O MEO Rip Curl Pro Portugal, em Peniche, etapa do Circuito Mundial de Surf e o Tudor Nazaré Big Wave Challenge, evento de ondas grandes na Praia do Norte, ambos organizados pela Liga Mundial de Surf (World Surf League) geraram em 2024, no acumulado, 23 milhões de euros em volume de negócios, cabendo o grosso da fatia (20 milhões) à prova do Championship Tour (CT), em Supertubos, 6 a 16 de março.
Os 145 mil espectadores (mostra que junta turistas e residentes), 120 mil, em Peniche, espalhados ao longo dos dias de competição, de 6 a 16 de março e 25 mil, no Canhão da Nazaré, prova realizada num só dia, a 22 de janeiro, gastaram 14,6 milhões de euros em mercadorias e serviços. Daí resultou, no total, 6,9 milhões de receita fiscal arrecadada pelo Estado português, sendo Peniche o maior contribuinte (6 milhões).
Estas são algumas das conclusões do “Estudo de impacto socioeconómico WSL em Portugal” apresentado nas Caldas da Rainha, no Oeste CIM. Elaborado pelo ISEG, Lisbon School of Economics & Management, serviu de tese de mestrado de Diogo Melo, aluno do ISEG, mas não contemplou, nesta fase preliminar, o EDP Ericeira Pro, etapa do Challenger Series, circuito secundário da WSL, realizado em outubro.
Na discriminação dos eventos, em Supertubos, Peniche, 3.ª etapa do CT, realizada em outubro e que deu a vitória a Johanne Defay e Griffin Colapinto, estima-se que os 120 mil espectadores (turistas e residentes) gastaram mais de 13 milhões de euros em consumo local de mercadorias e serviços durante a passagem pela baía piscatória, sendo que a maior fatia dos gastos coube ao alojamento (4,5 milhões). A taxa de ocupação da rede hoteleira atingiu os 95%.
No que diz respeito ao evento de ondas grandes, os 25 mil espectadores que assistiram à vitória de Luca Chianca (individual e em equipa com Pedro Scooby) e Maya Gabeira, deixaram num só dia 1,6 milhões de euros na Nazaré, e foram responsáveis por uma taxa de ocupação de camas de 75%. Aqui, o transporte foi o maior sorvedouro de gastos, 671,333 mil euros.
Estrangeiros deixam 7 milhões em duas praias
Portugal recebe eventos de surf da WSL desde 2009, circuito mundial (CT) ou de qualificação (CS) e é hoje o terceiro destino mundial mais procurado (em motores de busca) para a prática do surf e número um a nível europeu.
De acordo com o documento apresentado nas Caldas da Rainha, e que contou com a presença de Francisco Spínola, diretor-geral da World Surf League para a Europa, África e Médio Oriente e do secretário de Estado do Turismo, Pedro Machado, Supertubos já recebeu 1,4 milhões de amantes do surf desde 2009. O Canhão da Nazaré teve a visita de 150 mil, desde 2017.
Entre o perfil de visitantes (idades entre 18 e 44 anos, 94% com estudos académicos), o “Estudo de impacto socioeconómico WSL em Portugal” faz a separação entre os locais (portugueses ou a residir em Portugal) e estrangeiros.
E 36,5% dos que se deslocam à etapa de Peniche são externos às fronteiras portuguesas. Desses, a maior fatia (40%) é oriunda do Brasil, seguida da Alemanha (cerca de 12%), principais mercados. Na Nazaré, 69,5% de quem ali se desloca para assistir ao campeonato de ondas grandes não mora em Portugal, com destaque para o Brasil (22%) e Estados Unidos da América (cerca de 17%).
Nos dois eventos, a legião estrangeira gastou 7 milhões de euros em mercadorias e serviços o que representa quase metade do total (14,6 M€) dos gastos efetuados. De Peniche saíram 6 milhões da carteira de quem comprou bilhete para visitar Portugal.
O estudo atesta ainda que a organização gastou 4,3 milhões de euros em divididos entre prémios, event management, transmissão tv e web, alojamento e transporte, entre outros. Peniche, por razões da duração da prova, é o maior contribuinte (3,5 milhões).
A surpresa Nazaré e os números que crescem na data de maior sazonalidade
À margem da apresentação do “Estudo de impacto socioeconómico WSL em Portugal”, Diogo Melo, autor, deixou no ar a vontade de o “alargar, não só aos maiores (Peniche e Nazaré), mas a todos os eventos WSL em Portugal e, talvez, tudo o que envolva surf”, referiu em conversa com jornalistas.
Na leitura dos dados, assumiu ter sido apanhado de surpresa pelos resultados dos eventos, em especial o de ondas grandes na Nazaré. “Surpreendeu-me por ser um único dia, nunca esperei que gerasse uma receita tão grande”.
A esse facto, não será alheio o grosso de presença de estrangeiros. “No relatório final, apresentado no final do ano, veremos a divisão da despesa média de estrangeiros e portugueses”, adiantou, sem apontar valores, que deverão rondar os 30%.
Francisco Spínola, diretor-geral da World Surf League para a Europa, África e Médio Oriente destaca a mudança “drástica” do evento de Peniche de “outubro para março”, onde enfrenta “uma época ainda mais sazonal”, começou por dizer aos jornalistas.
Nesse sentido, acredita que “se mudássemos a prova para outubro, o número estaria a explodir”, exclamou “eventualmente, para o dobro”.
Para além do estudo agora apresentado, Spínola defende a realização de uma análise mais alargada que contemplasse “o que o surf representa para a economia e turismo nacional”, acrescentou. “Os números apresentados são impressionantes, mas são 11 dias”, realçou, abrindo espaço para uma leitura e impacto em relação ao ano inteiro.
“O que me surpreende foi no último estudo feito (2015), com dados recolhidos em outubro, e este foi de dados referente a março, a forma como o crescimento, pessoas e consumos, hotelaria, numa altura ainda mais sazonal, ou seja, ainda no inverno”, salientou.
Aproveitando o embalo, o diretor EMEA da Liga Mundial recordou “a parte qualitativa que não está contemplado, o posicionamento que o surf traz para o país enquanto destino”, tema já trazido para a discussão por Lídia Monteiro, do Turismo de Portugal, e que obriga a outra leitura e outro estudo.
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