Se há quem diga que Paredes de Coura é um amor de verão, os Linda Martini poderiam ser a sua banda-sonora. Basta escutar 'Cem Metros Sereia', canção-hino que ressoará no tempo enquanto existirem one-night stands, as mesmas que se experienciam em qualquer festival de música. Ou constatar que a história do quarteto lisboeta está inextricavelmente ligada à do festival, onde já atuaram por tantas vezes que a frase primeira do baterista Hélio Morais só poderia mesmo ser esta: «é escusado dizer que é um enorme prazer estar aqui outra vez»...

Em nova demanda por território minhoto, os Linda Martini trouxeram consigo os temas do seu novo álbum, homónimo, o qual exploraram durante a primeira metade do concerto: 'Gravidade', logo a abrir, deixava antever o que se seguiria, uma sessão de pancadaria hardcore prenhe de excelentes melodias e versos dignos de serem tatuados em qualquer corpo. Na bateria, uma curta mas singela homenagem a Phil Mendrix, homem do rock n' roll (irrelevante dizer “português”: não é o rock universal?) falecido esta semana. Em 'Boca de Sal', vislumbra-se um pequeno e enérgico mosh, que posteriormente aumentaria.

Não haveria como não o fazer; a música dos Linda Martini a isso puxa, soando a uma adolescência eternamente no fio da navalha, por entre o medo de ter que vir a ser adulto – um pouco à semelhança de todos quantos se encontram a dada altura num festival de verão: “queremos mesmo que isto acabe?” Não queremos, evidentemente. Queremos que se prolongue enquanto houver força, a mesma da 'Mulher A Dias', a mesma de 'Belarmino', a mesma de um 'Amor Combate' onde a resposta do público só poderia ser a da pancadaria de coração ao alto. Não sem tudo fechar com uma pequena surpresa: 'O Amor É Não Haver Polícia', com André Henriques em modo punk, o seu pára! gritado como se fosse a última palavra existente no mundo.

Punk foi também o que os King Gizzard & The Lizard Wizard trouxeram ao palco principal do Vodafone Paredes de Coura, naquele que foi o primeiro dia do evento propriamente dito (ao longo da última semana, o festival subiu também à vila e levou até lá nomes como 10 000 Russos, Chinaskee & Os Camponeses e o espetáculo Deixem o Pimba em Paz). Um punk a pender mais para o lado psicadélico do rock, mas com a mesma energia anarca e feérica que tão bem o caracteriza.

Há eletricidade em palco e no grande ecrã, uma tempestade em forma de canção. As guitarras vão-se escutando, eternas e ambiciosas, debitando riff atrás de riff, pegajoso e insolente. Os australianos, esses, são tão grandes quanto o seu nome: ao todo sete, em palco. Naquele que foi o seu regresso a este mesmo festival, os King Gizzard não precisaram de muito para provocar a loucura generalizada nos presentes; dir-se-ia, até, que o público foi muito mais frenético ao longo do concerto que a própria banda.

Foi 'Crumbling Castle', uma de muitas canções editadas pelo septeto em 2017 (ano em que editaram nada mais nada menos que cinco álbuns de estúdio, pelo que não os poderemos acusar de se deitarem à sombra dos louros colhidos), o expoente máximo de um espetáculo rock em regime dançável, com a crueza do psych a fazer maravilhas pelos ouvidos de muitos e a aborrecer tantos outros – também se ouviu, aqui e ali, que os temas dos australianos eram “todos iguais”. Não se pode agradar a gregos e troianos, certamente.

Menos agradável foi a tarde passada na companhia de Conan Osiris, o primeiro nome confirmado para as Vodafone Music Sessions, que todos os anos levam para fora do festival, em regime de concerto-surpresa, alguns dos nomes que horas mais tarde se verão pelos palcos. Isto porque, no Leira de Cima (fabulosa casa de petiscos no centro da vila), não se esteve verdadeiramente na companhia de Conan Osiris e sim de Sreya, uma amiga próxima daquele que tem sido apontado como a grande nova coqueluche da música portuguesa atual. Ora, isto não teria sido um problema se assim tivesse sido anunciado; mas, veio-se a saber depois, o bom do Conan aproveitou para publicitar os amigos e deixar desapontados todos aqueles que até ali foram. Foi pena. Mas elogiemos a atitude de quem claramente pratica aquilo que canta: Eu 'tou-me a cagar... E muitos com ele, tamanha foi a enchente para o ver no palco secundário, quando o relógio já passava das duas da manhã. Começando com 'Borrego', Conan Osiris foi atuando perante uma plateia extática que não parou de cantar cada um dos seus "êxitos". A palavra "presente" não se escreve sem incluir uma fotografia sua, a seu lado. Grandioso.

Os bracarenses Grandfather's House tiveram a honra de abrir as hostilidades com um pop/rock sensual, alimentado pela voz da vocalista Rita Sampaio, perante um recinto ainda bastante despido e rigorosamente equipados de cinzento-glitter. Há uma balada com ritmo eletrónico pelo meio, e ainda um convite especial, a João Cabrita, que a eles se juntou no saxofone. Fica a dica: ouçam “Skeleton”, o primeiro EP da banda, e agradeçam-nos depois.

Na sua estreia por território luso, o neozelandês Marlon Williams veio para apresentar os temas do seu segundo álbum, “Make Way For Love”, editado este ano, apresentando-se em palco como uma espécie de cruzamento entre Father John Misty e George Michael; rock n' roll, sim, mas também romântico q.b.. À parte o facto de equipar uma mullet em pleno 2018, o músico mostrou-se assaz competente, transformando por breves instantes Paredes de Coura no Festival Para Gente Sentada, tantos foram os que preferiram escutar as suas canções acústicas alapados na relva. Teve os seus problemas: enganou-se em 'Party Boy', mas recuperou miraculosamente e serviu ao público a pungência de 'When I Was A Young Girl', espécie de fado sentido e dedilhado sem banda, a fechar um pôr-do sol de ouro. Ainda iremos ouvir falar muito dele.

O Vodafone Paredes de Coura prossegue esta quinta-feira, com concertos de Legendary Tigerman, Jungle, Fleet Foxes, Fugly e Surma. Os bilhetes estão à venda em todos os locais habituais, a preços que vão dos 50 euros (diário) aos 100 euros (passe). Os ingressos para sábado (19), dia em que atuarão os Arcade Fire, já se encontram esgotados.

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