“Não sou um cantor pop, porque também faço afro. Não sou um cantor afro, porque também faço pop. Não sou um cantor hip-hop, porque faço pop. Não sabendo encaixar-me, nem em que estilo é que caibo neste momento, sinto que sou um trovador. Eu só sinto a necessidade de fazer música para me expressar, para contar aos outros o que tenho para dizer, e gosto de fazer isso”, contou Ivandro, em entrevista à Lusa.
Aos 26 anos, Ivandro, soma milhões de visualizações em plataformas ‘online’ de música e vídeos. “Moça”, “Lua” ou “Como tu”, tema que gravou com Bárbara Bandeira, são algumas das suas canções mais populares.
Autodidata, quando era pequeno “chorou por uma guitarra” e os pais acabaram por comprá-la. Foi com ela que começou a tocar e a cantar músicas de outros artistas.
Foi em Algueirão-Mem Martins, freguesia do concelho de Sintra, para onde foi viver com aos 3 anos acabado de chegar de Angola, que conheceu os amigos a quem deve a inspiração e a motivação para se dedicar à música, bem como alguma da sorte com que foi bafejado no seu percurso.
“Tinha um amigo que fazia música, tinha um computador, um microfone e uma placa de som em casa, gravava as cenas dele. Estava em casa dele, comecei a cantar e ele disse-me que cantava muito bem. Deu-me motivação, gravámos uma cena e publicámos na internet, recordou”, afirmou.
Os primeiros temas foram partilhados há mais de dez anos no canal de Youtube que ainda mantém.
“Na altura, o canal chamava-se ‘why not records’ e entretanto troquei para o meu nome artístico, Ivandro [chama-se Joaquim Ivandro Paulo]. A reação foi logo fixe. Nessa época, ter mil visualizações era uma loucura e foi o que tive logo no primeiro dia. Aí pensei ‘será que consigo mesmo ser alguém no panorama musical?’”, partilhou.
Quando viu em palco artistas como Anselmo Ralph e Justin Bieber ficou “deslumbrado” com a forma como “a música deles fazia as pessoas sentirem coisas, tanto euforia como chorarem. Tudo por causa de uma música”. Nesses momentos, imaginava-se naquela posição questionava-se se algum dia tal seria possível.
Embora artistas famosos o fizessem pensar nisso, quem o inspirou a criar foram os amigos. “Tive sorte de estar no meio de gente que é apaixonada pela música. Por ter essa ligação através deles, mas também da religião”.
Em tempos, Ivandro foi Testemunha de Jeová - hoje mantém a fé, continua a acreditar em Deus, mas não é praticante – e as reuniões daquele movimento religioso incluíam o canto de louvores.
“Havia um livro de cânticos que tinha partituras e letras. Os meus amigos que percebiam mais ensinaram-me a ler partituras, a curiosidade foi surgindo daí. Havia sempre alguém com vontade, com disponibilidade, com espaço para fazer as coisas acontecerem”, recordou.
O percurso de Ivandro passou também por programas televisivos de talentos. Aos 17 anos, concorreu ao “Ídolos”, e dois anos depois participou no “Got Talent Portugal”.
No caminho até ao álbum de estreia, Ivandro destaca também o músico Firmino Pascoal, pai do também músico, e um dos grandes amigos de Ivandro, Tristany.
“Começo a investigar mais sobre a parte da produção, e a querer meter mais a mão na massa. Perguntei ao pai do Tristany se podia ir para o estúdio dele quando ele não estava lá. Esse é um daqueles momentos também importantes, para me dar aquela oportunidade de experimentar e poder crescer como músico”, referiu.
Foi por essa altura que largou a guitarra, passou para o computador e começou “a gravar pessoas e a produzir”.
“Gosto de acreditar que cheguei onde cheguei por causa de trabalho. Planear, imaginar, saber para onde vamos, apontar e tentar cumprir esses objetivos. Estando cá hoje e olhando para trás, o fator sorte também entra nesta equação”, admitiu.
O ‘rapper’ Bispo, que tal como Ivandro e Tristany, cresceu em Mem Martins, convidou o cantor para o acompanhar em concertos, nos coros.
“Mais tarde lançámos um tema juntos [“Essa saia”, em 2019], ele tornou-se meu ‘manager’, eu tornei-me artista da ‘label’ dele. Imaginar que do pedido dele vinha este caminho todo, não dá para ver instantaneamente”, disse.
Depois, surgiu a pandemia da covid-19: “Se a pandemia não tivesse acontecido tinha editado o álbum [de estreia] mais cedo. Mas seria outro álbum, não seria este. Estava em ascensão, tinha 2020 todo marcado, de repente cancelam tudo e fiquei receoso. Decidi lançar música na mesma, mas música solta que não faz parte do álbum”.
Em 2021, perdeu o receio e decidiu avançar com “Trovador”, divulgando os primeiros ‘singles’ do álbum: “Moça” e Lua”. Paralelamente foram sendo divulgados temas que gravou com outros artistas, como Bárbara Bandeira, Mizzy Milles ou Frankieontheguitar, “que funcionaram muito bem”.
Com o desconfinamento começou a ir para a estrada sozinho. Como já tinha feito concertos com Bispo, “já tinha bagagem”.
Até ter o álbum de estreia como queria passaram três anos, e pelo meio a participação no Festival da Canção (no ano passado como compositor convidado), nomeações e galardões nos PLAY - Prémios da Música Portuguesa e a música nacional mais ouvida em 2022 no Spotify (“Lua”).
A quem ouvir “Trovador”, Ivandro quer dar aquilo que sente que agora tem e consegue fazer: “apreciar a vida, não só nos momentos bons, mas também nos maus”.
“Vejo que não é uma batalha que passe por ela sozinho. Somos todos humanos, passamos todos pelas mesmas batalhas. Não preciso de estar a inventar histórias, mas sim ser verdadeiro com as minhas, para as pessoas ressoarem com a minha música. Quero ajudá-los com essas batalhas diárias que todos temos com os nossos sentimentos”, partilhou.
“Trovador” é composto por 21 temas, muitos com convidados - Bispo, Van Zee, Julinho KSD, Instinto26, M Huncho, Slow J, Pikika, Vitor Kley, Agnes Nunes, Marisa Liz e António Zambujo.
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