As eleições de domingo na Galiza e no País Basco foram a gota de água de um copo que há muito ameaçava verter. Não que houvesse surpresa nos resultados - as sondagens anteciparam que estas eleições regionais não correriam bem ao PSOE e, de facto, não correram. Numa Espanha sem acordo de governação, que caminha para as terceiras eleições legislativas no prazo de um ano, Pedro Sánchez foi acumulando derrotas e descrédito. E foi nesse contexto que um conjunto de nomes sonantes no partido se organizaram para criar a tempestade perfeita: depois de mais uma derrota nas regionais de domingo, a demissão de 17 membros da comissão executiva foi mesmo a gota de água.
As demissões aconteceram na quarta-feira, mas, no dia anterior, e numa acção que poderá ter sido de antecipação a este cenário, o secretário-geral do PSOE tinha tornado pública a sua intenção de realizar primárias no partido em outubro e um congresso em novembro. Os adversários de Sánchez que já vinham num crescendo amargo de derrotas e de divergências face à posição do partido de não viabilizar a investidura de um governo liderado pelo PP de Rajoy consideram agora que o secretário-geral já não tem legitimidade para continuar a liderar o partido. Sánchez discorda e passou ao ataque convocando para sábado uma reunião do comité federal com o objectivo de agendar eleições primárias para o cargo de secretário-geral, a 23 de Outubro, e um congresso extraordinário, a 12 e 13 de Novembro.
Esta proposta é fortemente contestada pela oposição interna. Um dos rostos desta oposição tem sido Susana Diaz, presidente da Região da Andaluzia, que veio já a público defender que primárias e congresso, sim, mas sem pressas que apenas visem interesses pessoais, segundo disse. "Primeiro, está o interesse de Espanha", afirmou, enquanto se oferecia para "restituir a fraternidade socialista" e lutar por transformar o PSOE num "partido ganhador". A dirigente socialista criticou também Sánchez por ter insistido na clarificação sobre se quem está do "lado" de Felipe González, ex-líder socialista e destacado político espanhol, é quem defendeu a abstenção do PSOE para deixar governar Rajoy. "No PSOE não há lados, nem o PSOE é uma banda".
Nas suas intervenções, Susana Diaz tem referido o nome de Javier Fernández, presidente da Região das Asturias e que muitos apontam como uma possível figura de consenso para recuperar a unidade do PSOE. E, a cada intervenção, tem deixado claro o "problema" do PSOE: "a sequência de derrotas é uma consequência de nos termos desligado da sociedade. Não se revêem, nem se identificam connosco. Se as pessoas não votam em nós, é porque não confiam em nós".
A guerra está aberta entre os socialistas.
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