavelmente, este disco poderá ser o retrato mais cru e mais realista” de quem são os D’Alva.
A ideia de fazerem um álbum mais colaborativo é também “um voltar ao início”, à altura em que criaram o ‘hashtag’ #somosdalva.
“Criar um espaço onde toda a gente possa existir, independentemente de género, religião, etc. D’Alva é esse espaço onde todos somos e estamos juntos”, disse.
Ben Monteiro e Alex D’Alva Teixeira dão a cara pelos D’Alva, mas em palco estão sempre seis pessoas. Os outros quatro músicos regressam em “Somos” e a ideia é juntar “uma série de amigos”, que os dois foram “fazendo ao logo do tempo”.
“Nesta primeira música [‘Só a pensar’] colaborámos com um amigo nosso, saxofonista, o Zé Maria. É um 'condimento', a música ganha uma coisa que não tem”, referiu Ben.
O músico lembra que “parte do ADN dos D’Alva é experimentar coisas diferentes e sem preconceitos - soe mais ou menos audível, mais ou menos pop, o que for”.
E a gravação de um álbum à distância é também isso. “Queremos continuar a fazer o que gostamos de fazer, e há sempre maneiras de o fazer. A forma pode ser diferente, mas o conteúdo vai sempre acontecer”, garantiu Ben.
O disco de estreia dos D’Alva – Ben Monteiro e Alex D’Alva Teixeira –, “#batequebate”, foi editado em 2014. Depois, vieram os concertos e colaborações na escrita e produção de canções para outros artistas.
O segundo disco, “Maus Êxitos”, foi editado no final de 2018.
Em 2019, tiveram “a sorte” de terem tido “um ano ativo”: “Conseguimos tocar ao vivo e colaborar com outros artistas”.
“Neste momento de incerteza, estamos a tentar usar a nossa criatividade, não só para subsistir, mas também para arranjar formas criativas de continuarmos a fazer o que amamos, de continuar a comunicar com as pessoas”, disse.
Como são autores e compõem e produzem para outros artistas, acabam por conseguir viver esta altura, em que a Cultura em Portugal vive uma crise sem precedentes, “com algum pé de meia”.
“De uma maneira ou de outra, nós conseguimos gerar alguma coisa, podemos fazer música nova, continuar a editá-la, e ainda que a música em si não gere muito dinheiro, podemos construir coisas à volta que podem gerar”, referiu Ben.
Neste momento, a preocupação de Ben Monteiro e de Alex D’alva Teixeira é o resto dos D’Alva: “Quem sai mais afetado são os músicos que tocam connosco e a nossa equipa técnica, e sentimos alguma impotência em relação a isso”.
O setor cultural está praticamente encerrado em Portugal desde meados de março, quando foi decretado o estado de emergência para conter a pandemia da covid-19.
Segundo a Associação de Promotores de Espetáculos, Festivais e Eventos (APEFE), desde meados de março e até ao final de abril foram cancelados, suspensos ou adiados cerca de 27 mil espetáculos. A APEFE contabilizou apenas espetáculos com bilhetes pagos.
O Plano de Desconfinamento do Governo, divulgado na quinta-feira, prevê a reabertura de cinemas, teatros, auditórios e salas de espetáculos para 01 de junho, “com lugares marcados, lotação reduzida e distanciamento físico”. A lotação destes espaços não foi, para já, divulgada.
Em relação à possibilidade de este ano se realizarem, ou não, os chamados ‘festivais de verão’, o primeiro-ministro António Costa referiu, também na quinta-feira, que está a ser feita “uma avaliação”.
Todas as decisões relativas ao Plano de Desconfinamento serão “reavaliadas a cada 15 dias”.
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