São um casal e começaram a produzir sapatos, na sua startup Skizo, a partir de plástico recolhido dos oceanos.
Como se chamam e o que faziam antes de serem empreendedores? Somos a Andreia Coutinho e André Facote. A Andreia era jornalista, licenciada em Ciências da Comunicação e da Cultura, e o André é da área de gestão. Há mais de 10 anos que somos empreendedores e tivemos uma pequena empresa na área de gestão de património, sem qualquer impacto ambiental e social, daí a nossa frustração e o querermos fazer mais enquanto empreendedores.
Como é que a vossa startup vai mudar o mundo? A nossa startup está já a mudar o mundo em vários sentidos. A nível empresarial pertencemos ao “novo” conceito de um negócio sustentável, tanto pela forma como atuamos, como produzimos, pelo impacto ambiental e social e também porque somos sustentáveis economicamente. Apesar de sermos igualmente uma causa, não quer dizer que não sejamos economicamente sustentáveis, pelo contrário. Somos a prova de que é um estigma que cada vez mais teremos de derrubar. Somos uma causa e somos uma marca que vende produtos também. Estamos a mudar também a mentalidade, neste caso, da indústria, no sentido em que só produzimos por demanda, uma vez que o facto de termos stock, principalmente na área do calçado, seria completamente o oposto dos valores que defendemos, o slow fashion, o comprar em consciência, o gasto de recursos só quando estritamente necessário. Cada vez mais as marcas são feitas de pessoas e o consumidor gosta de criar empatia com quem está por trás da marca para além do produto. E por isso também queremos marcar a diferença e sermos nós a cara da Skizo, queremos que conheçam a nossa história e saibam as caras por trás do projeto. E, por fim, vamos mudar o mundo pela forma como iniciámos a nossa startup, querendo solucionar um problema: o lixo no oceano com a poluição no oceano. E posteriormente, saber o que fazer com esse lixo, a transformação num produto, dando assim vida ao que seria lixo.
Já pagam o vosso próprio salário? Sim, já pagamos o nosso salário. O facto de sermos já empreendedores há alguns anos permitiu-nos ter a tal resiliência tão necessária para se ser empreendedor, por isso o nosso objetivo sempre foi ter um crescimento lento e sustentável. Tudo foi pensado ao detalhe, preferimos investir na inovação do nosso produto para lhe conferir o máximo de qualidade do que investir por exemplo em variadíssimos produtos, vários designs e estar em lojas físicas.
Quantas horas trabalham por dia? [Risos] É muito difícil gerir e até mesmo responder sobre a quantidade de horas que trabalhamos. Uns dias mais, outros dias menos. Mas a facilidade de podermos trabalhar em qualquer lado e a qualquer hora via telemóvel ou computador também dificulta o facto de assumirmos um horário. Claro que tentamos ao máximo, sempre que podemos, ter um horário “normal”, trabalhar menos horas e mais produtivamente. Somos um casal e temos um filho, e o tempo é precioso. Mas quando trabalhamos com paixão o trabalho é muitas das vezes mascarado com lazer e vice-versa, o que às vezes é bom outras vezes é muito difícil e requer muita compreensão de quem convive connosco.
O que deixaram de fazer para serem empreendedores de sucesso? O que deixamos de fazer… Não nos podemos dar ao luxo de ficar sem rede de telemóvel e de internet muito tempo [risos]. Outro fator são as férias, nunca são férias totais, o telemóvel e o computador vêm sempre connosco obrigatoriamente.
O que passaram a fazer para serem empreendedores de sucesso? Ser empreendedor é também não nos contentarmos com um ordenado fixo, num escritório, com tarefas, com horário, no mesmo local. Por outro lado, também não sabemos como será o futuro, sabemos o que queremos mas nem sempre depende de nós e esta pandemia veio mostrar-nos isso. Portanto passámos a trabalhar sempre com um olhar no futuro, querendo fazer mais. O futuro é sempre incerto e temos de estar sempre em constante evolução. Passámos a ter de estar em constante formação e workshops, estudarmos sobre tudo o que nos envolve, aprendermos, rodearmo-nos de pessoas que nos acrescentam, de pessoas que nos inspiram para sermos melhores.
Ter uma startup está na moda ou o mundo está mesmo a mudar? Eu acho que é precisamente porque o mundo está a mudar que ter uma startup está na moda. E ainda bem! Cada vez mais os jovens não se contentam ao estudar e ter um emprego. Estamos a entrar numa geração em que os pais já incentivam, e algumas escolas também, à criatividade dos jovens e a darem importância ao lado empreendedor de cada um de nós. Contudo ainda é muito difícil criar e fazer crescer uma startup sem uma estrutura familiar que ajude ou sem ter alguns skills profissionais e mesmo características inatas.
Se fossem patrões de uma grande empresa, o que diriam a vocês próprios para se convencerem a trabalhar nessa empresa em vez de ir para uma startup? Se fossemos patrões de uma grande empresa, diríamos que seria uma loucura irmos trabalhar para uma startup [risos]. Uma grande empresa já tem um nome que vende por si só um produto ou um serviço, vê as “portas” abrirem-se muito mais facilmente, tem empregados e uma estrutura que permite ter pessoas responsáveis por uma área apenas, tem ordenado fixo, mais subsidio de férias, de natal e de refeição, talvez até um ótimo seguro de saúde para si e para a família.
Quem são os vossos ídolos dos negócios ou da tecnologia? O ídolo do André é o Daymond John, pois transformou uma simples linha de roupa numa das marcas mais bem-sucedidas do mundo. Já o ídolo da Andreia é Sara Blakely, a bilionária feminina mais jovem do mundo, que, inspirando-se também em Oprah Winfrey, diz que o sermos autênticos é uma das chaves do sucesso a par do poder de ajudar os outros. A Sara tem um programa que realça jovens empresárias femininas de forma a ajudá-las a ter projeção e ser reconhecidas a troco de nada
São vegans, fazem meditação ou apenas veem televisão e passeiam o cão ao fim do dia? Não somos vegans, acreditamos num equilíbrio total, mantendo uma alimentação cuidada principalmente desde que fomos pais. A nível de hábitos, também aqui há um equilíbrio inato entre os dois: o André gosta de ler e de ouvir testemunhos inspiradores no mundo do empreendedorismo, a Andreia é mais sensível e adepta de meditação, de energias, e de alguns rituais que ajudam a limpar a mente e a energizar o corpo.
Numa só frase, o que diriam - mesmo - num elevador para convencer alguém a investir na vossa empresa? Num elevador, mesmo que se subisse apenas meia dúzia de andares, diríamos que somos os pioneiros de uma grande mudança no empreendedorismo, pois aliamos o impacto social ao ambiental e mesmo assim não deixamos de ser uma marca sustentável economicamente, com uma tecnologia nunca antes vista e que permite escalar em gigantescas proporções a nível global. Para além disso, como um bom investidor investe em pessoas e não em negócios, nós conseguimos ao longo deste ano e meio de Skizo comprovar que conjugamos as valências certas para sermos empreendedores de sucesso de uma marca, com certeza, de muito sucesso.
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