A pandemia da covid-19 fez com que o verão de 2020 tenha decorrido sem os habituais festivais de música, com a Associação Portuguesa de Festivais de Música (Aporfest) a estimar uma perda de cerca de 1,6 mil milhões de euros, contra os dois mil milhões originados em 2019.
Este ano, alguns realizaram-se, mas sobretudo de pequena dimensão e em moldes bastante diferentes do habitual, com exceção do Iminente, que aconteceu já ‘fora de época’, no início de outubro, em Lisboa.
Para 2022, foi anunciado o regresso de grandes festivais de verão, como NOS Primavera Sound, Rock in Rio, NOS Alive, Marés Vivas, Super Bock Super Rock, Músicas no Mundo, Sudoeste, Boom E Paredes de Coura. Mas há também estreias, como o Rolling Loud e o Kalorama.
Segundo o presidente da Associação de Promotores de Espectáculos, Festivais e Eventos (APEFE), Álvaro Covões, em declarações à Lusa, “todos os grandes festivais estão a trabalhar no sentido de acontecerem em 2022”.
“A nossa perspetiva não é a mesma que em 2020 [em relação a 2021], em que estávamos dependentes da vacinação. A nossa perspetiva é trabalhar, que os festivais aconteçam em 2022”, afirmou.
O presidente da Aporfest, Ricardo Bramão concorda: “Não temos dúvidas que se irão realizar, a grande maioria”.
“Os promotores cada vez mais têm planos B, planos C, mas terão de ter muito mais ginástica porque o público em geral vai comprar bilhete à última da hora, com a certeza de que o festival se realiza e de que ele, ou alguém da sua família, não está em isolamento”, referiu.
A expectativa da Associação Espetáculo – Agentes e Produtores Portugueses (AEAPP) também é que, no próximo ano, os grandes eventos “decorram com toda a normalidade”.
“Não acreditamos que em 2022 haja qualquer razão para os eventos de grande dimensão não acontecerem, e não acontecerem com medidas mais relaxadas do que as que neste momento estão definidas”, defendeu Rafaela Ribas.
Alertou, no entanto, que “o que até agora impediu as coisas de funcionarem de uma forma mais célere e os eventos até de acontecerem, foi uma falta de comunicação clara e atempada daquilo que são eventuais limitações ou eventuais cuidados a ter”.
Ricardo Bramão concorda e recorda que “este setor se adapta rapidamente perante o que lhe é direcionado”, pede, “por parte das autoridades, uma maior certeza a longo prazo”.
“Pedimos uma previsibilidade do que pode ocorrer, e dos cenários, até final de 2022”, adiantou.
Karla Campos, da promotora Live Experiences, que no ano passado se viu impossibilitada de realizar em julho o EDP Cool Jazz, em Cascais, acabou por criar “de propósito para a pandemia” o Música no Parque, com um cartaz 100% nacional, que contou com apoio do programa Garantir Cultura.
“Em cada medida do Governo para controlo da pandemia, temos arranjado forma de conseguirmos continuar a trabalhar. As pessoas são super respeitadoras das regras e nesta área não tem havido nenhum foco de infeção”, disse, sublinhando que “a Cultura é segura”.
Em 2022, Karla Campos acredita que “de uma maneira ou de outra as coisas vão acontecer”.
“Obviamente tendo sempre em conta o que estiver na altura a decorrer em termos de controlo e restrições da pandemia, mas vamo-nos adequando”, afirmou.
Embora este ano tenham acontecido espetáculos e até alguns festivais, mas de menor dimensão, muitos dos quais com o apoio do programa Garantir Cultura, ainda não é possível falar-se em retoma.
Mas em 2022, acredita Álvaro Covões, “vai ouvir-se falar, porque neste setor este ano a quebra de volume de negócios foi superior à quebra de 2020”.
“Pior que isto é impossível. A quebra para promotores de espetáculos foi superior a 78% em 2020 e este ano muitos estão acima dos 90%, quando comparados com 2019”, afirmou, sublinhando que o setor dos espetáculos está “a viver uma situação muito complicada do ponto de vista económico”, e defendendo que “tem de haver ajudas para os setores prejudicados”.
Também para agentes e artistas, segundo Rafaela Ribas, mesmo que os eventos aconteçam, “a parte económica da atividade vai continuar muito afetada”.
“Primeiro, porque uma grande parte dos eventos já vêm adiados desde 2020. Então, não haverá muitos ‘slots’ para marcação de novos espetáculos. Segundo, raramente os artistas e bandas estão todos a fazer digressões ao mesmo tempo, mas muito provavelmente em 2022 vão estar todos a querer tocar ao mesmo tempo e isso vai criar muito mais dificuldades”, explicou.
Para Rafela Ribas, “poderá começar a falar-se em retoma, para artistas, agentes e promotores, a partir de junho/julho do ano que vem”.
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