A lista estará em votação online em www.palavradoano.pt, até 31 de dezembro, às 24:00, sendo conhecida a vencedora “nas primeiras semanas de janeiro”.
“A Palavra do Ano” é uma iniciativa da Porto Editora (PE), que se realiza desde 2009, quando um grupo de linguistas desta entidade, elegeu “esmiuçar”.
“Esmiuçar” foi uma palavra popularizada pelo programa televisivo de humor “Gato Fedorento”, e tornou-se um vocábulo recorrente desde o verão desse ano.
“Embora seja um vocábulo já antigo, a palavra generalizou-se na linguagem pública no período que antecedeu as eleições legislativas [de 2009]” através da televisão e passou a ser de utilização comum “na imprensa, na política ou no desporto”, além ter sido “uma das palavras mais pesquisadas no serviço Infopédia durante o referido período”, segundo a PE.
Desde então, a palavra passou a ser recorrente no discurso oral e escrito, disse hoje à agência Lusa Paulo Rebelo Gonçalves, porta-voz da PE, referindo “o impacto interessante que teve na altura”.
Em 2010, a PE decidiu que a sua equipa de linguistas elaboraria uma lista de dez palavras, a partir da qual, os internautas escolheriam “A Palavra do Ano”, através da internet.
Um momento que Paulo Gonçalves qualificou como “democratização”, entendendo a editora que esta ação “contribuiu para que [a eleição] tenha entrado, definitivamente, na vida dos portugueses, e faça hoje parte do calendário”.
“Os critérios da escolha das palavras são os mesmos desde o seu início, ou seja, a par do desenvolvimento das nossas obras lexicográficas, que estão muito presentes no ‘online’, vemos como as palavras se comportam no dia a dia, seja através da pesquisa nos nossos dicionários, ou na Infopédia, mas também da análise que fazemos na comunicação social, que tem um peso extremamente importante, e da leitura das nossas obras literárias”, explicou.
Paulo Gonçalves assinalou ainda “o crescimento das redes sociais”, que considerou terem “um contributo importante para analisar a forma como a nossa língua se comporta”, e contribuem para a lista de palavras candidatas.
Quanto às palavras que têm sido eleitas e às candidatas, Paulo Gonçalves disse que têm permitido “um retrato sociológico do país na última década”.
Em 2009 “esmiuçar” foi a palavra escolhida diretamente pelos linguistas da PE. No ano seguinte, vivia-se o Mundial de Futebol, na África do Sul, e “vuvuzela” foi a eleita de uma lista em que constavam também “défice”, “desemprego”, “FMI”, “mineiro”, “orçamento”, “PEC”, “rede social”, “SCUT” e “tablet”.
Em 2011, a eleita foi “austeridade”, saída de uma lista que incluiu “charter”, “desemprego”, “emigração”, “esperança”, “fado”, “subsídio”, “sushi”, “troika” e “voluntariado”.
Em 2012, a palavra eleita foi “entroikado” e, da lista, fizeram também parte “bosão”, “cortes”, “democracia”, “desemprego”, “imposto”, “manifestação”, “refundar”, “solidariedade” e “TSU”.
A escolha da Palavra do Ano em 2013, “bombeiro”, foi qualificada por Paulo Gonçalves como “uma homenagem aos soldados da paz, num ano particularmente difícil para eles e para nós”.
Nesse ano, a lista incluiu “coadoção”, “corrida”, “grandolada”, “inconstitucional”, “irrevogável”, “papa”, “piropo”, “pós-troika” e “swap”.
Em 2014, a palavra escolhida foi “corrupção”, de uma lista que incluiu “banco”, “basqueiro”, “cibervadiagem”, “ébola”, “legionela”, “gamificação”, “jihadismo”, “selfie” e “xurdir”.
“Refugiado” foi a palavra vencedora em 2015, de uma lista da qual fizeram parte “acolhimento”, “bastão de selfie”, “drone”, “esquerda”, “festivaleiro”, “plafonamento”, “privatização”, “superalimento” e “terrorismo”.
Em 2016 venceu “geringonça”. As restantes candidatas foram “brexit”, “campeão”, “empoderamento”, “humanista”, “microcefalia”, “parentalidade”, “presidente”, “turismo” e “racismo”.
Finalmente, no ano passado, “incêndios” foi a eleita, de entre as seguintes candidatas: “afeto”, “cativação”, “crescimento”, “desertificação”, “floresta”, “gentrificação”, “independentista”, “peregrino” e “vencedor”.
“Quer através das palavras eleitas, quer das que compuseram a lista, nós olhamos para elas e percebemos o que se passou naquele ano, e porque é que escolheram aquela palavra”, disse.
“Provavelmente daqui a alguns anos, quando os estudiosos, os sociólogos e historiadores estiverem a revisitar esta segunda década do século XXI, têm n’A Palavra do Ano, uma ferramenta muito interessante, que revela qual era, de alguma forma, o estado de espírito do nosso país”, argumentou Paulo Rebelo Gonçalves.
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