Segundo explicou David Wachenfeld, um dos cientistas do Parque Marinho da Grande Barreira de Coral, ao Guardian Australia, o aquecimento global faz com que o risco de branqueamento de corais continue, mesmo num verão influenciado pelo fenómeno climático La Niña.
Este fenómeno climático é o oposto do El Niño e consiste da diminuição da temperatura da superfície da águas. No entanto, segundo noticia o The Guardian, os especialistas avisam que o fenómeno pode não ser suficiente para impedir outro branqueamento em massa de corais no próximo Verão.
A cor é uma das características mais belas dos recifes de coral e também uma forma de sabermos se estão saudáveis. As algas unicelulares que vivem nos corais são responsáveis pela sua cor, mas quando as águas aquecem, estas algas deixam de fazer fotossíntese. Como consequência, os corais acabam por expulsá-las, perdendo a sua cor e também a sua vida, devido à ausência dos nutrientes que as algas forneciam, ficando visível apenas o esqueleto de calcário branco.
O fenómeno pode ocorrer também quando poluentes ou o excesso de luz solar levam os corais a expelirem águas simbióticas do seu tecido.
Esta quinta-feira foram reveladas as perspetivas deste verão para o maior sistema de recifes de coral do mundo, que foi atingido por três eventos de branqueamento em massa nos últimos cinco anos.
Os modelos da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (Noaa) do governo dos EUA e do Gabinete de Meteorologia da Austrália apontam que dezembro e que janeiro provavelmente enfrentarão temperaturas do oceano superiores em mais 1º C do que a média.
"Não há uma previsão de um evento de branqueamento em massa, mas é certamente possível e tudo depende do que tomarmos como sendo um evento La Niña típico", disse Wachenfeld, citada pela publicação.
Em setembro, o Gabinete de Meteorologia declarou um La Niña e, no início desta semana, disse que o evento, provavelmente, iria durar até janeiro de 2021.
"O mundo inteiro está um grau mais quente, por isso não podemos simplesmente relaxar e dizer que é um La Niña e, por isso, não haverá ondas de calor. O mundo já não é assim tão simples", acrescentou.
Cerca de 90% do calor extra proveniente do aumento dos níveis de gases causadores do efeito de estufa – que se deve, na maioria, à queima de combustíveis fósseis e à desflorestação – está a ser absorvido pelos oceanos, elevando a sua temperatura.
A autoridade anunciou a descoberta a partir de resultados de um workshop científico realizado, na quarta-feira, com mais de 40 gestores de parques marinhos, cientistas, peritos e representantes da indústria de corais.
Wachenfeld afirmou que La Niña traria, por norma, mais nuvens, mais chuvas e mais ciclones, o que pode ajudar a arrefecer as águas da Grande Barreira de Coral.
"O recife é cerca de 0,8º C mais quente do que era há cerca de 100 anos e muitas das mudanças aconteceram muito recentemente. Há dez anos atrás, eu teria dito que durante um La Niña não poderíamos ter um evento de branqueamento”, continua a especialista.
Para Wachenfeld, o recife de coral encontra-se numa posição precária, principalmente, devido às alterações climáticas, e o facto de o mundo ser “um pouco mais quente” significa que há uma “enorme quantidade de energia térmica”, o que gera “um elevado risco de condições meteorológicas extremas em muitos dos ecossistemas do mundo". Salientou ainda a necessidade de ação global urgente para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa.
William Skirving, cientista do Noaa's Coral Reef Watch, apresentou o modelo da agência de provável stress térmico sobre o recife nos próximos meses, que sugere que poderá haver stress térmico generalizado em todo o recife “suficiente para branquear os corais, mas provavelmente não o suficiente para matar".
O Gabinete de Meteorologia afirmou que existe 67% de probabilidade de haver mais do que a média de quatro ciclones ao largo do leste da Austrália este Verão.
Skirving explicou ainda que o período de stress pode dever-se ao calor, se não houver ciclones, ou devido a um excesso de precipitação
O ciclone, embora possa ajudar a manter as águas frias e proteger os corais do stress térmico, também pode causar danos físicos nos recifes, a chuva pode arrefecer o recife e as inundações em terra também podem causar poluição extra para as águas do recife.
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