“Sou de Escalhão, sou sim, Escalhão sim!”. Assim começa o hino desta freguesia do distrito da Guarda que, apesar de constar em poucos papéis e registos escritos, vive e encanta com todos os contos e memórias dos mais experientes, lidando com a despovoação que assola o interior do país. No entanto, os filhos da terra voltam com um sorriso na cara, sempre acreditando que a aldeia tem potencial para muito mais, como já teve no passado.
Tem na Guerra da Restauração o seu maior pedaço da História Portuguesa. Contando-se que o heroico povo de Escalhão aguentou diversos dias dentro da sua Igreja Matriz, cercada pelos espanhóis, terminando em janeiro, um orgulho dos demais, a atirar um sino a um dos oficiais do exército espanhol que controlava aquela ofensiva. Ainda hoje se pode ler um texto referente a este episódio ao lado do dito monumento.
Foi durante essa guerra que, a 29 de fevereiro de 1648, D. João IV concedia a Escalhão o título de “Honra”. Mas, apesar de guardarmos estas memórias, Escalhão tem hoje um reportório capaz de o colocar no mapa e que não pode ser olvidado. Para além da sua amêndoa que floresce perto do Douro e Barca D’Alva, os bolos que são preparados com receitas milenares, o pão que fomenta a economia local e é vendido em diversas partes do país, os enchidos e o famoso azeite, que despontou a alcunha dos habitantes de Escalhão, os “azeiteiros”, há algo que se destaca ainda mais: as pessoas.
As pessoas de Escalhão sabem receber, abrem a porta de sua casa, humildemente, aos transeuntes e não rejeitam um copo de vinho de uma adega particular qualquer, ou um petisco preparado na hora. É nelas que reside a esperança e o almejar algo mais para esta aldeia que tanto orgulha os seus filhos.
Banhada pelo rio Águeda e Douro, bem como pela ribeira de Santa Maria de Aguiar, onde se pode encontrar uma ponte romana, considerada Património Nacional, contando com um museu, biblioteca, cruzeiro, cruzes que representam a religião da população e sendo parte fulcral do Parque Natural do Douro Internacional, Escalhão é um misto de sentimentos e de paixão por aqueles que aqui trilharam ou trilham as suas ruas, que conhecem os seus cantos e recantos e que, apesar do sentimento por vezes se tornar agridoce, pelo êxodo rural que se tem demonstrado demolidor, levam sempre Escalhão no coração onde quer que estejam.
É com orgulho que digo: “Sou de Escalhão, sou sim, Escalhão sim!”
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