“Faltou debate. Passados quase 50 anos, a maioria da nossa sociedade já não está interessada nessa quadratura temporal”, diz à Lusa António Barreiros, coautor, com Rodrigo Carlos Guedes, do livro (239 páginas).
António Barreiros questiona também a forma como o processo de descolonização foi conduzido. “Podiam ter sido talhadas, as independências, de outra e melhor forma. Mas já estavam traçados os interesses. Os homens, a todo o tempo, falham, porque humanos”, sustenta.
“A passagem dos testemunhos, principalmente em Angola e em Moçambique, foi atabalhoada e descoordenada, como é sublinhado no livro. De uma talhada, num período agitado, é certo, o de pré-independência desses novos países, que deveria ter tido uma preparação mútua, conscienciosa e ordenada/disciplinada, assistimos ao baixar dos braços por parte das nossas forças armadas”, acrescenta.
Os dois países acabaram “por sofrer com essa forma pouco clara de se desenhar um processo de descolonização. Não os há sem pecados, mas poderia ter sido bem mais auspiciosa para ambos os lados”, acredita.
Para António Barreiros “teria sido possível outra metodologia descolonizadora”.
“Não se preparou a continuidade da maioria dos portugueses que viviam, numa e noutra província ultramarina – Angola, uns 600 mil; e em Moçambique, cerca de 300 mil; além dos que tinham – brancos, pretos, indianos e chineses – nacionalidade lusa - a esse tempo”, acusa.
O regime derrubado no dia 25 de Abril de 1974 “deveria ter promovido um período de conversações” e outro de transição, com balustre pacificador e conciliador, acautelando o futuro, para se mudar o rumo do caminho”.
Para António Barreiros, o resultado é que Angola e Moçambique “estão a viver tempos difíceis, de miséria humana, de corrupção transversal e de falta, junto do povo trabalhador, de tudo”.
“Angola e Moçambique, têm tudo para serem potências, mas falta-lhes tudo para o serem. Os dois países afugentaram o pão. E não existe Liberdade sem pão. Trata-se, quanto a mim, da escravatura moderna, a do tempo das democracias… O Papa Francisco afirma que “Não há Democracia com fome…”, destaca.
António Barreiros, que nasceu em Coimbra, viveu antes da descolonização em Lourenço Marques (atual Maputo).
Antigo jornalista, trabalhou nos jornais Correio de Coimbra, Diário de Coimbra, O Primeiro de Janeiro e, ainda, na Rádio Renascença e RDP/Centro - Antena1 (1989 a 1998) e na TVI.
O livro, que é prefaciado pela advogada Cristina Ferreira, no qual “talha as adversidades e ansiedades dos portugueses que sofreram as consequências da apressada descolonização”, é lançado este sábado em Lisboa, no Museu Militar, e a apresentação será feita pelo antigo deputado e ex-líder do CDS-PP, José Ribeiro e Castro.
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