Quando esta quarta-feira terminar, Portugal somará mais dias após a Revolução de 25 de Abril de 1974 que os dias que durou a ditadura. Com mais um dia de democracia que de regime ditatorial, as comemorações — parte já da celebração de 50 anos de liberdade —, começam ainda na véspera.
As comemorações dos 50 anos do 25 de Abril de 1974 começam assim com uma sessão solene, em Lisboa, em que serão condecorados militares da “revolução dos cravos” e na quinta-feira evoca-se a crise académica de 1962.
Hoje, pelas 17:00, no Pátio da Galé, em Lisboa, haverá uma sessão solene que tem como primeiro momento a condecoração de militares de Abril pelo presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. As três principais figuras institucionais, o presidente da República, o presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, e o primeiro-ministro, António Costa, farão a seguir intervenções.
“Não é muito comum momentos de intervenção pelos três, o que dá conta da solenidade e importância do momento”, acentuou numa entrevista à agência Lusa o presidente da comissão executiva das comemorações, Pedro Adão e Silva.
Recorde-se, também, que após esta participação, é esperado que António Costa volte a encontrar-se com Marcelo Rebelo de Sousa para lhe apresentar o elenco do próximo governo. O ainda primeiro-ministro será recebido pelo presidente da República, em Belém, a quem apresenta a lista do novo governo que deverá chefiar.
Para além da componente solene e institucional, a cerimónia terá também outros momentos, designadamente dirigidos à juventude. O compositor Bruno Pernadas escreveu uma música original para funcionar como hino dos 50 anos de democracia, e esse tema será interpretado (tal como aconteceu na gravação) por uma formação da Orquestra Geração — um projeto que tenta levar música erudita a contextos sociais considerados mais difíceis.
Alice Neto de Sousa, jovem poetisa, irá ainda ler um poema original escrito a propósito dos 50 anos de democracia.
Também nesta cerimónia, será encerrada uma cápsula do tempo, contendo um conjunto de objetos e de materiais para serem abertos apenas em 2074, incluindo três cartas escritas por jovens portugueses de hoje, que foram vencedores do concurso de escrita do Plano Nacional de Leitura.
As comemorações dos 50 anos do 25 de Abril vão prolongar-se até dezembro de 2026, quando se assinalar meio século das primeiras eleições autárquicas realizadas em Portugal.
Nas redes sociais, o primeiro-ministro considera que hoje é um dia histórico, assinalando que a democracia nascida em 25 de Abril de 1974 ultrapassa em um dia a longevidade da ditadura resultante do golpe de 28 de maio de 1926.
“Hoje é um dia histórico. Hoje a liberdade ultrapassa os 17.499 dias da ditadura: 17.500 dias em Liberdade”, escreveu António Costa numa mensagem que divulgou na sua conta na rede social Twitter. Nesta mensagem, o primeiro-ministro manifestou “gratidão aos que combateram a ditadura e aos militares de Abril que a derrubaram”. “Confiança nas novas gerações que garantem 25 de Abril sempre”, acrescentou.
Para além da sessão solene, há mais iniciativas a assinalar o marco temporal. Uma instalação de vídeo mapping na fachada do Palácio de São Bento, com o título "+ Democracia", pretende mostrar as principais mudanças que resultaram do fim do regime autoritário e da instituição da Democracia. Começa hoje, às 19:30 e prolonga-se até à 01:00.
Às 21:30, no Campo Pequeno, também em Lisboa, Sérgio Godinho dá um concerto gratuito (já esgotado) onde convida Manuela Azevedo, a voz dos Clã, a rapper Capicua, o cantautor Samuel Úria e os instrumentistas Filipe Raposo e Tó Trips. Integrado no Abril em Lisboa 2022, promovido pela Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural da câmara municipal de Lisboa.
PCP critica o simbolismo da data escolhida
Esta terça-feira, o PCP considerou que iniciar as comemorações do 50.º aniversário do 25 de Abril através de uma data que é um “simbolismo entre a duração do anterior e atual 'regime'” é querer, “disfarçadamente, esvaziar” a revolução.
Num comunicado citado pela agência Lusa, os comunistas insurgiram-se contra o início das comemorações oficiais do 50.º aniversário da Revolução dos Cravos na quarta-feira, 23 de março. No dia seguinte, 24 de março de 2022, o tempo da democracia portuguesa ultrapassa, em um dia, a duração da ditadura.
Para o PCP, “lançar as comemorações oficiais dos 50 anos da Revolução de Abril em 23 de março de 2022, associando essa data a um simbolismo entre a duração do anterior e do atual 'regime'” é procurar, “ainda que disfarçadamente, esvaziar a revolução de 1974 do que ela constitui de profundas transformações democráticas”.
Os comunistas sustentaram que o 25 de Abril “não foi o processo de transição entre 'regimes' a que os seus detratores a quiseram e querem reduzir”, advogando que há uma “permanente tentativa de falsificação do que representou”.
“Quando se salienta que passam já mais anos desde o 25 de Abril de 1974 do que o tempo que durou o regime fascista, assinala-se hoje uma realidade que se contrapõe aos tempos negros do fascismo. Mas importa sublinhar que se a realidade de Portugal hoje continua a ter a marca da Revolução de Abril, de muitas das suas conquistas, que o grande capital não conseguiu destruir, tem também a marca do processo contrarrevolucionário e dos graves problemas que gerou”, defendeu o partido.
Assim, o PCP apelou a “todos os que se identificam com as conquistas, direitos e valores” do 25 de Abril “se associem e participem nas comemorações populares que, um pouco por todo o país, estão em preparação e terão lugar” por ocasião do 48.º aniversário da revolução.
O partido pediu que as comemorações sejam “uma afirmação dos valores” do 25 de Abril e anunciou que “terá a sua intervenção própria nas comemorações sob o lema 'Abril é mais Futuro'”.
Os 48 anos da Revolução dos Cravos, prosseguiu o PCP, são um momento para recordar a luta “pela liberdade e a democracia, contra a ditadura fascista, e, simultaneamente, de exigência de uma política e de um rumo que responda aos problemas do país e às aspirações” da população.
“A Revolução de Abril foi uma revolução libertadora, com profundas transformações na vida nacional traduzidas em inapagáveis avanços e conquistas que hoje perduram como valores e referências para a construção de um Portugal democrático, desenvolvido e soberano”, completaram os comunistas.
*Com Lusa
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