No total, são 924 azulejos que compõem o mural que fica a partir de hoje inscrito numa parede da Calçada do Carmo, em Lisboa, e que junta traços de artistas reputados, como Vhils ou a ‘rapper’ Capicua, aos de crianças, idosos, militantes ou não militantes do partido.
Dos mais amadores aos mais profissionais, mais novos a mais graúdos, cada um dos azulejos pretende participar no mesmo objetivo: celebrar a Revolução de 25 de Abril de 1974, no ano em que se assinalam os seus 50 anos, e pedir que se cumpra a Constituição da República de 1976.
“Este mural representa a vontade de uma construção coletiva. É talvez uma metáfora do que foi o 25 de Abril: uma revolução construída a custo, com suor, lágrimas, muita emoção, muita criatividade e foi essa revolução, esse caminho, que depois se exprimiu em concreto na Constituição da República portuguesa”, afirmou aos jornalistas o secretário-geral do PCP na cerimónia de inauguração deste mural, à qual assistiram centenas de militantes do partido.
Com imagens de Salgueiro Maia, alusões à reforma agrária e azulejos referentes a artigos da Constituição, entre outros, este mural começou a ser desenvolvido em setembro de 2023, na Festa do Avante!, no âmbito do projeto “Cumprir”, e culminará ainda noutro mural que irá ficar patente nas ruas do Porto, perto da Estação Trindade.
Paulo Raimundo salientou que, à semelhança do mural, também a Constituição da República de 1976 “foi a aplicação institucional de múltiplos mosaicos moldados e pintados a partir da luta dos trabalhadores e do povo, mosaicos que ergueram os alicerces do caminho que Abril abriu”.
“E assim estamos todos, pessoas de várias origens, de várias idades, de várias ocupações, a manusearem, a folhearem, a lerem, a viverem e a pintarem a lei fundamental do nosso país”, disse o secretário-geral do PCP, frisando que o mural foi construído por “924 pessoas juntas, todas elas protagonistas e tratadas por igual”.
“Aqui estamos todos ao mesmo nível. O azulejo do Vhils está ao mesmo nível do azulejo do morador do bairro PER 11”, exemplificou, salientando que a iniciativa é “profundamente política”, mas é também um “contributo para o património” da cidade de Lisboa.
Esta mesma mensagem foi também transmitida pelo vereador do PCP na Câmara Municipal de Lisboa, João Ferreira, que referiu que o mural “será certamente uma das mais impressivas e perenes marcas que Lisboa guardará” dos 50 anos do 25 de Abril de 1974.
“Talvez as paredes não tenham ouvidos como alguns dizem, mas que falam, falam, e esta parede fará ressoar pelas ruas de Lisboa a mensagem mais importante que aqui nos traz: cumprir”, disse, salientando que a cidade de Lisboa é ela própria “espelho do muito que há por cumprir de Abril”.
Já o diretor artístico do projeto, Miguel Januário, recordou o desenvolvimento do mural, salientando que o objetivo foi fazer com que a “comunidade e as pessoas, a par e par com os artistas, pudessem pensar, discutir e inscrever Abril nas nossas cidades”.
“Foi bonito ver as pessoas a construírem estes tijolos, estes azulejos, para criar esse cumprimento [de Abril]. E o cumprir está nas pessoas que, por exemplo, iam para as oficinas e nós tínhamos sempre Constituições pousadas nas mesas para as pessoas consultarem (…), pensarem e ajudar a refletir no que escrever no azulejo e, no fim das oficinas, faltavam sempre algumas constituições. As pessoas levavam-nas para casa, o que foi bonito de se ver”, disse.
A poucos metros da Estação do Rossio, em plena baixa lisboeta, Miguel Januário salientou que tanto o mural hoje inaugurado como o que irá para o Porto ficarão simbolicamente perto de estações ferroviárias.
“Estamos ainda a muitas estações de chegar àquilo que Abril nos trouxe”, disse o diretor artístico do projeto, que agradeceu às centenas de pessoas que se disponibilizaram para deixar a sua marca no mural, algumas das quais, no final da cerimónia, procuravam identificar o seu azulejo entre as centenas com as cores de Abril.
*por Tiago Almeida, da agência Lusa.
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