O filme começa com uma cena de guerra. Vietname, anos 60. Veem-se os acampamentos americanos ao som do “novo” rock n’ roll e ouvem-se tiroteios em plena floresta ao som da orquestra de John Williams. E é sobre esta guerra que o filme fala; não sobre a guerra em si, mas sobre a falta de transparência política por parte dos presidentes dos Estados Unidos. Não um, mas vários: Eisenhower, Kennedy, Johnson e especialmente Nixon. Falta de transparência face ao povo que os elegeu, e às razões fúteis, orgulhosas e gananciosas que motivaram uma guerra de 20 anos e causaram mais de um milhão de mortes. Todo o lobby político e descontentamento por parte de alguns leva a uma fuga de informação altamente confidencial sobre a guerra - os chamados Pentagon Papers - que é exposta pelo jornalista do The New York Times, Neil Sheehan. O projeto secreto do New York Times causa um tumulto social e leva os restantes jornais a repensar a sua posição competitiva, e em particular o The Washington Post.
Olhemos agora para o The Washington Post à época. O jornal passava uma fase especialmente difícil após a morte do director da empresa e o negócio familiar tinha ficado nas mãos da sua mulher e sucessora natural, Kay Graham, personagem interpretada por Meryl Streep. Apaixonada pelo jornal da família, Kay é posta à prova na fase de lançamento da empresa na Bolsa de Nova Iorque e é alvo de críticas por parte dos investidores e da comissão executiva, não por ser inexperiente no trabalho, mas por ser mulher. Quando após o artigo do New York Times, o The Washington Post tem a oportunidade de publicar sobre o mesmo assunto e desenterrar verdades políticas Kay enfrenta uma decisão difícil. Vai contar com a ajuda do incansável amigo e editor-chefe do The Post, Ben Bradlee, personagem interpretada por Tom Hanks, que deseja mais que qualquer um que a verdade venha ao ao de cima.
É quase com incredulidade que nos apercebemos que esta é a primeira vez que Tom Hanks e Meryl Streep contracenam numa longa metragem e é também a primeira vez que Steven Spielberg dirige Meryl Streep. Sobre isto, relatam os meios internacionais que acompanharam a produção do filme, que Steven Spielberg ficou também ele incrédulo com a forma como Meryl Streep atuava, e quão pouca direção precisava! O mesmo acontece com Tom Hanks, que “continua a surpreender” o realizador após já terem colaborado em quatro outras longas metragens. Tanto Streep como Hanks foram nomeados para os Globos de Ouro, mas só ela seguiu para a passadeira dos Óscares naquela que é a sua 21ª nomeação o que a torna a atriz com mais nomeações de sempre. A cumplicidade e forte amizade dos dois atores na rodagem do filme tem dado que falar mesmo que apenas faça justiça à admiração recíproca e que tão evidente esteve na entrevista conjunta que deram ao programa de Ellen DeGeneres.
Outra estrela do filme de quem é obrigatório falar é John Williams- respeitavelmente o mais conhecido compositor de bandas sonoras todos os tempos. Responsável por êxitos como Harry Potter, Star Wars, Indiana Jones, E.T. e Jaws, Williams é um parceiro de longa data de Spielberg, sendo The Post o 28º filme em que esta famosa dupla atua com excelência. John Williams é a pessoa viva com mais nomeações nos Óscares (51 nomeações e quatro estatuetas ganhas) e a segunda pessoa mais nomeada de sempre, logo a seguir a Walt Disney (59 nomeações e 22 Óscares ganhos). Este ano, Williams está novamente a concorrer para os prémios dourados, mas com outro projeto, Star Wars: The Last Jedi.
Apesar do excelente trabalho de Steven Spielberg na produção do filme, o realizador não está nomeado para os Óscares. É de notar que pegar numa história tão polémica para os Estados Unidos, arranjar financiamento e criar um filme que prende ao ecrã com uma história que não é nova é um feito que só um realizador tão prestigiado como Spielberg consegue alcançar. O seu trabalho em The Post vai além do trabalho de um realizador, Spielberg atua como um verdadeiro artista influente, usando o cinema para chamar a atenção da sociedade para problemas que exigem atenção e resposta.
O filme estreia esta quinta-feira, 25 de Janeiro, em Portugal.
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