A conversa com Teresa Tavares na íntegra:

Nos anos 2000, uma bolsa de estudo de representação levou Teresa Tavares a viver um par de meses em Londres e a regressar várias vezes depois disso. No entanto, o bichinho pela capital inglesa esteve sempre ativo e a rodagem de "Collider" na Irlanda só reavivou esse sentimento. Então, em 2013, depois de filmar esta produção luso-irlandesa de ficção científica, decidiu tentar a sua sorte em Londres e acabou por ficar lá um ano.

Durante este período, a atriz fez alguns filmes, apanhou "muito frio" e a vida nem sempre foi fácil. No entanto, sente que foi uma "experiência incrível" pelo desafio que acarretou. É que habituada a trabalhar de forma consistente há muitos anos em Portugal, teve de lidar com uma realidade bem diferente ("num momento estás a trabalhar e no outro nunca sabes o que vai acontecer a seguir"). Ou seja, nunca tinha vivido com "tanto tempo livre". Foi um período de uma enorme aprendizagem.

"Como é que vai ser agora? Aqui ninguém sabe quem eu sou. Ninguém se vai lembrar dos 'Morangos com Açúcar' e de tudo o que eu fiz", diz, aferindo que o tempo que passou fora foi um período de enorme crescimento ("mesmo!"). "É um período em que te agarras ao que tu queres, ao que acreditas, mas ao mesmo tempo chegas a um set e não conheceres uma única coisa pessoa. É muito impactante chegares e não conheceres ninguém. Traz uma grande aprendizagem porque retira-te de um território seguro", remata.

Há ainda toda a questão de representar noutro idioma, noutra língua. E se esse é o problema para muitos, não parece ser para Teresa Tavares. 

"As pessoas dizem que não é a mesma coisa. Nada é a mesma coisa. Esta conversa [a do podcast] não é a mesma coisa amanhã. Acho que há muitas coisas interessantes em representares noutra língua. Até o timbre da tua voz muda quando falas noutra língua. É interessante a tua aproximação à realidade, às palavras", explica, elaborando que isto não quer dizer que representar noutra língua não seja desafiante.

Conforto e expressão

Com duas décadas a trabalhar na representação e nos mais variados registos, procurámos saber se se sentia mais confortável ou sentia diferença entre fazer cinema, teatro, séries ou televisão.

"Gosto muito de trabalhar em qualquer um dos registos. Não me sinto mais confortável num ou noutro. Acho que é sempre um território de descoberta", diz, justificando que ser atriz é ultimamente a sua forma de expressão.

"Para mim, ser atriz é a forma como me expresso melhor. Na verdade, expresso-me melhor se estiver a representar do que aqui a falar convosco. Acredito mesmo, que no limite, se olhares com atenção, vais perceber mais sobre mim se me vires a fazer um papel do que aqui", diz, alongando que é a representar que encontra o seu caminho e os seus desafios.

"A cada projeto sinto-me desafiada a ir a outros sítios, a experimentar outras coisas. Tenho esta paixão, este entusiasmo, pelas pessoas. Penso: como é que seria estar nesta situação, que não é aquela em que eu estou? Como é que vou olhar para outra pessoa que agora me ponho, com esta personagem? Isso é tão rico que suplanta tudo o resto", conta.

Produção nacional vs internacional

É com alguma naturalidade que a conversa passou também pelo que se "faz lá e cá". E Teresa Tavares é da opinião que, apesar de não dar para comparar, em termos condições de produção, aquilo que é feito em Portugal e no estrangeiro, não devemos de olhar para esse fator como uma limitação para não fazer as coisas ou deixar de fazer projetos porque os meios são escassos.

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"No outro dia estava a falar sobre isso com outras atrizes Sobre os meios que nós temos para, por exemplo, fazer séries, que são incomparáveis com os meios que a maior parte dos países na Europa e os Estados Unidos têm — e mesmo os da América do Sul. Nós temos, evidentemente, muitos menos meios. E é desejável que passemos a ter mais", começa por dizer. "Mas até lá não vale a pena estar sempre a chorar sobre os meios. Temos de trabalhar para ter mais e quando sabemos que são estes os meios que temos então vamos trabalhar com os meios que temos. Não é ficarmos encolhidos por termos menos e não fazermos as coisas", conta.

A conversa salta depois para o que falta fazer e o que já fez. No primeiro caso, diz que falta fazer "tudo!", muito porque considera que não vai parar tão cedo ("acho que é feitio") . No segundo, sobre o trabalho passado e se tem algum arrependimento, diz não ter vergonha de nada do que fez e que se orgulha de todos os projetos que abraçou ao longo da carreira ("sinceramente").

Respondendo à questão se é ou não muito autocrítica, Teresa Tavares indica que procura "ser justa". 

Esta entrevista está disponível na íntegra no podcast Acho Que Vais Gostar Disto, disponível nas plataformas habituais.