Os dois primeiros eventos-piloto em Portugal, em contexto de pandemia, estão marcados para esta quinta e sexta-feira (29 e 30 de abril).
Os espetáculos, com datas anunciadas apenas no final da semana passada, foram aprovados "na sequência do trabalho desenvolvido nos últimos meses entre os ministérios da Cultura e da Saúde com as entidades representativas do setor cultural, em articulação com a Direção-Geral da Saúde".
Estes eventos são uma iniciativa da APEFE – Associação de Promotores de Espetáculos, Festivais e Eventos e da APORFEST - Associação Portuguesa de Festivais de Música, em parceria com a Cruz Vermelha Portuguesa, a Câmara Municipal de Braga e o Altice Forum Braga, entre outros.
Limitados a uma lotação de 400 pessoas, os dois espetáculos acontecem no recinto exterior do Altice Forum Braga, palco escolhido para acolher Fernando Rocha (dia 29) e Pedro Abrunhosa (dia 30).
Os eventos têm início às 20h00, com abertura de portas às 18h45, e os bilhetes estão à venda desde a última terça-feira pelo preço único de dois euros. A compra dos mesmos, explica a organização, é concluída através do agendamento de um teste rápido de antigénio (por colheita de exsudado nasofaríngeo), realizado nos dias dos espetáculos a partir das 10h00, pela Cruz Vermelha Portuguesa, no Altice Forum Braga.
Para participar, os espetadores deverão responder a vários critérios, como é sinalizado em comunicado enviado pela promotora Everything Is New.
O evento é de acesso exclusivo a residentes em Portugal, e para espetadores com idades compreendidas entre os 18 e 65 anos. Quem comprar bilhete não deve pertencer a nenhum grupo de risco ou ter estado em contacto com infetados ou pessoas de risco nos últimos 14 dias. Não pode ainda atender ao evento quem tenha estado infetado com covid-19 nos últimos 90 dias.
Por fim, os espetadores têm de concordar em realizar um teste-rápido no dia do espetáculo, com entrada permitida apenas a quem testar negativo — e com direito a reembolso se testar positivo.
Quem adquirir bilhete e testar negativo, deve ainda dar consentimento para o tratamento dos seus dados e a permissão para ser contactado pela DGS, nos dias seguintes.
Estes eventos-teste acontecem dias antes da nova fase de desconfinamento e reabertura de atividade, a 3 de maio, que permitirá, se nada for alterado, a realização de grandes eventos exteriores e eventos interiores com diminuição de lotação.
No início de abril, o Presidente da República promulgou o diploma do Governo sobre espetáculos culturais e artísticos e que previa a realização de "eventos teste-piloto" e estabeleceu "as normas aplicadas aos espetáculos do ano de 2021". Segundo o diploma, o agendamento destes eventos de teste poderá eventualmente abrir caminho à possibilidade de "alteração da orientação em vigor", que define limites de público, em função do distanciamento físico e da área disponível, em equipamentos culturais, como salas de teatro e cinema, e na realização de programação ao ar livre.
Teste, teste. Som positivo, Covid-19 negativo
Também o Reino Unido se prepara para testar o regresso dos eventos musicais, com um evento-piloto em Liverpool já no próximo domingo, 2 de maio. O concerto, que junta os Blossom, os The Lathums e os Zuzu, terá as portas do Sefton Park abertas apenas para cinco mil espetadores, sendo que a sala tem capacidade para até 7.500 gig-goers.
Os participantes terão que realizar um teste à covid-19 num centro de testagens local, antes de lhes ser permitido o acesso ao recinto, bem como um outro teste após o espetáculo. Durante o mesmo, não serão obrigados a utilizar máscara ou a respeitar o distanciamento social.
Em declarações ao NME, o ‘patrão’ da Festival Republic, Melvin Benn (promotor responsável pelos festivais de Reading & Leeds, entre outros), garantiu que no evento-piloto os fãs “poderão comportar-se como se a pandemia nunca tivesse acontecido”. À publicação britânica, Benn prometeu ainda “um concerto histórico”, que desempenhará um papel essencial na reabertura da indústria da música ao vivo este verão.
Em Espanha, um dos primeiros testes do género aconteceu em março em Barcelona, também com a participação de cinco mil pessoas num concerto da banda indie rock catalã Love of Lesbian, depois de terem passado por uma triagem à covid-19 no mesmo dia.
Os que tiveram resultado negativo, receberam um código no telemóvel que validava os bilhetes para o “Rock on”. No recinto, o público pôde misturar-se livremente, embora o uso de máscara tivesse sido obrigatório.
“Bem-vindos a um dos concertos mais emocionantes da nossa vida. Há um ano e meio que não pisávamos um palco”, começou por dizer o vocalista da banda, Santi Balmes, que pediu ao público para manter as máscaras. “O mundo está a ver-nos” e “este concerto é uma pequena batalha dentro da guerra”, afirmou o músico, citado à data pela agência EFE.
Duas semanas após o concerto, os participantes foram submetidos a testes PCR e "não há sinais que indiquem que a transmissão tenha tido lugar durante o evento, o que era o objetivo deste estudo", disse numa conferência de imprensa Josep Maria Llibre, médico do Hospital Germans Trias i Pujol de Badalona, nos arredores de Barcelona.
Preparada por um grupo de organizadores de festivais, promotores musicais e pelo hospital catalão, esta experiência foi uma das poucas na Europa no setor musical.
Além de Espanha, e agora de Portugal e do Reino Unido, já antes os Países Baixos tinham testado o regresso dos espetáculos. Os eventos, em fevereiro e março, foram organizados pela Fieldlab, uma iniciativa da indústria de entretenimento e do Governo holandês.
Oito datas, da dança ao pelo futebol, serviram para estudar as medidas necessárias para trazer de volta os grandes eventos ao país que este ano recebe, entre outros, o Festival da Eurovisão. No entanto, as conclusões destes eventos-teste têm vindo a ser criticadas nas últimas semanas, sendo apontadas à Fiedlab falhas no modelo e revisão dos dados — apenas cinco casos positivos à covid-19 foram reportados, de acordo com os media locais.
Um dos eventos aconteceu na maior sala de espetáculos de Amesterdão. O Ziggo Dome reabriu para cerca de 1.300 participantes, com quatro horas de dança ao som dos DJs Sam Feldt, Lady Bee e Sunnery James & Ryan Marciano. Todos os presentes foram testados à covid-19, e voltaram a sê-lo dentro de cinco dias depois.
Na sala, a multidão foi dividida em seis grupos (“bolhas”), com diferentes níveis de controlo, uns com mais liberdade e outros com mais medidas de segurança. Numa delas foi pedido, por exemplo, aos participantes que usassem sempre máscara, ao passo que noutra foi possível andar sem máscara e sem respeitar o distanciamento social.
Mais um verão adiado?
Olhando para a agenda nacional, há mais reticências do que certezas.
O primeiro festival — ou o primeiro evento com esse título — arranca também esta quinta-feira, 29 de abril. O Festival Montepio Às Vezes o Amor estava previsto para fevereiro, mas foi adiado para este mês e para o próximo — com uma data ainda em julho. De Deixem o Pimba em Paz a Salvador Sobral, 12 projetos nacionais percorrem 13 salas, de norte a sul do país (e ilhas).
Com metade da lotação, o Montepio Às Vezes o Amor cumpre todas as regras da DGS (dos lugares marcados e ao distanciamento físico) e, para a organização, “nunca esteve em cima da mesa a hipótese do adiamento”.
“Fazer o festival, com todas as limitações, é melhor do que não fazê-lo”, conta Luís Pardelha, dos Produtores Associados, ao SAPO24. O promotor destaca que este é um esforço que engloba artistas, municípios ou o próprio patrocínio, que dá nome ao festival, e espera uma adesão aos concertos semelhante à do regresso às salas no primeiro confinamento.
“A cultura não é pão ou água, mas é um alimento que as pessoas também precisam. E a cultura é segura”, garante Luís Pardelha, dando como exemplo o “sinal positivo” dado pelo facto das duas maiores salas em cartaz já estarem esgotadas (o Coliseu de Lisboa e do Porto).
“Temos de nos adaptar e transmitir confiança aos espetadores. Para que possam sair deste e de outros eventos e dizer: ‘senti-me segura, vou voltar”, termina.
João Carvalho, diretor do Vodafone Paredes de Coura, relembra uma frase que tem vindo a repetir desde o ano passado, mas que considera atual: “A única certeza que temos é a incerteza”. O festival, agendado de 18 a 21 de agosto na vila que lhe dá nome, viu (à semelhança de todos os outros festivais nacionais) a sua edição de 2020 adiada. E 2021?
“Se me perguntas se espero fazer Paredes de Coura, eu espero. Sou um otimista por natureza. Se tenho a certeza de que vou fazê-lo, não tenho”, responde.
“Vamos trabalhando, vamos criando um plano A, um B e um C, vendo como a coisa flui. Neste momento o [Vodafone] Paredes de Coura tem um plano A, que passa por acontecer sem restrições. Mas também tem um plano B, que depende do número de pessoas que possa receber e das medidas que tenha de adotar. Agora, não sei se o farei para 5, 10 ou 25 mil pessoas. Não sei também se terá 1-2-4 dias de música… Não sei eu, não sabe o António Costa, não sabe ninguém…”.
Com ou sem festival, “como o conhecemos”, uma coisa é certa, promete João Carvalho: à semelhança do que aconteceu o ano passado, será montado um palco no recinto. “E se o ano passado não o assumi, este ano assumo-o”, remata.
Já a Música No Coração, que organiza o Sumol Summer Fest, o Super Bock Super Rock e o MEO Marés Vivas, garante ao SAPO24 que está “a trabalhar, confiante de que haverá condições para a realização dos festivais agendados para este ano, de forma segura”. “Mas aguardamos as diretrizes concretas resultantes deste trabalho para que possamos dar novidades”, acrescenta fonte da promotora.
Também o North Music Festival, que confirmou as suas datas para este ano, de 30 de setembro a 2 de outubro, numa resposta por escrito, afirma estar “em contacto e constante articulação com a DGS (Direção-Geral da Saúde), Governo, autoridades locais e todas as entidades competentes, de forma a garantir o cumprimento de todas as diretrizes para a realização do festival”.
O North Music Festival “está ainda a ser aconselhado permanentemente por uma empresa de saúde pública, procurando assim reunir atempadamente toda a informação e condições para a organização responsável de um festival seguro para os seus públicos”, avança uma fonte do festival ao SAPO24.
Olhando para a restante agenda europeia, a dúvida continua a ser o principal cabeça de cartaz. O dinamarquês Roskilde, que se realiza na cidade com o mesmo nome, perto de Copenhaga, por exemplo, tem uma zona no seu site dedicada às questões dos festivaleiros. O festival, com datas previstas para 26 de junho a 7 de julho, já tem porém pouca “esperança” em 2021 e pede uma “resposta clara por parte das autoridades” nacionais.
“O Ministério da Cultura da Dinamarca pediu a um grupo de peritos para que se juntasse e estabelecesse uma lista de recomendações. O grupo entregou já essa lista às autoridades. Com base nestas recomendações, julgamos ser difícil crer na realização de festivais na Dinamarca, antes do fim do verão”, lê-se num dos tópicos do site.
“Não vemos outro desfecho que o da imposição de restrições ao longo do verão de 2021. Restrições que implicam que não nos será possível juntar 130 mil pessoas. É algo impensável, mas é o ponto em que estamos”, acrescentam.
Já o belga Tomorrowland, previsto para 27 de agosto a 5 de setembro (costuma realizar-se em Bloom, Antuérpia, em junho), promete novidades para maio. Até novas notícias, “queremos manter-nos positivos e esperançosos em relação a um final de verão inesquecível, em 2021, mas sabemos que existe uma possibilidade de que a 16.ª edição do Tomorrowland só tenha lugar no próximo ano”.
À semelhança do festival dinamarquês, o Tomorrowland reserva uma área do seu site onde atualiza os milhares de festivaleiros que anualmente se dirigem a uma das Mecas da música de dança eletrónica.
“O Tomorrowland sente-se grato por estar a trabalhar de forma tão próxima com os governos locais e nacionais e com os peritos. Qualquer decisão e quaisquer recomendações sobre eventos ao ar livre, que sejam tomadas nos próximos meses, serão seguidas”, informam.
Outros festivais, como os espanhóis Mad Cool (Madrid), com data prevista para 7 a 10 de julho, ou o Bilbao BBK (Bilbau), de 8 a 10 de julho, não dispõem de informação atualizada. Recorde-se que estes dois festivais, que decorrem quase em simultâneo com o NOS Alive e o Super Bock Super Rock, costumam partilhar cartaz com os portugueses.
Com mais certezas aparentes estão os festivais ingleses, a maioria adiado um ou dois meses, mas com edição — no papel — para 2021. Entre eles os de Reading & Leeds, nesses cidades britânicas, de 27 a 29 de agosto; o All Points East, em Londres, de 27 a 30 de agosto; ou o Parklife, em Manchester, a 11 e 12 de setembro.
Com mais de 60% da população imunizada, o “great British summer”, que promete luz verde para a realização de festivais a partir de 21 junho, pode no entanto não ser mais do que uma miragem. Isto porque a organização de um evento, com as dimensões de alguns destes festivais, em plena pandemia, constituirá um risco. De saúde pública? Também, mas sobretudo financeiro, já que um foco local ou nacional de casos por covid-19 pode levar a um cancelamento de última hora pelas autoridades de saúde públicas, o que deixaria os organizadores do festival com enormes prejuízos.
A indústria musical, as organizações dos festivais e os promotores têm vindo a pedir, há vários meses, um fundo de indemnizações atribuídas pelo Governo. Este funcionaria como uma espécie de seguro, dando apoio financeiro aos eventos afetados pela pandemia, e segundo o britânico The Guardian, foi já criado por países europeus como a Áustria, a Dinamarca e a Suécia.
O Boomtown, com capacidade para 66 mil pessoas, foi dos últimos a cancelar a edição deste ano. O evento a acontecer em Matterley Estate, perto de Winchester, de 11 a 15 de agosto, estava esgotado desde fevereiro mas já só se realizará em 2022. No Twitter, os organizadores culparam o Governo: "Não há uma rede de apoio. Estaríamos a jogar com perdas de até 8 dígitos caso o evento não pudesse acontecer devido às restrições da covid-19, o que colocaria em risco o futuro do festival", escreveram na rede social.
O custo médio de organizar um festival independente é de 6 milhões de libras (quase 6,9 milhões de euros), de acordo com a Association of Independent Festivals (AIF), em números avançados pelo The Guardian. Cerca de 40% dos pagamentos, incluindo depósitos não reembolsáveis, devem ser pagos com um mês de avanço. Com o passar do tempo, são esperados mais cancelamentos, segundo Paul Reed, diretor executivo da AIF, representante de 85 eventos.
“À medida que os promotores ficam mais próximos do tempo limite para o pagamento destas despesas, creio que, compreensivelmente, muitos decidirão não tomar esse tipo de risco”, disse Reed citado pela mesma publicação. “Se, por qualquer motivo, o evento não possa decorrer devido à covid, isto significa a falência nos casos dos independentes”.
Nova data: 2022
Entretanto, e à semelhança do que aconteceu em 2021, vários festivais nacionais foram já adiados. Entre os que têm nova data em 2022 contam-se o ID No Limits e o EDP CoolJazz, ambos em Cascais, o Rock in Rio Lisboa, o NOS Primavera Sound, o primeiro a comunicar a decisão, e o Festival VOA Heavy Rock, o mais recente a anunciar novas datas.
E as justificações são várias, mas a principal é partilhada por todos: “por razões de saúde pública”. O “cenário de incerteza que se vive a nível mundial, provocado pela pandemia", é ainda evocado pelo Rock In Rio Lisboa, que ainda ponderou adiar o evento para setembro de 2021, e o “respeito” pelo “público, artistas, técnicos, todos os envolvidos” é destacada pelo EDP CoolJazz, cujo cartaz para este ano incluía, entre outros, John Legend, Lionel Richie, Neneh Cherry, Kokoroko, Jorge Ben Jor e Herbie Hancock.
Para o NOS Primavera Sound, a decisão foi “dolorosa”, mas a promotora considera que "a nona edição do festival Primavera Sound merece ser celebrada como antigamente, e as restrições a nível mundial fazem prever que isso não seja possível ainda este verão, pelo menos não da forma como deve ser vivida a experiência completa do festival". O cartaz, que para este ano incluía, entre outros, Tyler, The Creator, Gorillaz, Tame Impala e Pavement, será anunciado "até 5 de junho".
‘Lá fora’, o cenário é idêntico. Sobre a edição original do Rock in Rio, Roberto Medina justificou o adiamento com a necessidade de "preservar vidas, neste momento".
“O Rock in Rio mobiliza pessoas dentro e fora da Cidade do Rock. Recebemos turistas de absolutamente todos os Estados brasileiros, além do Distrito Federal [Brasília], e também de mais de 70 países. São 28 mil pessoas que trabalham para levar festa e alegria para as 700 mil pessoas que nos visitam", lê-se num comunicado que justifica o adiamento.
Também o Primavera Sound, que se realiza em Barcelona, e o Hellfest Open Air, em Clisson, França, anunciaram que o seu regresso volta ser adiado. A France24 dava conta, no início de abril, que os festivais franceses estavam a passar por "uma terrível sensação de déjà vu" ao serem "forçados" a adiar novamente as suas datas. As novas novas restrições do Governo de Emmanuel Macron impõem um limite de cinco mil pessoas nos eventos deste verão, com plateia sentada e a cumprir o distanciamento.
Cancelado pelo segundo ano, o Glastonbury opta por um "grande concerto" ao vivo e sem público. O festival britânico, que se realiza no final de junho, é um dos maiores a nível mundial e atrai geralmente mais de 200 mil pessoas.
O concerto "Live At Worthy Farm" será filmado no local habitual do festival, uma quinta na região de Somerset, e o acesso por via digital é feito através de bilhete, no valor de 20 libras (23 euros). Haim, Coldplay, Damon Albarn, Jorja Smith, Wolf Alice e Michael Kiwanuka são alguns dos músicos já anunciados para o espetáculo de cinco horas.
E a terceira não será de vez para o Coachella. O festival que se realiza todos os anos, durante dois fins de semana em abril, no deserto californiano, em Indio, foi novamente adiado. Em 2020, o festival norte-americano, que recebe pessoas de todo o mundo, foi inicialmente adiado para outubro, e depois para abril deste ano. A organização ainda não decidiu se vai propor novas datas para a edição de 2021.
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