Em declarações à agência Lusa sobre os resultados eleitorais do BE nas legislativas de domingo – o pior em 20 anos, com a perda de metade dos votos e a eleição de apenas de cinco dos atuais 19 deputados — Luís Fazenda afastou a possibilidade de mudanças na direção bloquista na sequência desta pesada de derrota uma vez que o partido é colegial e não presidencial.

“Tivemos bons e maus resultados eleitorais em vinte e poucos anos de história do Bloco de Esquerda e nunca alterámos direções em função dos resultados eleitorais, fossem as eleições quais fossem. Nós não temos nenhum sistema presidencialista no Bloco de Esquerda”, respondeu, secundando assim as declarações da coordenadora do BE, Catarina Martins, que já disse que tenciona cumprir o mandato até ao fim.

Na análise do dirigente bloquista, que integra da Mesa Nacional do partido, não há “uma crise interna no Bloco de Esquerda” depois desta derrota, mas sim “um sentimento de grande unidade”.

“Vi estes resultados eleitorais do Bloco de Esquerda com tristeza. O resultado é a conjunção de uma série de fatores negativos: da incompreensão sobre aquilo que bloqueia as políticas do PS e que não está claro para uma larga área do eleitorado de esquerda, o receio amplificado das vitórias da direita e da extrema-direita que conduziu ao voto útil, a forma como outros fatores se alinharam em desfavor dos resultados da esquerda parlamentar com a posição do Presidente da República ou com o artificialismo das sondagens”, justificou.

Para o fundador do partido, o BE “não poderia ter feito outra coisa depois das eleições de 2019”, uma vez que nesse ano o PS “não quis fazer nenhum acordo programático e basicamente encostou o Bloco de Esquerda à parede”, que ficou sem qualquer “capacidade de alterar o que quer que fosse da política governativa” e apenas com simulacros de negociações.

O caminho seguido desde então, na opinião de Fazenda, foi o certo, recusando qualquer vitimização do partido.

“Já provámos que subimos e descemos com relativa facilidade no mapa eleitoral. Isso mostra que não há nenhuma alergia do eleitorado de esquerda em relação ao Bloco e por isso nós vamos provar a consistência a capacidade e a atualidade de muitas das nossas propostas”, assegurou.

Para o bloquista, apesar de haver sempre aspetos que “poderiam ter sido melhorados”, a campanha destas legislativas “foi competente”, tal como tinha sido o grupo parlamentar que agora ficou agora reduzido a cinco deputados.

“Nós não podíamos dar orçamentos de borla sem que houvesse alguma evolução na política do Partido Socialista para aqueles que na nossa ótica são os beneficiários diretos da política – os utentes dos serviços públicos, os trabalhadores, as camadas desfavorecidas -, mas também ao mesmo tempo não podíamos ter uma política de terra queimada. Política de terra queimada ter-nos-ia levado então ao grupúsculo”, defendeu.

Sobre a eventual abertura do PS ao diálogo apesar da maioria absoluta que conseguiram, Luís Fazenda antecipou que irá haver conversas entre bloquistas e socialistas sobre “a eutanásia e o concluir desse processo legislativo”, afirmando que gostaria de ver o PS “a regressar aos debates quinzenais”.

“Agora certamente estamos na oposição e estamos na rua. Estaremos cada vez mais na rua”, antecipou.