A 8 de agosto, em Mora, Alentejo, chegava-se aos 44.8 graus. A onda de calor durou entre os dias 5 e 13 e fez do “querido mês de agosto” aquele em que o valor da temperatura máxima foi o mais elevado desde 1931. O mesmo já tinha acontecido em julho e junho foi também dos mais quentes, segundo dados do Instituto Português do mar e da Atmosfera (IPMA).
Com uma primavera classificada pelo IPMA como fria e extremamente chuvosa e um outono sem anormalidades, de acordo com a climatologista Fátima Espírito Santo, o ano passaria à história não fossem as temperaturas muito elevadas no inverno e anormalmente elevadas do verão.
Num balanço à Agência Lusa a especialista do IPMA classificou este outono como quente (temperatura máxima muito alta) e admitiu que o 2016 foi um ano quente, sobretudo por causa das temperaturas máximas. Ainda assim serão, diz, “valores dentro da variabilidade climática”, ainda que haja uma tendência para uma subida.
Os números não enganam: o verão de 2016 foi em Portugal continental o segundo mais quente desde 1931, só superado pelo de 2005, com o valor da temperatura média nos 23.03 graus, cerca de 1.76 graus acima do valor médio.
“Desde 1931, seis dos 10 verões mais quentes ocorreram depois do ano 2000, sendo o verão de 2005 o mais quente em 86 anos. No verão de 2016 o valor médio da temperatura máxima do ar foi o valor mais alto desde 1931, 30.57ºC, 2.94 °C acima do valor médio”, diz o IPMA.
Mas a Organização Meteorológica Mundial (OMM) diz mais: 2016 poderá ser o ano mais quente de que há registo, segundo o secretário-geral da organização, Petteri Taalas.
Dados da NASA indicam que agosto foi o mês mais quente, na terra e nos mares, de que há registo, ou seja desde há 137 anos.
Mas, pior, os recordes de calor estão a ser batidos há 16 meses consecutivos (cada mês é mais quente do que o mês homólogo mais quente), o que nunca tinha acontecido, segundo a Agência Oceânica e da Atmosfera (NOAA) dos Estados Unidos.
Diz a NOAA que nos oito primeiros meses deste ano a temperatura à superfície dos oceanos foi de 14.1 graus celsius, mais 1,01 do que a média do século XX.
As notícias sobre recordes de resto acontecem consecutivamente. Setembro foi também o mais quente de sempre, segundo o Centro Goddard, da NASA, que já dito que maio tinha batido recordes, que junho também, que fenómenos de calor chegaram da Gronelândia (segundo estudos perdeu 2.700 mil milhões de toneladas de gelo entre 2003 e 2013), Finlândia ou Austrália, onde o primeiro semestre foi o mais quente de sempre.
Gavin Schmidt, do Centro Goddard, admite que 2017 possa ser menos quente, com o fim do el Nino (aumento da temperatura do oceano Pacífico) e o aparecimento de uma corrente fria do Pacífico, (La Nina, fenómeno oposto). Mas o ano que agora termina encaminha-se para bater um novo recorde de calor, que será o terceiro consecutivo (mais quente do que 2015, que fora mais quente do que 2014).
Porém, nota também o climatologista, o aumento da temperatura apenas se deve em parte a fenómenos como o el Nino, sendo especialmente devido à acumulação de gases com efeito de estufa, este ano com novos recordes de emissões.
E 2016 ficará também na história por isso. No verão boreal a superfície de gelo no Ártico alcançou extensões mínimas e a temperatura aumenta a um ritmo sem precedentes, segundo a Organização Mundial de Meteorologia.
Fátima Espírito Santo frisa a necessidade de reduzir a emissão de gases com efeito de estufa, mas diz que mesmo que hipoteticamente elas parassem na totalidade até final do ano o aumento das temperaturas não deixaria de acontecer de imediato.
E se o assunto deve preocupar todos os cidadãos a especialista é, ainda assim, otimista: a natureza saberá equilibrar-se.
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