Rob Stringer, 54 anos, é o CEO de uma empresa centenária. A Columbia Records, que hoje faz parte do grupo Sony, tem 130 anos de existência, foi editora de nomes maiores da música como Bruce Springsteen e David Bowie. E, no ano passado, Stringer garantiu que renovava contrato com duas das suas estrelas: Adele e Beyoncé, precisamente. A noite de ontem, se provas adicionais fossem precisas, deixou claro o bom negócio que fez: Adele levou para casa cinco prémios, entre os quais os três mais importantes, e Beyoncé, esteve longe de ser uma grande vencida, com dois prémios ganhos e com um discurso totalmente dedicado por parte da vencedora. Ou seja, é o que se chama uma noite de sonho para a empresa que edita ambas.
‘Blackstar’, o álbum de David Bowie lançado dois dias antes da sua morte em janeiro de 2016, também ganhou todos os cinco prémios para que estava nomeado, tornando-se o único que deu efetivamente a distinção ao músico ainda que a título póstumo, já que até ontem os dois Grammy que lhe tinham sido atribuídos referiam-se a videoclipe (1985) e à carreira (2006). E também aqui, a editora é a Columbia Records.
Para Stringer, o sucesso das duas cantoras pode também representar o seu próprio sucesso como executivo. O seu nome é apontado para suceder, em abril, a Doug Morris à frente da Sony Music, a segunda maior editora do mundo. Ser CEO de uma editora de música é hoje um desafio quase tão grande quanto estar à frente de um jornal centenário: a música a par com os media estão entre os setores que mais mudanças sofreram em virtude das plataformas digitais e nomes como o de Adele e Beyoncé são fundamentais para o negócio dito tradicional (CDs e hoje também iTunes, na compra por download) versus o negócio crescente do streaming.
Em 2015, “25’’, o álbum de Adele bateu recorde de vendas numa só semana e foi o mais vendido de 2016. ‘Lemonade” de Beyoncé ficou em quarto lugar na mesma lista.
A “guerra” entre os modelos tradicionais e as novas plataformas, nomeadamente as de streaming, não é apenas das editoras mas também dos músicos (senão principalmente, sobretudo dos que fazem números menos redondos). A maior parte dos nomeados para os Grammy tem hesitado sobre a presença em streaming, procurando em alguns casos potenciar as vendas de CDs e os downloads por se recusarem a disponibilizar as músicas em sites como Spotify ou Apple Music. Foi o caso de Adele e de Beyoncé, que inicialmente declinaram essas propostas - o álbum ‘Lemonade’ ainda não está no Spotify e na Apple Music, apenas no Tidal, serviço idêntico que é detido pelo marido de Beyoncé, Jay-Z.
A própria configuração dos prémios Grammy também reflete como a indústria da música está a mudar. Pelo primeiro ano foram nomeados músicos para a categoria de edição apenas em streaming, Chance the Rapper ganhou três prémios nesta categoria incluindo melhor álbum de rap e melhor artista revelação pelo seu trabalho “Coloring Book”, lançado em exclusivo na Apple Music por algumas semanas antes de chegar a todas as plataformas e sem nenhuma editora envolvida.
Comentários