“O uso de força desproporcionada contra manifestantes é inaceitável”, afirmou o coordenador residente da Organização das Nações Unidas (ONU) em Myanmar (antiga Birmânia), Ola Almgren, num comunicado.
“Muitos manifestantes ficaram feridos, alguns com gravidade”, acrescentou o representante, após a recolha de vários testemunhos em várias cidades do território birmanês.
Neste momento, e segundo refere a agência noticiosa France-Presse (AFP), não é possível obter uma estimativa do número de feridos junto dos hospitais locais.
No passado dia 01 de fevereiro, o exército prendeu a chefe do governo civil birmanês, Aung San Suu Kyi, o Presidente Win Myint e vários ministros e dirigentes do partido governamental, proclamando o estado de emergência e colocando no poder um grupo de generais.
União Europeia (UE), Estados Unidos, ONU, Japão, China, França e Reino Unido foram algumas das vozes internacionais que criticaram de imediato o golpe de Estado promovido pelos militares em Myanmar.
Nos dias seguintes, sucessivos protestos contra o golpe de Estado ocorreram em várias cidades de Myanmar e a tensão nas ruas tem vindo a aumentar, incluindo nesta terça-feira.
Em Naypyidaw, cidade construída para ser a capital do país, “a polícia disparou balas de borracha contra os manifestantes”, segundo um testemunho de uma habitante, citada pela AFP.
“Atiraram contra o meu filho quando ele tentava usar um megafone para pedir às pessoas que se manifestassem pacificamente”, disse, por sua vez, Tun Wai, um ourives de 56 anos de idade, que admitiu estar “muito preocupado”.
Antes, e de acordo com a AFP, as forças policiais tinham recorrido a canhões de água para dispersar um pequeno grupo de manifestantes que se recusava a afastar de um bloqueio de estrada imposto pela polícia.
Já em Mandalay (centro), a segunda maior cidade do país, a polícia lançou gás lacrimogéneo “contra manifestantes que agitavam bandeiras da Liga Nacional para a Democracia (NLD, na sigla em inglês)”, o partido de Aung San Suu Kyi.
Na segunda-feira, a Junta Militar birmanesa, que tomou o poder no dia 01 de fevereiro, decretou a lei marcial, após os sucessivos protestos e uma greve geral em curso, que está a paralisar o país.
Os militares declararam a lei marcial em pelo menos seis localidades, impondo o recolher obrigatório e proibindo reuniões com mais de cinco pessoas, bem como discursos públicos.
A medida, que afeta vários distritos de Rangum, a maior cidade e o centro económico do país, entrou também em vigor nas regiões de Mandalay, Monywa, Loikaw, Hpsaung e Myaungmya.
Desafiando as regras impostas, os manifestantes anti-golpe de Estado regressaram hoje uma vez mais às ruas birmanesas, mas, segundo a AFP, em número menos expressivo em comparação a outros dias.
Em Rangum, os manifestantes concentraram-se perto da sede do NLD.
“Sem ditadura!”, “Queremos a nossa líder!”, gritavam os manifestantes, numa referência a Aung San Suu Kyi, mantida em local desconhecido desde a sua detenção no passado dia 01 de fevereiro.
O Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas tem agendada para sexta-feira uma sessão especial para abordar a situação em Myanmar, a pedido do Reino Unido e da UE, e com o apoio de pelo menos 47 países.
Por sua vez, o Conselho de Segurança da ONU apelou à libertação imediata dos representantes detidos pelos militares.
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