A conversa com Teresa Tavares na íntegra:
A conversa não arrancou bem, bem com o início da jornada profissional da convidada, mas quase. Ou seja, embora também envolvesse castings e jovens, não era uma novela portuguesa, era sim o programa "Curto Circuito" (vulgo CC). Criado em 1999 por Rui Unas e Pedro Paiva, teve as suas primeiras emissões no extinto CNL (Canal Notícias de Lisboa) antes de assentar casa na SIC Radical. Questionada como foi apresentar o CC com Bruno Nogueira, Rui Unas e outros nomes bem conhecidos da diáspora, Teresa Tavares confessa que nunca teve a ambição de ser apresentadora.
"A história do Curto Circuito na minha vida é muito engraçada porque nunca sonhei ser apresentadora. Nunca tinha pensado nisso. Tinha acabado de fazer 'Jardins Proibidos', que foi o meu primeiro trabalho profissional como atriz. E havia um casting para o Curto Circuito. Eu vou lá parar com uma amiga minha, que queria ir, mas que não queria ir sozinha. São daquelas histórias, eu não ia sequer fazer o casting", conta.
Na altura, com apenas 17 anos, tinha acabado de gravar a novela "Jardins Proibidos". E naquele tempo, pegando nas palavras da própria, tinha "muito tempo livre" — o que impreterivelmente deu muito jeito porque no dito casting pediram para que falasse e improvisasse um pouco sobre música. Neste caso, o tal tempo livre permitiu-lhe ouvir e saber o suficiente sobre PJ Harvey para que lhe dissessem "isto não correu mal, se calhar vais passar à fase seguinte". No entanto, a sua preocupação era outra. "Eu só passo se a minha amiga passar", diria a um dos responsáveis.
A amiga não chegaria a ser apresentadora, nem atriz sonhava em sê-lo naquela altura. O importante era preservar a amizade. Mas a verdade é que às vezes a vida tem outros planos e aquilo que não é um sonho passa a ser uma realidade. E foi precisamente o que aconteceu a Teresa Tavares, que acabou por ser a vencedora da 1.ª Edição do CC Casting, em 2001, altura em que conciliava ao mesmo tempo a apresentação do programa com as gravações da novela "Anjo Selvagem".
O seu talento levou a que conduzisse o programa ao lado de nomes como Rui Unas, Fernando Alvim, Bruno Nogueira ou Rita Mendes. No entanto, foi o mesmo programa que esteve na origem de um momento caricato da televisão portuguesa e que marcou uma geração (mais jovem) nos anos 2000, no qual a convidada do nosso podcast é uma das protagonistas. Falamos daquele beijo com Rita Andrade (hoje nutricionista) no Rock in Rio Lisboa num estilo Britney Spears & Madonna nos MTV Video Music Awards em 2003.
Hoje, provavelmente ninguém ligava ou dava muita importância ao sucedido. Mas à época, as coisas eram diferentes. Originou muito sururu porque não era algo que se via na televisão. Até mesmo na mais radical das SIC. Na prática, jogou-se ao "Bate Pé", brincadeira de recreio nas escolas dos anos 80/90 (provavelmente até antes) que iniciaram muitos namoros e onde se deram os primeiros beijos.
"Aquilo foi uma daquelas coisas à [Fernando] Alvim, que nos disse ah, vocês não são capazes de vir aqui jogar a um jogo. E eu, ó Alvim, vá lá. Aquilo foi uma brincadeira. Eu jamais sonharia... Aquilo cortou para intervalo, o Alvim estava delirante, as pessoas à volta delirantes, e eu recebi durante uma semana ou duas chamadas das mais diversas revistas, jornais, a pedir reações", recorda, explicando que tudo se deve a um desafio lançado pelo anfitrião da Prova Oral, naquele tempo apresentador do Curto Circuito da SIC Radical. "Foi literalmente uma coisa que aconteceu. Lembro-me de na altura pensar, mais nova: já viste tantos trabalhos como atriz, tão bons, e o vídeo que as pessoas mais vêm sou eu a dar um beijo na boca?", lembra.
Jardins Proibidos? "Na altura não se faziam quase coisas portuguesas"
"Soube deste casting pela televisão. As coisas eram assim. Não havia redes sociais, não havia nada disto. Havia telemóveis, uns com uma malinha, mas eu não tinha. Isto era um mundo completamente diferente. Acho que soube do casting na televisão ou numa coisa assim", recorda a convidada.
Explica então que se inscreveu, foi sozinha do Ribatejo até Lisboa fazer o casting e esqueceu-se disso. Uns tempos depois, é já com a mente noutras paragens e fisicamente na Finlândia "dos mil lagos", onde estava através de um intercâmbio de teatro, que recebe a notícia que foi selecionada para fazer parte do elenco juvenil da novela.
"Foi uma coisa... queres ser atriz e isto acontecer no primeiro casting", diz, recordando com carinho os tempos em que apanhava a boleia de José Raposo e Maria João Abreu para Lisboa (Teresa morava na Azambuja, o ex-casal no Cartaxo) para poder gravar a novela.
Escusado será dizer que a sua vida mudou. A meio do 12.º ano, a rapariga tímida e discreta que andava no teatro em Vila Franca de Xira passou a ser uma cara bem conhecida - não só na escola, onde as colegas ficaram surpreendidas por ter sido escolhida, mas no geral. E tudo acontece mais ou menos de um dia para outro.
"A tua vida muda muito rapidamente. Quando começas a trabalhar, é uma coisa prática. Deixas de ter os mesmos tempos de lazer do que os outros. Ia às aulas fazer as disciplinas que tinha de fazer e saía a correr para ir trabalhar. A tua vida, de repente, muda completamente", lembra, reiterando que nos anos 2000 o número de produções nacionais era muito menor, pois "não se faziam quase coisas portuguesas".
Por fim, e já que o tema é a juventude, diga-se que Teresa Tavares apanhou o comboio daquela geração de atores portugueses que fez parte da escola-fenómeno "Os Morangos com Açúcar" e também estudou no Colégio da Barra. A atriz fez o papel de Mónica, prima de Ricardo (Diogo Amaral) na temporada original, a de Pipo (João Catarré) e Joana (Benedita Pereira), que foi para o ar em 2004. Portanto, tivemos de fazer a pergunta óbvia e tentar saber se ia voltar ao remake que aí vem. A resposta a isso foi: "Que eu saiba, não".
Esta entrevista está disponível na íntegra no podcast Acho Que Vais Gostar Disto, que podes ouvir nas plataformas habituais.
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