Na opinião da equipa do Acho Que Vais Gostar Disto, não há grandes dúvidas e parece que na maioria das reviews internacionais também não: é apenas janeiro, mas já se pode sentir que é das melhores coisas que deverá passar pela televisão em 2023.
O que é curioso porque em "Long, Long Time", durante a maior parte do tempo, os holofotes até nem estão nos dois protagonistas da história, Joel e Ellie, que, depois do fatídico final do segundo episódio, encontram-se a uma dezena de quilómetros de Boston e prestes a fazer uma caminhada de cinco horas em que os velhos instintos paternais de Joel ameaçam fazer uma aparição e Ellie confronta Joel sobre a morte de Tess.
"Tenho pensado no que aconteceu. Ninguém te obrigou ou à Tess a ficar comigo. Nem a alinhar neste plano. Precisavam de uma bateria de camião ou assim e fizeram uma escolha. Portanto, não me culpes por algo que não é culpa minha", dispara Ellie, mas com uma cara de quem não sente muito tudo aquilo. Joel a ser Joel, acena apenas com a cabeça e não responde.
A caminhada prossegue, dão-se algumas lições sobre o passado e, numa loja de conveniência, Ellie espeta o seu canivete suíço na cabeça de um infetado soterrado nos escombros da cave — sorrateira, sem que Joel desse por isso. Depois, há pouco destas duas figuras porque o duo principal passa a ser outro.
Ou seja, o episódio leva-nos até a Bill (Nick Offerman) e à sua história de amor vivida com Frank (Murray Bartlett, o Armond de "The White Lotus"), contada através de flashbacks que percorrem um período de 20 anos (de 2003 a 2023). É um episódio sem clickers, sem o sentido de perseguição e fuga dos primeiros, mas com a mesma intensidade.
Na verdade, é um episódio que soa a filme mais curto do universo "Last of Us", que vivia bem por si só. Neste caso, um filme com armadilhas metafóricas e literais, em que as primeiras estilhaçam o coração de Bill e Frank com amor e esperança, ao passo que as segundas explodem cérebros de infetados — coisa que Bill vê num monitor como se fosse uma série enquanto se deleita com uma farta refeição.
Importa também frisar que praticamente nada do que vemos neste episódio se passou no jogo. O Bill de Nick Offerman existe e é fisicamente semelhante ao homólogo digital, mas o que vemos é novidade e acréscimo narrativo para todos. Nestes 80 minutos, no que a este incrível romance para a posteridade televisiva diz respeito, pouco ou nada adiantou andar de comando na mão ou a lamber vídeos das cenas cinemáticas no YouTube. Exemplo: o Frank original é apenas uma personagem mencionada em diálogos e que deixou um bilhete a explicar o seu desfecho, que foi diferente do da série. Assim como não há momentos ao piano a cantarolar a música de Linda Ronstadt que empresta o título oficial ao episódio, não há cenas que revelam que o importante na vida é partilhado por momentos simples e humanos como brindar com morangos frescos.
Mas quer isto dizer que o episódio não está a ser fiel ao material de origem? Não, de todo. É a história do jogo, mas dá à relação de Bill e Frank, que é apenas tocada ao de leve, uma nova dimensão. Dimensão tal que acabou transformada num episódio emocionalmente poderoso - muito por culpa de dois atores que deviam de ser banhados a Emmy.
No entanto, é uma mudança abruta que não agrada a todos os fãs. Uns porque são apenas mais puristas e não apreciam mudanças, outros porque, pese embora leve a um bom episódio, não acrescenta "nada" à história principal. Nesta matéria, no vídeo dos bastidores revelado pela HBO assim que o episódio terminou, o showrunner Neil Druckmann explica o processo criativo: a nova versão proposta por Craig Mazin é melhor do que a original? Se é, acrescenta-se e há um desvio narrativo. Se não é, ficam os diálogos e cenas originais. Para nós, o desvio de Bill e Frank foi para melhor. Porque esta história — e série — não é sobre infetados ou fungos. É sobre relações humanas.
Caminhando para a reta final do episódio, Joel e Ellie chegam finalmente a casa de Bill — o destino da caminhada a que fizemos referência no início. E como se não fosse difícil o suficiente aguentar a cena em que Bill se apercebe de que "o seu propósito" nesta vida foi Frank e que não a vale a pena estar neste mundo sem ele… ainda temos de ouvir uma leitura de uma carta deixada a Joel que não é fácil digerir. (Assim, como senão fosse já um desafio escutar “On the Nature of Daylight” enquanto tudo acontece.)
A seguir, Joel e Ellie equipam-se com as roupas que os gamers bem conhecem e vão aproveitar o presente deixado por Frank (uma carrinha). E a inocência de não saber pôr um cinto de segurança e o cuidado de o colocar a alguém que precisa da nossa proteção ajudam a terminar um episódio quase perfeito de uma maneira quase perfeita.
Agora, siga viagem até ao Wyoming.
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